O Vento nos Salgueiros (The Wind in the Willows), de Kenneth Grahame, é uma obra clássica da literatura infantil que narra as aventuras de quatro amigos animais: Toupeira, Rato, Texugo e Sapo. A história explora temas como amizade, lealdade e as alegrias da vida simples, enquanto os personagens enfrentam desafios, como as imprudências do impulsivo Sapo e sua paixão por carros. Com uma atmosfera encantadora e descrições líricas da natureza, o livro celebra a beleza do mundo rural e os laços que unem os amigos em meio às suas diferenças.
- Capítulo 1: A margem do rio
- Capítulo 2: A Estrada Aberta
- Capítulo 3: O Bosque Selvagem
- Capítulo 4: Sr. Texugo
- Capítulo 5: Dulce Domum
- Capítulo 6: Sr. Sapo
- Capítulo 7: O Flautista às portas do amanhecer
- Capítulo 8: As Aventuras do Sapo
- Capítulo 9: Todos os Viajantes
- Capítulo 10: As novas aventuras do Sapo
- Capítulo 11: Como as Tempestades de Verão Vieram suas Lágrimas
- Capítulo 12: O Retorno de Ulisses
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Capítulo 1: A margem do rio
O Toupeira havia trabalhado muito durante toda a manhã, limpando a primavera em sua pequena casa. Primeiro com vassouras, depois com espanadores; depois em escadas e degraus e cadeiras, com uma escova e um balde de cal; até que ele ficou com poeira na garganta e nos olhos, e manchas de cal por todo o seu pelo preto, e com as costas doloridas e braços cansados. A primavera estava se movimentando pelo ar acima, na terra abaixo e ao redor dele, penetrando até mesmo sua pequena e sombria casa com seu espírito de descontentamento divino e anseio. Não é de se estranhar que, então, ele de repente jogou a escova no chão, disse “Droga!” e “Ai, caramba!” e ainda “Que se danem as limpezas de primavera!”, e saiu disparado de casa sem nem esperar para colocar o casaco. Algo lá em cima o estava chamando imperiosamente, e ele correu para o pequeno túnel íngreme que, em seu caso, era equivalente à entrada de pedregulhos das residências de animais cujas moradias estavam mais próximas do sol e do ar. Então ele começou a cavar e arranhar, escarafunchar e se apertar, e então se apertou e escarafunchou e arranhou e cavou novamente, trabalhando arduamente com suas pequenas patas e murmurando para si mesmo: “Vamos subir! Vamos subir!”, até que, finalmente, pop! seu focinho saiu à luz do sol, e ele se viu rolando na grama quente de um vasto prado.
“Isso é ótimo!” disse ele para si mesmo. “Isso é bem melhor do que pintar paredes com cal!” A luz do sol atingiu forte seu pelo, brisas suaves acariciaram sua fronte quente, e após o isolamento no porão em que ele vivia por tanto tempo, o gorjeio dos pássaros felizes atingiu seus ouvidos embotados quase como um grito. Saltando sobre todas as suas quatro patas ao mesmo tempo, na alegria de viver e no deleite da primavera sem precisar limpá-la, ele continuou seu caminho pelo prado até chegar à cerca no outro lado.
“Segura aí!”, disse um coelho idoso na abertura. “Seis pence pelo privilégio de passar pela estrada particular!” Ele foi derrubado num instante pelo ansioso e desdenhoso Toupeira, que trotou ao longo da cerca, zombando dos outros coelhos enquanto eles espiavam apressadamente de suas tocas para ver qual era a confusão. “Molho de cebola! Molho de cebola!” ele exclamou zombeteiro, e desapareceu antes que eles pudessem pensar numa resposta devidamente satisfatória. Então todos começaram a resmungar uns com os outros. “Como você é estúpido! Por que não o disse——” “Bem, por que você não contou——” “Você poderia tê-lo lembrado——” E assim por diante, do jeito de sempre; mas, claro, era tarde demais, como sempre acontece.
Parecia bom demais para ser verdade. Para lá e para cá pelos prados ele divagava ocupado, ao longo das sebes, através de bosques, encontrando pássaros construindo, flores brotando, folhas surgindo—tudo feliz, progressivo e ocupado. E ao invés de ser atormentado por uma consciência inquieta sussurrando “cal! cal!”, tudo o que ele podia sentir era o quão animado era ser o único “vagabundo” entre todos esses cidadãos ocupados. Afinal de contas, talvez a melhor parte de um feriado não seja tanto descansar, como ver todos os outros colegas ocupados trabalhando.
Ele pensou que sua felicidade estivesse completa quando, ao vaguear sem rumo, de repente ele se viu à beira de um rio cheio. Nunca na vida ele havia visto um rio antes—aquele animal elegante, sinuoso, de corpo cheio, correndo e gargalhando, agarrando-se às coisas com um gorgolejo e soltando-as com uma risada, para se atirar a novos companheiros que se sacudiam livres e eram capturados novamente. Tudo sacudia e tremia—reflexos e brilhos e centelhas, farfalhar e redemoinho, murmúrios e borbulhas. O Toupeira ficou encantado, enfeitiçado, fascinado. Ao lado do rio, ele trotava como quem trota ao lado de um homem, quando muito pequeno, que o mantém atento com histórias emocionantes; e quando finalmente cansado, sentou-se à margem, enquanto o rio ainda murmurava para ele, uma procissão falante das melhores histórias do mundo, enviadas do coração da Terra para serem contadas enfim ao insaciável mar.
