O Homem na Lua caiu rolando,
E perguntou o caminho para Norwich;
Foi pelo sul e queimou a boca
Ao comer mingau de ervilhas frio!
O quê! Você nunca ouviu a história do Homem na Lua? Então preciso contá-la, pois é muito divertida, e não há uma palavra de verdade nela.
O Homem na Lua se sentia bastante solitário e, muitas vezes, espiava pela borda da lua para olhar a Terra, invejando todas as pessoas que viviam juntas. Ele pensava que devia ser muito mais agradável ter companhia para conversar do que estar preso sozinho em um grande planeta, onde precisava assobiar para se fazer companhia.
Um dia, ele olhou para baixo e viu um vereador subindo pelo ar em sua direção. Esse vereador estava sendo traduzido (em vez de transportado, devido a um erro de impressão na lei), e, ao se aproximar, o Homem na Lua chamou por ele e perguntou:
— Como estão as coisas aí na Terra?
— Tudo é maravilhoso — respondeu o vereador — e eu não sairia de lá se não fosse obrigado.
— Qual é um bom lugar para visitar lá embaixo? — perguntou o Homem na Lua.
— Ah, Norwich é um lugar muito bom — respondeu o vereador — e é famoso por seu mingau de ervilhas!
E então ele desapareceu de vista, deixando o Homem na Lua refletindo sobre o que havia ouvido.
As palavras do vereador o deixaram mais ansioso do que nunca para visitar a Terra. Então, ele caminhou pensativo até sua casa, colocou alguns pedaços de gelo no fogão para se aquecer e sentou-se para pensar em como faria a viagem.
Veja bem, tudo funcionava ao contrário na Lua. Quando o Homem queria se aquecer, ele quebrava alguns pedaços de gelo e os colocava no fogão. Ele resfriava sua água de beber jogando brasas ardentes dentro da jarra. Da mesma forma, quando sentia frio, tirava o chapéu, o casaco e até os sapatos, o que o aquecia. Já nos dias quentes de verão, vestia o sobretudo para se refrescar.
Tudo isso pode parecer muito estranho para você, sem dúvida, mas não era nada estranho para o Homem na Lua, pois ele estava acostumado com isso.
Bem, ele se sentou ao lado de seu fogo gelado e pensou sobre sua jornada até a Terra. Por fim, decidiu que a única maneira de chegar lá era deslizando por um raio de luar.
Então, saiu de casa, trancou a porta e colocou a chave no bolso, pois não sabia quanto tempo ficaria fora. Depois, foi até a borda da Lua e começou a procurar um raio de luar forte o suficiente.

Por fim, encontrou um que parecia bem firme e que descia até um lugar agradável na Terra. Assim, ele se pendurou na borda da Lua, segurou-se com força no raio de luar e começou a deslizar. Mas ele percebeu que era muito escorregadio e, apesar de todos os esforços para se segurar, começou a descer cada vez mais rápido. Antes de alcançar a Terra, perdeu o controle, caiu de cabeça para baixo e aterrissou direto em um rio!
A água fria quase o escaldou antes que ele conseguisse nadar para fora, mas, felizmente, ele estava perto da margem e rapidamente conseguiu subir para a terra firme, onde se sentou para recuperar o fôlego.
A essa altura, já era manhã, e à medida que o sol subia, seus raios quentes o resfriaram um pouco. Ele começou a olhar ao redor, curioso com todas as coisas estranhas que via, tentando descobrir onde, na Terra, ele havia caído.
Logo, um fazendeiro apareceu pela estrada ao lado do rio, conduzindo uma carroça cheia de feno puxada por cavalos. Os cavalos pareciam tão estranhos para o Homem na Lua que, a princípio, ele ficou apavorado — afinal, ele só os havia visto da Lua, de onde pareciam muito menores.
Mas ele criou coragem e disse ao fazendeiro:
— Você pode me dizer o caminho para Norwich, senhor?
— Norwich? — repetiu o fazendeiro pensativo. — Não sei exatamente onde fica, senhor, mas é para o sul.
— Obrigado — disse o Homem da Lua.
Mas espere! Não posso mais chamá-lo de Homem da Lua, pois, é claro, ele já não estava mais na lua. Então, simplesmente o chamarei de Homem, e você saberá de quem estou falando.
Bem, o Homem da… quero dizer, o Homem (mas quase me esqueci do que acabei de dizer) virou-se para o sul e começou a caminhar rapidamente pela estrada, pois havia decidido seguir o conselho do vereador e viajar até Norwich para provar a famosa mingau de ervilhas feita lá. E finalmente, depois de uma longa e cansativa jornada, ele chegou à cidade e parou em uma das primeiras casas que encontrou, pois, a essa altura, estava faminto.
Uma mulher de boa aparência atendeu à sua batida na porta, e ele perguntou educadamente:
— Esta é a cidade de Norwich, senhora?
— Certamente, esta é a cidade de Norwich — respondeu a mulher.
