Tio Wiggily e a Melancia

“Bem,” perguntou o caracol lento ao Tio Wiggily, ao encontrá-lo na praia no dia seguinte, “você conseguiu alguma parte da sua fortuna na festa das pulgas?”  

“Nenhuma”, respondeu o velho coelho cavalheiro. “Havia muito ouro e diamantes por lá, mas as pulgas não me deram nada.”  

“Talvez elas tenham se esquecido?” sugeriu o caracol. “Algumas pulgas são muito esquecidas. Eu conheci uma certa vez cuja mãe a mandou à loja para comprar um quilo de açúcar e um litro de leite, e adivinhe o que ela trouxe?”  

“Não sei,” respondeu o coelho, curioso.  

“Ela comprou um quilo de leite e um litro de açúcar, e o leite escorreu todo do saco de papel em que o dono da mercearia colocou, e o açúcar ficou grudado no balde de leite. Eles tiveram um trabalhão tentando tirar aquilo. Isso mostra como uma pulga pode ser às vezes. Talvez, se você pedir por sua fortuna, elas te deem.”  

“Vou fazer isso na próxima vez que encontrar uma,” decidiu o Tio Wiggily. “Mas agora preciso ir e procurar eu mesmo.”  

“Espere até que eu cante uma musiquinha para você,” disse o caracol lento, e ele cantarolou esta canção muito, muito devagar:  

“Quando estou com pressa, lentamente vou,  
E quando termino de rastejar, uma canção cantarei, então.  
Pois se eu apressar muito, chegarei cedo demais,  
Mas um dia ainda vou à Lua subir mais e mais.  
E quando eu chegar lá, dormirei o dia inteirinho,  
Ou rastejarei pelos raios lunares, ou pularei no capim verdinho.”

“Ah! Hum!” exclamou Tio Wiggily. “Essa é uma ótima música, e tenho certeza de que ela me ajudará a encontrar minha fortuna. Agora preciso dizer adeus e seguir meu caminho.”  

“Se você esperar, irei com você,” falou o caracol. “Mas suponho que você está com pressa, Tio Wiggily, e eu ando muito devagar para você.”  

“Exatamente,” disse o coelho gentilmente, e ele deu um grande salto que o levou duas vezes mais do que o caracol conseguiria viajar em dias de folga, sem contar o Natal.  

Bem, não demorou muito até que o Tio Wiggily chegasse ao topo de uma colina. Quando começou a subi-la, vindo do pé, ele pensou que poderia haver ouro no topo. Mas, ao chegar ao cume, tudo o que encontrou foi uma grande coisa verde, com listras.  

“Eu me pergunto o que pode ser isso,” pensou o coelho. “Parece uma bola de beisebol, mas é muito grande para isso, além de não ser bem redonda. E, mais uma coisa, é verde em vez de branca, pois todas as bolas de beisebol são brancas. Ah! Já sei o que é. Deve ser uma bola de futebol americano que os meninos chutam. Acho que vou chutá-la. Talvez haja ouro dentro.”  

Então ele se preparou para dar um chute, mas sabe como é com os coelhos velhos que têm reumatismo e precisam andar de muletas. Assim que o Tio Wiggily levantou uma das patas – a que não tinha reumatismo – e se apoiou na muleta, a muleta escorregou de repente, e ele caiu desajeitadamente, todo enrolado.  

“Bem, eis uma confusão!” ele gritou. “Eu nunca deveria ter tentado chutar essa bola de futebol verde. Deveria ter esperado até ela amadurecer.”  

Ele se sentou no topo da colina, observou o oceano espumando e se agitando abaixo e esperou a “bola” verde amadurecer. De vez em quando, ele a cutucava com a muleta para ver se estava ficando mole, mas não estava.  

E em certo momento, logo após fazer isso, o velho coelho ouviu alguém gritar:  

“Minha nossa, Tio Wiggily! O que você está fazendo?”  

“Esperando essa bola de futebol verde amadurecer para que eu possa chutá-la,” respondeu o coelho.  