Ao sentar-se na grama e olhar do outro lado do rio, um buraco escuro na margem oposta, logo acima da linha d’água, chamou sua atenção, e sonhadoramente ele começou a pensar em como seria um bom e aconchegante lar para um animal com poucas necessidades e afeito a uma pequena residência à beira-rio, acima do nível das enchentes e longe do barulho e poeira. Enquanto olhava, algo brilhante e pequeno pareceu cintilar dentro do coração do buraco, desapareceu, depois cintilou mais uma vez, como uma estrelinha. Mas dificilmente poderia ser uma estrela em uma situação tão improvável; e era pequeno e brilhante demais para ser um vagalume. Então, enquanto ele observava, deu uma piscadela, revelando-se como um olho; e um rostinho começou gradualmente a aparecer em volta dele, como uma moldura ao redor de uma imagem.
Um rostinho marrom, com bigodes.
Um rosto redondo e grave, com o mesmo brilho no olho que inicialmente chamara sua atenção.
Pequenas orelhas arrumadas e um pelo grosso e sedoso.
Era o Rato-d’Água!
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Então, ambos os animais ficaram olhando cautelosamente um para o outro.
“Olá, Toupeira!” disse o Rato do Rio.
“Olá, Rato!” disse o Toupeira.
“Gostaria de vir até aqui?” perguntou o Rato, após um momento.
“Oh, é fácil falar,” disse o Toupeira, um tanto irritado, sendo ele novo em assuntos de rio e vida à beira-rio.
O Rato não disse nada, mas se inclinou, desamarrou uma corda e puxou-a; depois entrou levemente em um pequeno barco que o Toupeira não havia visto. Era pintado de azul por fora e branco por dentro, exatamente do tamanho para dois animais; e o coração do Toupeira se derreteu por completo, mesmo antes de entender totalmente a utilidade do barco.
O Rato remou rapidamente até a margem, amarrou o barco e levantou a pata dianteira enquanto o Toupeira descia cuidadosamente. “Apoie-se aqui!” disse ele. “Agora, ande rápido!” E o Toupeira, para sua surpresa e êxtase, encontrou-se sentado na popa de um verdadeiro barco.
“Esse tem sido um dia maravilhoso!” exclamou ele, enquanto o Rato empurrava o barco de volta para o meio do rio e voltava a remar. “Você sabe, nunca entrei em um barco antes, em toda a minha vida.”
“O quê?” gritou o Rato, de boca aberta: “Nunca esteve em um—a sério, você nunca—bem, o que você tem feito então?”
“É tão bom assim?” perguntou o Toupeira, timidamente, embora estivesse bastante inclinado a acreditar, enquanto se recostava no assento e examinava as almofadas, os remos, as forquilhas e todos os detalhados acessórios fascinantes, sentindo o barco balançar levemente sob ele.
“Bom? É a única coisa que vale a pena fazer,” disse o Rato do Rio solenemente, inclinando-se para remar. “Acredite em mim, meu jovem amigo, não há absolutamente nada—nada pela metade tão prazeroso quanto simplesmente mexer com barcos. Mexer com barcos,” ele continuou sonhadoramente: “mexer—com—barcos; simplesmente mexer com eles…”
“Olhe para frente, Rato!” gritou de repente o Toupeira.
Mas era tarde demais. O barco bateu com força na margem. O sonhador e alegre remador caiu de costas no fundo do barco, seus pés para o ar.
“—Com barcos… ou neles,” o Rato continuou tranquilamente, levantando-se com uma risada agradável. “Dentro ou fora deles, não importa. Nada parece realmente importar, essa é a mágica. Se você partir ou não; se você chegar ao seu destino ou parar em algum outro lugar; ou se nunca chegar a lugar nenhum, você está sempre ocupado, e ao mesmo tempo nunca faz nada em particular. E quando você termina, há sempre algo mais a fazer, e você pode fazê-lo, se quiser, mas seria melhor não fazer. Veja só! Se realmente não tiver mais nada para fazer nesta manhã, que tal descermos o rio juntos e passarmos o dia todo nisso?”
O Toupeira mexeu os dedos dos pés de pura felicidade, encheu o peito com um suspiro de completo contentamento, e recostou-se alegremente nas suaves almofadas. “Que dia estou tendo!” disse ele. “Vamos começar imediatamente!”
“Espere um minuto!” disse o Rato. Ele prendeu a corda através de um anel no cais, subiu para seu buraco, e, após um curto intervalo, reapareceu cambaleando debaixo de uma grande cesta de piquenique de vime.
“Empurre isso sob seus pés,” comentou ao Toupeira, enquanto passava a cesta para dentro do barco. Depois soltou a corda e voltou a pegar nos remos.
“O que tem dentro?” perguntou o Toupeira, contorcendo-se de curiosidade.
“Tem frango frio,” respondeu o Rato brevemente. “Línguafriadapresuntofriocarnedefriocintracruzarpiclesaladaspãocommortadelaemaionesecervejagengibrerefrigerantelimãosuperfaco——”
“Pare, pare,” gritou o Toupeira em êxtase: “Isso é muita coisa!”
“Você acha mesmo?” perguntou o Rato, sério. “É só o que eu costumo levar nessas pequenas excursões; os outros animais sempre me dizem que sou ‘mão de vaca’ e que trago pouco!”
O Toupeira não ouviu uma palavra do que ele dizia. Absorvido na nova vida em que estava entrando, enfeitiçado pelo brilho, o som do rio, os cheiros e o sol, ele colocou a pata na água e ficou a sonhar acordado longamente. O Rato, como o bom amigo que era, remava serenamente, evitando perturbá-lo.
“Eu gosto muito das suas roupas, velho amigo,” comentou o Rato após meia hora ou mais, enquanto o silêncio continuava. “Um dia desses, quero ter um terno de veludo preto para fumar, assim que puder pagar por um.”
“Perdão,” disse o Toupeira, voltando dos devaneios com esforço. “Você deve pensar que sou muito rude; mas tudo isso é tão novo para mim. Então—isso é—um rio!”
