Maya se acomodou em um buraco em uma Ć”rvore. Era seco e seguro. Para se proteger de todas as criaturas com mĆ”s intenƧƵes, ela selou parcialmente a entrada do buraco da Ć”rvore com cera de abelha. Ela tambĆ©m havia guardado um pouco de mel ali, para nĆ£o passar fome em dias de chuva.
Hoje, estava seco e ela poderia voar novamente.
āHoje eu vou conhecer um humano,ā ela exclamou alegremente. āEm dias como este, com certeza as pessoas querem estar ao ar livre para curtir a natureza.ā
Ela nunca tinha visto tantos insetos em um dia. Eles estavam indo e vindo. No ar, podia-se ouvir o zumbido alegre de vĆ”rios insetos. Na grama, ela viu trevos e decidiu tomar um gole do nĆ©ctar das flores. No topo da flor que estava inclinada sobre Maya, ela de repente viu uma criatura verde e magra sentada. Ela achou a criatura assustadora e estava com tanto medo que nĆ£o conseguia se mexer. Ele tinha uma estranha testa protuberante e longas e finas antenas saindo de suas sobrancelhas. Seu corpo era magro e verde por toda parte. AtĆ© seus olhos eram verdes. Tinha patas dianteiras graciosas e asas finas e discretas que, segundo Maya, nĆ£o seriam de muita utilidade. A coisa mais estranha sobre ele eram suas patas traseiras, que se projetavam como duas estacas semelhantes a dobradiƧas sobre seu corpo.
āJĆ” terminou de olhar?ā disse a criatura. āVocĆŖ nunca viu um gafanhoto antes? Ou vocĆŖ estĆ” botando ovos neste momento?ā
“O que vocĆŖ estĆ” falando?” Maya exclamou surpresa. āBotando ovos? Nem passaria pela minha cabeƧa. Mesmo que pudesse, nĆ£o o faria. Se nĆ£o eu assumiria a tarefa da rainha. Ela Ć© a Ćŗnica que pode e deve fazer isso!ā
O gafanhoto abaixou a cabeƧa e fez uma cara tĆ£o engraƧada que Maya acabou rindo dele.
āSenhoraā, disse o gafanhoto. āVocĆŖ Ć© um personagem e tanto!ā EntĆ£o o gafanhoto tambĆ©m riu.
“Por que vocĆŖ estĆ” rindo?” perguntou Maia. āVocĆŖ nĆ£o pode achar que eu colocaria ovos aqui na grama, certo?ā
EntĆ£o o gafanhoto disse: āHopla!ā e com um salto, ele se foi. EntĆ£o ele voltou para Maya com outro āHopla!ā O gafanhoto olhou para Maya de cima a baixo, de todos os lados, de frente e de costas. “NĆ£o”, disse ele. āVocĆŖ definitivamente nĆ£o pode botar ovos. VocĆŖ nĆ£o estĆ” equipada para isso. VocĆŖ Ć© uma vespa, nĆ£o Ć©?ā Ser chamada de vespa! Maya achou isso um grande insulto. āComo vocĆŖ ousa me chamar de vespa?ā ela gritou com raiva.
āHopla!ā disse o gafanhoto, e ele se foi novamente.
Maya voou para longe, ofendida. Como ele ousa chamĆ”-la de vespa? Ela pensava que as vespas eram criaturas inĆŗteis. Isso a deixou com muita raiva.
āHopla!ā lĆ” estava ele de novo.
āSenhoraā, disse o gafanhoto. āPeƧo desculpas por ocasionalmente interromper nossa conversa. Mas Ć© algo sĆ³ meu, que tenho que pular de vez em quando. Eu nĆ£o posso evitar. Ocasionalmente eu tenho que pular, onde quer que seja. VocĆŖ pode pular tambĆ©m?ā
Ele sorriu de orelha a orelha e Maya nĆ£o podia mais ficar brava com ele e teve que rir.
“Quem Ć© vocĆŖ?” perguntou Maya. “Eu gostaria de saber.”
āBem, todo mundo sabe quem eu souā, disse o gafanhoto.