“Oh, ho! Oh, ha!” riu o gafanhoto, pois era aquele inseto saltador quem havia falado. “Isso não é uma bola de futebol, é uma melancia! E dentro dela é toda vermelha, doce e suculenta. Venha, se puder, corte-a, e faremos um banquete. Faz tempo que não como melancia. Você consegue cortá-la?”  

“Oh, eu consigo cortar, com certeza,” declarou o coelho. “Aqui vou eu, e espero que seja mais bonita por dentro tanto quanto é por fora.” 

Então o coelho pegou sua faca, com a qual normalmente passava manteiga no pão, e cortou um buraco na melancia. Depois, o Tio Wiggily e o gafanhoto cavaram o centro vermelho, doce e suculento, e comeram.  

E, você acreditaria? Algo aconteceu logo em seguida. Eles mal haviam limpado o suco vermelho da melancia de seus rostos quando ouviram um som terrível nos arbustos, e de lá pulou um grande urso negro. Oh, ele estava vindo muito bravo, realmente estava, mas não precisa ter medo, porque não deixarei ele machucar ninguém. Deixarei ele mastigar minha máquina de escrever primeiro, assim ele desgasta os dentes. O urso veio direto para a melancia.

“Ah, o que eu posso fazer?” choramingou Tio Wiggily. “Esse urso vai me pegar, mas ele não vai machucar você, Sr. Gafanhoto, porque você é tão pequeno.”

“Não se preocupe,” disse gentilmente o gafanhoto. “Eu vou encontrar um jeito de salvar você. Rápido! Antes que o urso veja você, pule dentro da melancia”, porque, veja, eles haviam comido todo o interior da fruta e deixado a casca da melancia oca, exatamente como uma abóbora de Halloween, tipo um Jack-o’-lantern.

Tio Wiggily percebeu que essa era a melhor coisa a fazer, então ele pulou para dentro da melancia, e o gafanhoto colocou de volta o pedaço que eles haviam cortado, e você jamais saberia que a melancia não era inteiriça, como se nunca tivesse sido cortada ou o interior comido.

O urso veio farejando com seu nariz preto. Então ele viu o gafanhoto e perguntou, com um tom desconfiado:

“Tem um coelho por aqui?”

“Eu não vejo nenhum,” disse o gafanhoto, e ele realmente não podia ver ninguém além do urso, porque Tio Wiggily estava dentro da melancia, como você já sabe.

“Bem, se não tem nenhum coelho, vou ter que comer esta melancia, então,” disse o urso, “porque estou com muita fome.”

Agora, o gafanhoto sabia que se o urso mordesse a melancia e a abrisse, ele veria o coelho escondido lá dentro. Então, o que o gafanhoto fez? Deu um empurrão na melancia com suas fortes pernas traseiras, e a melancia começou a rolar colina abaixo, com o coelho dentro dela, exatamente como Buddy Pigg, o porquinho-da-índia, uma vez rolou morro abaixo dentro de um repolho.

Mais rápido e mais rápido a melancia rolava colina abaixo, com Tio Wiggily lá dentro, e então o urso viu uma das patas do coelho saindo por uma rachadura.

“Ahá! Você me enganou!” gritou o urso para o gafanhoto. “Agora eu vou perseguir essa melancia e pegar o coelho, também!”

Então o urso começou a descer a colina atrás da melancia, mas seu pé escorregou, e ele deslizou, ah, tão rápido, que chegou ao pé da colina primeiro. Lá ele ficou, esperando por Tio Wiggily. Mas uma coisa estranha aconteceu. A melancia bateu em uma pedra, explodiu, e o coelho foi lançado para fora direto em um monte de areia macia. Mas os pedaços da melancia atingiram o focinho macio e sensível do urso, e ele achou que tinha sido gravemente ferido, então correu para a floresta uivando e resmungando. Foi assim que Tio Wiggily escapou do urso, pois o velho coelho gentil não se machucou nadinha, apesar da queda.

Então, ele limpou os pedaços de melancia de suas roupas e seguiu viagem novamente, junto ao gafanhoto, em busca de sua fortuna.


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