“O Rio,” corrigiu o Rato com ênfase.
“E você realmente vive à beira do rio? Que vida tranquila e maravilhosa!”
“À beira dele, com ele, sobre ele e dentro dele,” disse o Rato. “É irmão e irmã para mim, além de tia, companhia, alimento e bebida, e (naturalmente) também para banhos. É o meu mundo, e eu não quero outro. O que ele não tem não vale nada, e o que ele não sabe não vale a pena conhecer. Senhor! As vezes que passamos juntos! Seja no inverno ou no verão, na primavera ou no outono, o rio sempre tem sua diversão e suas emoções. Quando as enchentes chegam em fevereiro, e meus porões ficam cheios de bebida que não me serve de nada, ou quando as águas baixam e surgem lamaçais que cheiram como bolo de fruta; os juncos e ervas enroscados, e eu posso andar por grande parte do leito do rio, encontrar novos alimentos ou coisas que as pessoas descuidadas deixaram cair dos barcos!”
“Mas não é um pouco entediante às vezes?” o Toupeira atreveu-se a perguntar. “Só você e o rio, e mais ninguém para conversar?”
“Mais ninguém para…? Ah, bom, não vou ser duro com você,” disse o Rato com paciência. “Você é novo por aqui, então, claro, você não sabe. Hoje em dia, as margens estão tão lotadas que muitos animais estão se mudando daqui. E claro que não é como antigamente. Lontras, martins-pescadores, mergulhões, galinhola-d’água, todos por ali durante o dia, sempre querendo que você faça algo—como se eu não tivesse meus próprios afazeres para cuidar!”
“O que há do outro lado?” perguntou o Toupeira, acenando a pata em direção ao contorno escuro da floresta ao fundo das pradarias.
“Aquilo? Ah, é só o Bosque Selvagem,” disse o Rato rapidamente. “Nós, os ribeirinhos, não andamos muito por lá.”
“Eles não são… eles não são muito amigáveis por lá?” perguntou o Toupeira, um pouco nervoso.
“B-e-m,” respondeu o Rato, um pouco hesitante, “deixe-me ver. Os esquilos são gente boa. E os coelhos—alguns deles. Mas os coelhos são um grupo diversificado. E depois tem o Texugo, claro. Ele vive bem no meio da floresta; não viveria em nenhum outro lugar, nem se você pagasse. Querido e velho Texugo! Ninguém mexe com ele. Melhor nem tentar,” ele acrescentou significativamente.
“Por que alguém mexeria com ele?” perguntou o Toupeira.
“Bem, claro que… há outros,” explicou o Rato com certa cautela. “Doninhas… e furões… e raposas… e por aí vai. Eles são gente boa, de uma maneira. Sou muito amigo deles—trabalho de dia e, de vez em quando, troco um ‘olá’ quando cruzamos caminho; mas a verdade é que de vez em quando eles causam problemas.”
Sabendo que não era adequado, segundo a etiqueta dos animais, falar sobre possíveis dificuldades à frente—ou sequer mencioná-las—o Toupeira deixou o assunto de lado.
“E além do Bosque Selvagem?” perguntou ele novamente, apontando para o horizonte azul e enevoado: “Onde parece haver montanhas, ou talvez não, e algo que parece fumaça de cidades, ou talvez apenas neblina?”
“Além do Bosque, está o Mundo Amplo,” disse o Rato. “E isso é algo que não nos interessa, nem a você nem a mim. Nunca fui lá, e nunca vou; e você, se tiver bom senso, também não. Vamos mudar de assunto, por favor. Agora veja! Chegamos ao desvio do rio, onde vamos almoçar.”
Deixando o fluxo principal, eles entraram no que parecia à primeira vista um pequeno lago isolado.
Os gramados verdes desciam suavemente até as margens, raízes marrons e largas de árvores se serpentavam abaixo da superfície da água serena, enquanto adiante, a sobrancelha prateada e a espuma agitada de uma represa, ao lado de uma engrenagem de moinho inquieta e gotejante, que por sua vez sustentava um moinho de pedra com telhado acinzentado, preenchiam o ar com um murmúrio suave de sons, abafado, mas com pequenas vozes nítidas surgindo esporadicamente em intervalos alegres. Era tão bonito que o Toupeira só conseguia levantar as duas patas da frente e suspirar: “Oh, meu! Oh, meu! Oh, meu!”.
O Rato trouxe o barco para a margem, amarrou-o, ajudou o desajeitado Toupeira a desembarcar em segurança e arremessou a cesta de piquenique para fora. O Toupeira, ansioso, suplicou para poder desempacotar tudo sozinho; e o Rato, muito contente por deixá-lo se divertir, se largou na grama de corpo inteiro, descansando enquanto seu entusiasmado amigo sacudia a toalha de mesa e a estendia, tirando os pacotes misteriosos um por um e organizando o conteúdo em perfeita ordem, ainda suspirando “Oh, meu! Oh, meu!” a cada nova descoberta. Quando tudo estava pronto, o Rato disse: “Agora, mande ver, meu amigo!” E o Toupeira, exausto, obedeceu com prazer, pois havia começado sua limpeza de primavera muito cedo naquela manhã e não tinha parado para comer ou beber nada; e, entre tudo o que havia acontecido, pareceria ao Toupeira que tudo aquilo pertenciam a dias muito distantes, que de alguma forma agora pareciam parte de outra existência.
“O que você está olhando?” perguntou o Rato, depois que o imenso apetite de ambos foi razoavelmente saciado e os olhos do Toupeira começaram a vaguear um pouco da toalha de piquenique.
“Estou olhando,” disse o Toupeira, “para uma fileira de bolhas que vejo viajando pela superfície da água. Isso parece um tanto engraçado.”