— Vim aqui para ver se consigo um pouco de mingau de ervilhas — continuou o Homem —, pois ouvi dizer que vocês fazem a melhor papa do mundo nesta cidade.
— E fazemos mesmo, senhor — respondeu a mulher —, e se entrar, lhe darei uma tigela, pois tenho bastante recém-feita em casa.
Então ele agradeceu e entrou na casa, e ela perguntou:
— O senhor prefere quente ou fria?
— Oh, fria, sem dúvida — respondeu o Homem —, pois detesto qualquer coisa quente para comer.
Logo, ela trouxe uma tigela de mingau de ervilhas fria, e o Homem estava tão faminto que pegou uma grande colherada de uma vez.
Mas assim que colocou na boca, soltou um grande grito e começou a pular freneticamente pelo cômodo, pois, é claro, a papa que era fria para os habitantes da Terra era quente para ele, e aquela enorme colherada de mingau de ervilhas fria havia queimado sua boca até formar uma bolha!
— O que houve? — perguntou a mulher.
— O que houve?! — gritou o Homem. — Ora, sua papa está tão quente que me queimou!
— Bobagem! — respondeu ela. — A papa está bem fria.
— Experimente você mesma! — ele exclamou.
Então ela provou e achou a papa muito fria e agradável. Mas o Homem ficou tão espantado ao vê-la comer algo que havia queimado sua própria boca que ficou assustado e saiu correndo da casa e descendo a rua o mais rápido que pôde.
O policial na primeira esquina o viu correndo e prontamente o prendeu, levando-o ao magistrado para julgamento.
— Qual é o seu nome? — perguntou o magistrado.
— Eu não tenho nome — respondeu o Homem, pois, é claro, sendo o único Homem da Lua, não era necessário que tivesse um nome.
— Vamos, vamos, sem brincadeiras! — disse o magistrado. — Você deve ter algum nome. Quem é você?
— Ora, eu sou o Homem da Lua.
— Besteira! — disse o magistrado, olhando o prisioneiro com severidade. — Você pode ser um homem, mas não está na lua, está em Norwich.
— Isso é verdade — respondeu o Homem, que ficou bastante confuso com essa ideia.
— E, claro, você deve ter um nome — continuou o magistrado.
— Bem, então — disse o prisioneiro —, se eu não sou o Homem da Lua, devo ser o Homem fora da Lua; então me chamem assim.
— Muito bem — respondeu o juiz. — Agora, de onde você veio?
— Da lua.
— Ah, sim? E como chegou aqui?
— Eu deslizei por um raio de luar.
— De fato! E por que estava correndo?
— Uma mulher me deu uma mingau de ervilhas fria, e ela queimou minha boca.
O magistrado o olhou por um momento, surpreso, e então disse:
— Essa pessoa está evidentemente louca; levem-no para a clínica de lunáticos e o mantenham lá.
Esse certamente teria sido o destino do Homem, se não fosse por um velho astrônomo presente, que já havia observado a lua muitas vezes através de seu telescópio e descoberto que o que era quente na Terra era frio na lua, e o que era frio aqui era quente lá. Então, ele começou a pensar que o Homem estava dizendo a verdade.
Por isso, ele pediu ao magistrado que esperasse alguns minutos enquanto olhava através de seu telescópio para ver se o Homem da Lua ainda estava lá. Como já era noite, ele pegou seu telescópio e olhou para a lua — e descobriu que não havia ninguém nela!
— Parece ser verdade — disse o astrônomo — que o Homem saiu da Lua de alguma forma. Deixe-me olhar sua boca, senhor, para ver se realmente está queimada.
Então, o Homem abriu a boca, e todos puderam ver claramente que estava queimada e cheia de bolhas!
Diante disso, o magistrado pediu desculpas por duvidar de sua palavra e perguntou o que ele gostaria de fazer a seguir.
— Gostaria de voltar para a Lua — disse o Homem —, pois não gosto nem um pouco deste seu planeta. As noites são quentes demais.
— Ora, esta noite está bem fresca! — disse o magistrado.
— Eu sei o que podemos fazer — comentou o astrônomo. — Há um grande balão na cidade, pertencente ao circo que veio para cá no último verão e foi penhorado para pagar uma dívida. Podemos inflar esse balão e enviar o Homem fora da Lua de volta para casa.
— Ótima ideia! — concordou o juiz.
Então, trouxeram o balão, inflaram-no, e o Homem subiu no cesto. Ao dar o sinal, soltaram as amarras e o balão começou a subir pelo céu, em direção à lua.
O povo de Norwich ficou na terra, inclinou a cabeça para trás e observou o balão subir cada vez mais alto, até que, finalmente, o Homem estendeu a mão, segurou a borda da lua e, num piscar de olhos, voltou a ser o Homem da Lua!
Depois dessa aventura, ele ficou bem contente em permanecer em casa; e não tenho dúvidas de que, se você olhar através de um telescópio, ainda poderá vê-lo lá até hoje.