E assim, Maya e a elfa das flores partiram juntas em uma noite clara de verĆ£o. A pequena Maya estava tĆ£o feliz que podia confiar neste lindo ser branco para conduzi-la aonde quer que fossem. Ela queria fazer mil perguntas a elfa das flores, mas nĆ£o ousou. Enquanto voavam por uma fileira de Ć”rvores, uma mariposa escura zumbiu acima delas, grande e forte como um pĆ”ssaro.
āEspere, por favor,ā chamou a Elfa das Flores. Maya ficou surpresa ao ver a rapidez com que a mariposa reagiu.
Todos os trĆŖs se acomodaram em um galho, com vista para a paisagem enluarada. A mariposa batia as asas como se criasse uma brisa fresca. Listras azuis brilhantes e inclinadas marcavam suas asas. Sua cabeƧa parecia ser feita de veludo com um rosto como uma mĆ”scara misteriosa com olhos escuros. QuĆ£o maravilhosas sĆ£o essas criaturas da noite! Um calafrio percorreu Maya, que pensou estar tendo o sonho mais estranho de sua vida.
āVocĆŖ Ć© realmente lindaā, disse Maya, muito impressionada, para a mariposa.
āQuem Ć© sua companheira de viagem?ā a mariposa perguntou Ć Elfa das Flores.
“Uma abelha. Eu a conheci assim que deixei minha flor.ā
A mariposa pareceu entender o que aquilo significava. Ela olhou para Maya quase com inveja. āVocĆŖ tem muita sorte,ā ela disse em um tom sĆ©rio e pensativo, balanƧando a cabeƧa para frente e para trĆ”s.
“VocĆŖ estĆ” triste?” perguntou a calorosa Maya.
A mariposa balanƧou a cabeƧa. āNĆ£o, triste nĆ£o.ā E ela deu a Maya um olhar tĆ£o amigĆ”vel que ela gostaria de se tornar amiga dela ali mesmo.
āO morcego ainda estĆ” solto ou foi descansar?ā Essa foi a pergunta pela qual a elfa das flores fez a mariposa parar.
āOh, ele estĆ” descansando hĆ” muito tempo. VocĆŖ quer saber por causa de sua companheira de viagem?
A Elfa das Flores assentiu. Maya queria saber o que era um morcego, mas a elfa das flores parecia estar com pressa.
āVamos, Mayaā, ela disse, ātemos que nos apressar. A noite Ć© tĆ£o curta.ā
“Posso carregĆ”-la parte do caminho?” perguntou a mariposa.
āOutra hora, por favor,ā disse a Elfa das Flores.
āEntĆ£o isso nunca vai acontecerā, pensou Maya enquanto voavam para longe, āporque a elfa das flores deve morrer ao amanhecer.ā
A mariposa ficou pensativa na folha. āJĆ” ouvi tantas vezes que sou grisalha e feiaā, disse para si mesma. āE que meu padrĆ£o nĆ£o pode ser comparado ao esplendor de uma borboleta. Mas a abelhinha viu algo lindo em mim! E ela perguntou se eu estava triste. NĆ£o, nĆ£o estou tristeā, decidiu.
Enquanto isso, Maya e a Elfa das Flores voavam pelos densos arbustos do jardim. O hĆ”lito fresco do orvalho e a luz fraca da lua faziam as flores e as Ć”rvores parecerem encantadoramente belas. Maya ficou maravilhada com tudo isso. Ela apertou a mĆ£o da Elfa das Flores e olhou para ela. Uma luz de felicidade brilhou nos olhos da elfa.
āQuem poderia ter sonhado isso!ā sussurrou a abelhinha.
Nesse momento, ela viu algo que lhe deu um choque. āOh,ā ela exclamou, āOlhe! Uma estrela caiu! EstĆ” vagando e nĆ£o consegue encontrar o caminho de volta ao seu lugar no cĆ©u.ā
āIsso Ć© um vaga-lume,ā disse a Elfa das Flores, com um sorriso.
Agora Maya sabia por que ela gostava tanto da Elfa das Flores ā a elfa nunca ria dela quando ela dizia algo errado.
āVaga-lumes sĆ£o criaturas estranhasā, disse a elfa das flores. āEles sempre carregam sua prĆ³pria lĆ¢mpada e iluminam a escuridĆ£o sob os arbustos onde a lua nĆ£o brilha. Mais tarde, quando estivermos entre as pessoas, vocĆŖ tambĆ©m conhecerĆ” um vaga-lume.ā
“Por quĆŖ?” perguntou Maya.
“VocĆŖ verĆ” em breve.”
A essa altura, elas quase desceram ao chĆ£o em um caramanchĆ£o de jasmim e damasco. Houve um leve sussurro e a elfa das flores acenou para um vaga-lume.
āVocĆŖ poderia fazer a gentilezaā, ela perguntou, āde nos dar um pouco de luz nesta folhagem escura?ā
āMas seu brilho Ć© muito mais brilhante que o meu.ā
āEu tambĆ©m acho,ā Maya exclamou animadamente.
āTenho que me enrolar em uma folhaā, explicou a fada, āsenĆ£o as pessoas me verĆ£o e ficarĆ£o com medo. NĆ³s, elfos, sĆ³ aparecemos em sonhos para as pessoas.
āEu entendo,ā disse o vaga-lume. āFarei o que puder, mas aquela grande criatura que vocĆŖ tem com vocĆŖ vai me machucar?ā
A elfa balanƧou a cabeƧa e o vaga-lume acreditou nela. EntĆ£o a elfa se enrolou em uma folha. Ela arrancou um pequeno sino da grama e o colocou como capacete em sua cabeƧa brilhante. Apenas seu rostinho era visĆvel, mas ninguĆ©m notaria. Ela pediu ao vaga-lume que sentasse em seu ombro e diminuĆsse a luz de um lado com a asa.
āVenha agora,ā ela disse, pegando a mĆ£o de Maya. āĆ melhor subirmos aqui.ā
Enquanto subiam a videira, Maya perguntou: āAs pessoas sonham quando dormem?ā
āEles sonham quando dormem, mas Ć s vezes atĆ© quando estĆ£o acordados. Seus sonhos sĆ£o sempre mais bonitos que suas vidas.ā
A elfa levou o dedo mindinho aos lĆ”bios, dobrou um pequeno galho de jasmim e gentilmente empurrou Maya para frente. āOlhe para baixo,ā ela disse suavemente, āvocĆŖ verĆ” o que sempre quis ver agora.ā
Maya e a fada viram duas pessoas. Em um banco, Ć sombra do luar, estavam sentados um menino e uma menina. A cabeƧa da garota descansava em seu ombro, e o garoto segurava seu braƧo protetoralmente ao redor dela. Sentaram-se em completo silĆŖncio. Maya olhou para a garota de cabelos dourados e lĆ”bios vermelhos. Ela parecia melancĆ³lica, mas tambĆ©m muito feliz. EntĆ£o ela se virou para o menino e sussurrou algo em seu ouvido, o que trouxe um sorriso mĆ”gico ao rosto dele. Maya pensou que apenas uma criatura terrena poderia se parecer com isso. Pura felicidade irradiava de seus olhos.
āAgora eu vi a coisa mais linda da minha vidaā, ela sussurrou para si mesma. āAgora eu sei que as pessoas ficam mais bonitas quando estĆ£o apaixonadas.ā
Ela nĆ£o sabia quanto tempo ficou sentada ali, mas quando ela se virou, a luz do vaga-lume havia se apagado e a elfa das flores havia desaparecido. Ao longe, a luz do dia estava nascendo.