“Bolhas? Oh!” disse o Rato, dando um assobio alegre, em um tom amigável e convidativo.
Um focinho largo e brilhante apareceu sobre a margem e a Lontra emergiu da água, sacudindo-se para secar o pelo encharcado.
“Bando de guloso!” observou a Lontra, avançando em direção ao banquete. “Por que não me convidaram, hein, Ratinho?”
“Foi algo improvisado,” explicou o Rato. “A propósito—meu amigo Sr. Toupeira.”
“Prazer em conhecê-lo,” disse a Lontra, e imediatamente os dois animais tornaram-se amigos.
“Que confusão está por todo lado!” continuou a Lontra. “O mundo inteiro parece estar no rio hoje. Vim para este desvio do rio tentando encontrar um pouco de paz — e agora dou de cara com vocês! — Bom, desculpem. Não quis dizer isso, sabem.”
Houve um leve farfalhar atrás deles, vindo da cerca viva onde ainda pendiam folhas grossas do ano passado, e uma cabeça listrada, com ombros altos logo atrás, espiou entre a folhagem.
“Venha logo, velho Texugo!” gritou o Rato.
O Texugo avançou alguns passos, grunhiu, “Hrumph! Companhia!” E virou de costas, desaparecendo antes que qualquer um pudesse interpelá-lo.
“Esse é exatamente o tipo de sujeito que ele é!” observou o Rato, desapontado. “Simplesmente odeia qualquer Sociedade! Agora, não veremos mais ele o resto do dia. Ah, tanto faz. Nos conte, quem mais está no rio?”
“O Sapo está por aí,” respondeu a Lontra. “Com seu novíssimo barco de corrida; roupa nova e tudo!”
Os dois animais se entreolharam e riram.
“Uma vez, ele só queria velejar,” disse o Rato. “Depois enjoou disso e passou a navegar com varas. Nada mais o agradava além de fazer isso o dia inteiro, e bagunçou tudo bonito. No ano passado, foi o papo de uma casa flutuante, e todos nós tivemos que ir ficar com ele na tal casa, fingindo que estávamos adorando. Ele dizia que iria passar o resto da vida assim. É sempre o mesmo; tudo o que ele começa, se cansa e logo pula para outra coisa.”
“Mas… é um bom sujeito,” ponderou a Lontra. “Só falta um pouco de estabilidade — especialmente em um barco!”
De onde estavam, conseguiam ver o fluxo principal do rio do outro lado da ilha que os separava; e justo naquele momento, um barco de corrida entrou em cena, com o remador — uma figura baixa e robusta — respingando mal e rolando muito, mas se esforçando ao máximo. O Rato se levantou e acenou para ele, mas o Sapo, pois era ele mesmo, balançou a cabeça e concentrou-se mais ainda no trabalho.
“Vai cair daquilo a qualquer minuto, com esse balanço todo,” disse o Rato, sentando-se de novo.
“Claro que vai,” riu a Lontra. “Eu já te contei aquela boa história do Sapo e o guarda-eclusa? Aconteceu assim…”
Uma libélula errática passou oscilando pelo ar, no estilo descontrolado típico dos jovens tomados pela vida. Um redemoinho na água e um “ploft!” — e a libélula não estava mais lá.
E tampouco estava a Lontra.
O Toupeira olhou para o local onde a voz ressoava há pouco, mas o gramado onde a Lontra estava deitada estava claramente vazio. Nem sinal de Lontra, tanto quanto ele podia ver, até o horizonte distante.
Mas de novo, havia uma linha de bolhas na superfície do rio.
O Rato cantarolou uma melodia, e o Toupeira se lembrou de que a etiqueta animal proibia qualquer comentário sobre o desaparecimento repentino de um amigo, fosse por algum motivo ou por motivo algum.
“Bem, bem,” disse o Rato, “Acho que devemos ir andando. Quem de nós vai arrumar a cesta de piquenique?” Ele não falou como se estivesse particularmente ansioso para a tarefa.
“Ah, por favor, deixe-me fazer isso!” pediu o Toupeira. E, claro, o Rato deixou.
Empacotar a cesta não era tão agradável quanto havia sido desembrulhá-la. Nunca é. Mas o Toupeira estava determinado a aproveitar tudo, e embora, assim que ele terminou de arrumar a cesta bem apertada, ele viu um prato olhando para ele sob a grama; e depois de refazer a tarefa, o Rato apontou um garfo, que qualquer um deveria ter notado antes; e por último, lá estava ele! O pote de mostarda, que o Toupeira havia estado sentado em cima o tempo todo, sem perceber—porém, de alguma forma, tudo foi finalmente concluído, sem muita perda de humor.
O sol da tarde estava baixando quando o Rato começou a remar tranquilamente de volta para casa, em um estado sonhador, recitando murmúrios poéticos para si mesmo e prestando pouca atenção ao Toupeira. Mas o Toupeira estava muito satisfeito, empanturrado de comida e auto-satisfação, e orgulhoso de si mesmo, e já sentindo-se “em casa” em um barco (ou assim ele pensava), começou a se mexer um pouco inquieto: e, logo, ele disse: “Ratinho! Por favor, quero remar agora!”.
O Rato balançou a cabeça com um sorriso. “Ainda não, meu jovem amigo,” ele disse. “Espere até ter algumas lições. Não é tão fácil quanto parece.”
O Toupeira ficou quieto por um ou dois minutos, mas começou a se sentir mais e mais invejoso do Ratinho, remando tão firmemente e com tanta facilidade, e seu orgulho começou a sussurrar que ele poderia fazer o mesmo. Ele se levantou de repente, pegou nos remos com uma pressa inesperada, que o Rato, que estava olhando por cima da água, murmurando mais versos poéticos para si mesmo, foi surpreendido e caiu de costas no barco, com as pernas para o ar pela segunda vez, enquanto o triunfante Toupeira tomou seu lugar e agarrou os remos com total confiança.