Maya nunca sabia se ele estava brincando ou falando sƩrio.
āSou uma estranha por aquiā, ela respondeu gentilmente, ācaso contrĆ”rio, certamente o conheceria. Mas lembre-se de que pertenƧo Ć famĆlia das Abelhas e absolutamente nĆ£o sou uma vespa.
āMeu Deusā, disse o gafanhoto. āVocĆŖs sĆ£o muito parecidas.ā
āVocĆŖ obviamente nunca foi Ć escola,ā ela explodiu. āDĆŖ uma boa olhada em uma vespa.ā
“Por que eu deveria?” respondeu o gafanhoto. āDe que adiantaria perceber diferenƧas que existem apenas na imaginaĆ§Ć£o dos humanos? VocĆŖ, uma abelha, voa no ar, pica qualquer coisa que encontra e nĆ£o pode pular. O mesmo vale para uma vespa. EntĆ£o, onde estĆ” a diferenƧa?ā
āHopla!ā E ele se foi.
āMas agora vou voar para longeā, pensou Maya.
LĆ” estava ele de novo.
āSenhoraā, disse o gafanhoto, āgostaria de convidĆ”-la para uma competiĆ§Ć£o de saltos da qual eu mesmo participarei, no jardim do guarda-florestal.ā
āNĆ£o me interesso por acrobaciasā, disse Maya. āAlguĆ©m que voa tem interesses mais elevados.ā
O gafanhoto sorriu, um sorriso que vocĆŖ quase podia ouvir.
āNĆ£o pense muito bem de si mesma, minha querida jovem! A maioria das criaturas neste mundo pode voar, mas apenas algumas podem pular. Conheci gafanhotos, membros da minha prĆ³pria famĆlia, que podem saltar atĆ© trezentas vezes o seu prĆ³prio comprimento. Trezentas vezes o seu prĆ³prio comprimento! Imagine isso. Mesmo o elefante, o maior animal do mundo, nĆ£o consegue pular tĆ£o alto.ā
āHopla!ā E ele se foi novamente.
Maya o achou um cara estranho, aquele gafanhoto que se autodenominava Flip, o gafanhoto. Mas na breve conversa que teve com ele, ele lhe ensinou muitas coisas novas. Embora ela nĆ£o concordasse com as ideias dele sobre pular, ela o achava muito interessante. Ele sabia os nomes de muitos tipos diferentes de criaturas. Ele entenderia a lĆngua delas tambĆ©m? Se ele voltasse, ela perguntaria a ele. E ela tambĆ©m perguntaria o que ele achava de chegar perto de um humano ou entrar na casa de um humano.
āHopla!ā LĆ” estava o gafanhoto novamente.
“Meu Deus! De onde vocĆŖ continua vindo?ā Perguntou Maia.
āDos arredoresā, disse o gafanhoto.
āMas diga-me, vocĆŖ simplesmente pula no mundo sem saber onde quer pousar?ā Maya perguntou novamente.
“Claro. Por que nĆ£o? VocĆŖ pode ler o futuro? NinguĆ©m pode fazer isso. SĆ³ o sapo da Ć”rvore sabe, mas ele nunca conta!ā disse o gafanhoto.
āAs coisas que vocĆŖ sabe! Maravilhoso, simplesmente maravilhoso!ā exclamou Maya. āVocĆŖ tambĆ©m entende a linguagem dos humanos?ā Maya perguntou curiosa.
āEssa Ć© uma pergunta difĆcil de responder, Maya, porque nĆ£o foi provado se os humanos tĆŖm uma linguagem. Eles emitem sons e parecem se entender. Certa vez, ouvi dois meninos soprando em uma folha de grama. O resultado foi um apito que pode ser comparado ao chilrear de um grilo, embora com muito menos qualidade de som. Aparentemente, os humanos fazem uma tentativa honestaā, respondeu o gafanhoto.
E mais uma vez, o gafanhoto decolou. Mas desta vez, Maya esperou em vĆ£o por ele. Ela olhou ao redor na grama e nas flores. Ele estava longe de ser visto.