“Pare com isso! Que tolice!” gritou o Rato, do fundo do barco. “Você não sabe o que está fazendo! Vai virar a gente!”
O Toupeira jogou os remos para trás com um floreio e deu uma grande puxada na água. Mas ele errou a superfície completamente, suas pernas voaram acima de sua cabeça, e ele se viu deitado sobre o prostrado Ratinho. Desesperado, ele fez um movimento brusco para segurar a lateral do barco, e no instante seguinte—Splash!
O barco virou e ele se encontrou lutando na água do rio.
Ai, como a água era fria! E como era muito molhada! Como ela sibilava em seus ouvidos enquanto ele afundava, afundava, afundava! Como o sol parecia brilhante e acolhedor quando ele emergiu à superfície, tossindo e cuspindo! E como sua desesperança foi grande quando ele sentiu-se afundar novamente! Mas então uma pata firme agarrou a nuca dele. Era o Rato, que estava claramente rindo—o Toupeira podia sentir o riso percorrer o braço dele, pela pata e chegar até sua nuca.
O Rato conseguiu colocar os remos debaixo dos braços do Toupeira; depois fez o mesmo do outro lado e, nadando por trás, impulsionou o animal atônito até a margem, puxou-o para fora e o acomodou na grama, uma massa encharcada e deprimida.
Quando o Rato o esfregou um pouco para secá-lo e retirou parte da água de seu pelo, disse: “Agora, velho amigo! Corra pela margem até aquecer e secar completamente, enquanto eu mergulho para recuperar a cesta de piquenique.”
Então o desanimado Toupeira, molhado por fora e envergonhado por dentro, trotou de um lado para o outro até secar completamente, enquanto o Ratinho mergulhava novamente no rio, recuperava o barco, o colocava de volta no lugar, recolhia seus pertences conforme eles flutuavam e finalmente, com muito sucesso, resgatava a cesta de piquenique e a trazia para a margem.
Quando tudo estava pronto para recomeçar a viagem, o Toupeira, agora abatido e desanimado, tomou seu lugar novamente na popa do barco. Quando partiram, ele disse com a voz baixa, cheia de emoção: “Ratinho, meu generoso amigo! Estou muito arrependido pelo meu comportamento tolo e ingrato. Meu coração se parte quando penso que eu poderia ter perdido aquela linda cesta de piquenique. Na verdade, eu fui um completo tolo, e sei disso. Você me perdoa?”
“Está tudo bem, fique tranquilo!” respondeu o Ratinho com alegria. “O que é um pouco de água para um Rato-d’água? Eu passo mais tempo na água do que fora dela na maioria dos dias. Não pense mais nisso; e olhe: Acho que você deveria vir passar um tempo comigo. Não é nada luxuoso, você sabe—nada comparado à casa do Sapo, mas você ainda não viu; mesmo assim, eu posso te deixar confortável. Eu te ensino a remar e a nadar e, em breve, você vai estar tão à vontade na água quanto qualquer um de nós.”
O Toupeira, tocado pelas palavras gentis de seu amigo, não encontrou voz para responder e precisou enxugar algumas lágrimas com as costas da pata. Mas o Ratinho, bondosamente, desviou o olhar para outra direção, e logo o espírito do Toupeira se levantou novamente. Ele até conseguiu retorquir para um par das galinholas que estavam rindo entre si da figura ensopada e desgrenhada que ele fazia.
Quando chegaram de volta à casa do Ratinho, ele acendeu uma lareira acolhedora na sala de estar e instalou o Toupeira em uma poltrona em frente ao fogo, depois de ter trazido um roupão de banho e chinelos para ele. Contou, então, histórias sobre o rio até a hora do jantar. Essas histórias foram extremamente emocionantes para um animal acostumado a viver em tocas, como o Toupeira: histórias sobre represas, enchentes repentinas, sobre grandes peixes saltando, vapores que jogavam garrafas (pelo menos as garrafas vinham dos vapores, então quem mais jogaria?). E sobre garças, que são muito seletivas sobre quem elas falam; e aventuras em bueiros, pescarias noturnas com a Lontra, ou excursões a lugares distantes com o Texugo.
O jantar foi uma refeição agradável, mas logo depois, um Toupeira terrivelmente sonolento teve de ser escoltado por seu atencioso anfitrião até o melhor quarto da casa, onde logo repousou sua cabeça sobre o travesseiro com grande paz e contentamento, sabendo que seu novo amigo, o Rio, estava lambendo suavemente o parapeito da sua janela.
Esse foi apenas o primeiro de muitos dias semelhantes para o recém-libertado Toupeira, cada um deles mais longo e cheio de interesse conforme o amadurecimento do verão avançava. Ele aprendeu a nadar e a remar, e foi gradualmente descobrindo a alegria das águas correntes; e, ao escutar ao pé dos caules de junco, conseguiu ouvir, de vez em quando, algo do que o vento sussurrava tão constantemente entre eles.
Capítulo 2: A Estrada Aberta
“Rato,” disse o Toupeira de repente, em uma clara manhã de verão, “por favor, quero lhe pedir um favor.”
O Rato estava sentado na margem do rio, cantando uma pequena canção. Ele tinha acabado de compô-la, então estava muito concentrado nisso e não prestava a devida atenção ao Toupeira ou a qualquer outra coisa. Desde cedo pela manhã, ele estava nadando no rio, em companhia de seus amigos, os patos. Quando os patos se viravam de cabeça para baixo, como costumam fazer, o Rato mergulhava e lhes fazia cócegas no pescoço, bem embaixo de onde ficariam os queixos, se os patos tivessem queixos, até que eles se viam forçados a voltar à superfície apressadamente, respingando água e balançando suas penas de forma irritada — pois é impossível expressar todos os sentimentos enquanto sua cabeça está debaixo d’água. Por fim, os patos imploraram para que ele os deixasse em paz para cuidar de seus próprios assuntos. Então o Rato foi embora, sentou-se na margem do rio ao sol e compôs uma canção sobre eles, que batizou de “CANÇÃO DOS PATOS”.
Ao longo do antigo canal
Por entre juncos altos
Os patos estão nadando,
Caudas eretas!
Caudas de patos, caudas de patos,
Pés amarelos a tremer,
Bicos amarelos fora de vista,
Atarefados no rio!
Debaixo do verde lamacento
Onde nadam as tainhas –
Aqui guardamos nossa despensa,
Fresca, cheia e sombria.
Cada um faz o que gosta!
Nós gostamos de estar
De cabeça para baixo, cauda erguida,
Remexendo à vontade!
Bem lá no azul acima
Andorinhões voam e gritam –
Nós estamos aqui, remexendo,
Caudas para o alto!
“Não sei se acho essa canção tão boa assim, Rato,” disse o Toupeira cautelosamente. Ele não era poeta e não se importava que soubessem disso; tinha uma natureza bastante franca.
“Nem os patos,” respondeu o Rato alegremente. “Eles dizem: ‘Por que as pessoas não podem ser deixadas em paz para fazer o que gostam, quando querem e como querem, ao invés de outros sentarem-se nas margens, ficarem observando e fazendo comentários, poesias e coisas desse tipo sobre eles? Que besteira é tudo isso!’ Isso é o que os patos dizem.”
“E é mesmo, é mesmo,” disse o Toupeira, com grande entusiasmo.
“Não, não é!” exclamou o Rato indignado.
“Bem então, não é, não é,” respondeu o Toupeira de forma conciliadora. “Mas o que eu queria lhe pedir era: você não me levaria para fazer uma visita ao Sr. Sapo? Já ouvi tanto falar dele e quero muito conhecê-lo.”
“Mas claro,” disse o Rato, se levantando imediatamente e afastando a poesia da sua cabeça por aquele dia. “Pegue o barco e vamos remar até lá agora mesmo. Nunca é um mau momento para visitar o Sapo. Seja cedo ou tarde, ele é sempre o mesmo: sempre de bom humor, sempre feliz em nos ver, e sempre triste quando vamos embora!”
“Ele deve ser um animal muito simpático,” observou o Toupeira, enquanto subia no barco e pegava os remos, enquanto o Rato se acomodava confortavelmente na popa.
“Ele é realmente o melhor dos animais,” respondeu o Rato. “Tão simples, tão afetuoso e tão bondoso. Talvez ele não seja muito inteligente — todos temos nossos limites; e pode ser que ele seja meio orgulhoso e vaidoso. Mas ele tem grandes qualidades, isso sim.”
Ao virar uma curva do rio, avistaram uma casa velha e elegante, de tijolos vermelhos envelhecidos, com gramados bem cuidados, que desciam até a margem da água.
“Lá está o Vila do Sapo,” disse o Rato; “e aquele riacho à esquerda, onde a placa diz: ‘Propriedade privada. Proibido desembarcar,’ leva ao galpão de barcos dele, onde vamos deixar o nosso barco. Os estábulos ficam ali, à direita. Aquele é o salão para banquetes que você está vendo agora — muito antigo. O Sapo é bem rico, sabe, e essa é realmente uma das casas mais bonitas da região, embora nunca admitamos isso para ele.”
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Eles deslizaram pelo riacho e o Toupeira guardou os remos enquanto passavam pela sombra de um grande galpão de barcos. Lá, viram muitos barcos bonitos, pendurados nas vigas ou puxados para uma rampa, mas nenhum na água; e o local tinha um ar de abandono.
O Rato olhou ao redor. “Entendi,” disse ele. “Ele cansou de andar de barco. Me pergunto qual será o novo passatempo que ele pegou agora? Vamos procurá-lo e logo saberemos.”
Desembarcaram e caminharam pelos gramados enfeitados por flores à procura do Sapo, que acabou por ser encontrado descansando em uma cadeira de vime, com uma expressão pensativa no rosto e um grande mapa estendido em seu colo.
“Uau!” ele exclamou, pulando ao vê-los, “que maravilha!” Apertou as patas dos dois calorosamente, sem esperar uma apresentação ao Toupeira. “Que gentileza a sua de virem!”, continuou, rodopiando ao redor deles. “Eu estava prestes a enviar um barco rio abaixo para chamá-lo, Rato, com ordens estritas de que você deveria ser trazido para cá, seja lá o que estivesse fazendo. Estou precisando muito de você — dos dois. Agora, o que vocês querem tomar? Venham para dentro e peguem alguma coisa! Vocês nem sabem como é sorte encontrá-los aqui agora!”
“Vamos nos sentar um pouco, Sapo!” disse o Rato, jogando-se em uma poltrona confortável, enquanto o Toupeira pegava outra ao lado dele e fazia um comentário educado sobre a “deliciosa residência” do Sapo.
“A melhor casa de todo o rio,” exclamou o Sapo, exagerando. “Ou de qualquer outro lugar, se querem saber,” não pôde deixar de adicionar.
Aqui o Rato deu uma cutucada no Toupeira. Infelizmente, o Sapo viu isso e ficou muito vermelho. Houve um momento de silêncio constrangedor. Então, o Sapo caiu na gargalhada. “Tudo bem, Rato,” ele disse. “É só meu jeito, você sabe. E não é uma casa tão ruim assim, é? Você sabe que até gosta dela. Agora, vamos ser práticos. Vocês são os animais que eu precisava. Vocês têm que me ajudar. É muito importante!”
“É sobre o seu remo, presumo,” disse o Rato, com um ar inocente. “Você está se saindo razoavelmente bem, embora ainda faça muitos respingos. Com bastante paciência e muito treino, você pode——”
“Ah, bobagem! Remar!” interrompeu o Sapo, com grande desgosto. “Diversão boba e infantil. Já desisti disso faz tempo. Puro desperdício de tempo, é o que é. Fico verdadeiramente triste em ver vocês, que deveriam saber mais, gastarem suas energias de forma tão inútil. Não, descobri a verdadeira diversão, a única ocupação genuína para uma vida inteira. Eu pretendo dedicar o resto da minha vida a isso e só lamento os anos perdidos que ficaram para trás, desperdiçados com trivialidades.”
Ele os levou ao pátio do estábulo e ali, puxada para fora da cocheira, viram uma caravana de ciganos novíssima, pintada de amarelo-canário com detalhes em verde e rodas vermelhas.
“Olhem só!” exclamou o Sapo, abrindo os braços. “Essa é a verdadeira vida! A estrada aberta, o caminho empoeirado, charnecas, vilarejos, cidades! Hoje aqui, amanhã em outro lugar! O mundo inteiro diante de você e o horizonte sempre mudando! E esta é a melhor caravana que já foi construída, sem exceção!”
Toupeira ficou extremamente interessado e subiu animadamente as escadas da caravana, enquanto o Rato bufava, metendo as mãos nos bolsos.
Já dentro, era compacto e confortável, com beliches, uma pequena mesa dobrável, um fogão para cozinhar, prateleiras, gaiola de passarinho, potes, panelas e todo tipo de utensílios.
Tudo completamente equipado!”
“Tudo completo!”, disse o Sapo triunfante, abrindo um dos armários. “Veja só—bolachas, lagosta enlatada, sardinhas—tudo o que você possivelmente pode precisar. Água com gás aqui—tabaco ali—papel de carta, bacon, geleia, cartas de baralho e dominó… Nada foi esquecido! Quando partirmos esta tarde, tudo estará pronto, vocês verão!”
“Desculpe,” disse o Rato, mastigando um pedaço de palha lentamente, “mas você mencionou algo sobre ‘nós’, e ‘partir’, e ‘esta tarde?'”
“Meu querido e bom Rato,” implorou o Sapo, de forma suplicante, “por favor, não comece falando com esse tom rígido e desagradável, porque você sabe que terá que vir. Eu não posso fazer isso sem você, então por favor, aceite logo e não discuta—simplesmente não aguento discussões. Não me diga que você pretende passar a vida inteira no seu velho rio empoeirado, morando em um buraco na margem? Eu quero te mostrar o mundo! Vou te transformar num verdadeiro aventureiro!”
“Não quero saber,” disse o Rato, teimosamente. “Não vou, e ponto final. E vou ficar no meu velho rio, morando em um buraco e navegando de barco, como sempre fiz. E além do mais, o Toupeira vai ficar comigo e fazer o mesmo, não é, Toupeira?”
“Claro que sim,” disse o Toupeira, lealmente. “Eu sempre estarei com você, Rato, e o que você disser será o que faremos—tem que ser.” Ele, no entanto, acrescentou, com um tom de leve curiosidade: “Mas… ainda assim, parece que isso até poderia ser… bem, meio divertido, você sabe!”
Pobre Toupeira! A Vida Aventureira ainda era algo tão novo e emocionante para ele; e essa nova faceta era tão tentadora! Ele tinha se apaixonado à primeira vista pela caravana amarela-canário e por todas as suas conveniências adoráveis.
O Rato percebeu o que estava se passando na cabeça do Toupeira e hesitou. Ele odiava decepcionar os outros, e gostava muito do Toupeira. Ele faria quase qualquer coisa para agradá-lo.
O Sapo observava os dois atentamente.
“Venham almoçar,” disse diplomático, “e conversamos sobre isso. Não precisamos decidir nada com pressa. Claro que não me importo de verdade. Só quero dar prazer aos meus amigos. ‘Viver para os outros!’ Esse é o meu lema na vida.”
Durante o almoço—que foi, como sempre no Salão de Sapo, excelente—o Sapo deixou-se levar completamente. Ignorando o Rato, ele passou a trabalhar a imaginação do inexperiente Toupeira como se estivesse tocando uma harpa. Naturalmente um animal tagarela e sempre dominado pela sua imaginação, o Sapo descreveu os prazeres da vida na estrada com cores tão vibrantes que o Toupeira mal conseguia se manter na cadeira de tanta excitação. De algum modo, logo parecia que a viagem era uma coisa decidida entre os três. O Rato, ainda sem estar convencido de verdade, permitiu que sua gentileza superasse suas objeções pessoais. Ele não suportava desapontar seus dois amigos, que já estavam profundamente envolvidos nos planos, pensando em cada atividade dos dias e várias semanas à frente.
Quando estavam prontos, o agora vitorioso Sapo levou seus companheiros ao pasto e os fez capturar o velho cavalo cinzento—que, na ausência de qualquer consulta, e para seu grande aborrecimento, tinha sido designado pela autoridade do Sapo para a mais tediosa tarefa dessa expedição empoeirada. O cavalo preferia francamente o pasto e deu bastante trabalho para ser pego. Enquanto isso, o Sapo apertava ainda mais os armários com necessidades, pendurava sacos de ração, redes de cebolas, fardos de feno e cestas na parte de baixo da caravana.
Por fim, o cavalo foi pego e o Sapo o atrelou, e eles partiram, falando todos de uma só vez. Cada animal caminhava ao lado da caravana ou sentava-se nos braços do eixo, de acordo com seu humor. Era uma tarde dourada. O cheiro da poeira que erguiam ao caminhar era agradável e saciante; os pássaros, nas grossas sebes ao longo da estrada, chamavam e assoviavam alegremente para eles. Os viajantes que passavam lhes desejavam “Bom dia,” ou paravam para elogiar a beleza de sua caravana, e os coelhos, sentados às suas portas nas cercanias, erguiam as patinhas dianteiras e diziam: “Oh, céus! Oh, céus! Oh, céus!”
Já tarde da noite, cansados e felizes, a muitas milhas de casa, eles pararam em um descampado remoto, longe de qualquer habitação, soltaram o cavalo para pastar e jantaram uma refeição simples ao lado da caravana, sentados no gramado. O Sapo falou bastante sobre tudo o que ele faria nos dias que viriam, enquanto as estrelas cresciam ao redor deles e uma lua amarelo-ouro, silenciosa, surgia de lugar algum para lhes fazer companhia e escutar suas conversas.
Finalmente, eles foram para suas camas na caravana. O Sapo, esticando as pernas, disse sonolento: “Bem, boa noite, pessoal! Esta é a vida de um verdadeiro cavalheiro! Falar sobre o seu velho rio!”
“Eu não falo sobre meu rio,” respondeu o paciente Rato. “Você sabe que eu não falo, Sapo. Mas eu penso nele,” ele acrescentou pateticamente, em um tom mais baixo: “Eu penso nele o tempo todo!”
O Toupeira esticou a pata debaixo de seu cobertor, tateou até alcançar a pata do Rato na escuridão e a apertou. “Vou fazer o que você quiser, Ratinho,” sussurrou ele. “Vamos fugir amanhã de manhã, bem cedo—muito cedo—e voltar ao nosso querido amigo buraco no rio?”
“Não, não. Vamos aguentar,” sussurrou de volta o Rato. “Obrigado, mas eu devo ficar com o Sapo até esta viagem acabar. Não seria seguro deixá-lo sozinho. Não vai demorar muito. As manias dele nunca duram. Boa noite!”
Mas o fim estava mais próximo do que o próprio Rato suspeitava.
Depois de tanto ar fresco e tanta excitação o Sapo dormiu profundamente, e nenhuma quantidade de sacudidas poderia tirá-lo da cama na manhã seguinte. Assim, o Toupeira e o Rato encararam a tarefa com disciplina. O Rato cuidou do cavalo, acendeu a fogueira, limpou as xícaras e pratos da noite anterior e preparou o café da manhã, enquanto o Toupeira foi caminhando até a aldeia mais próxima—bem distante—para buscar leite, ovos e outras coisas que o Sapo, obviamente, tinha esquecido de providenciar.
O duro trabalho já estava feito, e os dois animais estavam descansando, completamente exaustos, quando o Sapo finalmente apareceu, todo fresco e animado, comentando sobre como a vida era fácil e agradável, agora que haviam deixado para trás as preocupações e fadigas da vida doméstica.
Aquele dia foi passado em outro passeio agradável por colinas e estradas de terra, com repouso ao ar livre como antes. Contudo, dessa vez, seus companheiros tomaram cuidado para que Sapo fizesse sua justa parte no trabalho cotidiano. Consequentemente, quando chegou o momento de partir na manhã seguinte, o entusiasmo de Sapo pela simplicidade da vida primitiva já não era o mesmo. Na verdade, ele tentou retomar seu lugar no beliche, de onde foi tirado à força.
Seu caminho os levou, como antes, por estradas estreitas, e foi só na tarde do segundo dia que eles finalmente encontraram a estrada principal. Foi lá que o desastre, repentino e inesperado, os encontrou—um desastre de proporções momentosas para a expedição e extraordinário nas consequências para a carreira futura do Sapo.
Eles estavam caminhando descontraidamente pela estrada principal, com o Toupeira ao lado do cavalo, conversando com ele — já que o cavalo, num momento de queixa solene, tinha reclamado de estar sendo terrivelmente deixado de fora da conversa — enquanto o Sapo e o Rato caminhavam atrás da caravana, conversando, ou melhor, o Sapo falava, e o Rato, de vez em quando, murmurava algo como “Sim, exatamente; e o que você respondeu a ele?”, enquanto na verdade pensava em algo completamente diferente.
Foi então que, ao longe, atrás deles, ouviram um leve zumbido que soava como o ronco distante de uma abelha. Ao olharem para trás, viram uma pequena nuvem de poeira se aproximando a uma velocidade incrível, com um sombrio e energizado núcleo no centro, enquanto um fraco “Poop-poop!” se fez ouvir, como o lamento distante de um animal aflito.
Inicialmente, eles não prestaram muita atenção e voltaram à sua conversa, mas num instante (ou pelo menos pareceu assim), a cena tranquila transformou-se completamente. Com um estrondo de vento e um redemoinho de sons, a causa daquele “Poop-poop!” estava em cima deles! O barulho metálico zunia em seus ouvidos, forçando-os a pular para o lado da estrada, enquanto eram engolfados numa nuvem de poeira muito espessa. O brilho do sol refletindo no vidro e no couro ricamente bordado lhes roubou o fôlego; e em questão de segundos, o carro passou por eles como um furacão.
O cavalo velho, que caminhava lentamente enquanto sonhava com seu pássaro cinza e o sossego do pasto, simplesmente entregou-se aos seus instintos mais primitivos nessa nova e surpreendente situação. Ele pulou, revirou-se, e apesar de todos os esforços do Toupeira para controlá-lo, começou a dar ré, empurrando a caravana em direção à valeta ao lado da estrada. O carro oscilou por um instante e, com um som estridente de rachadura, a bela caravana amarela-canário virou e caiu na valeta, completamente destruída.
O Rato, tomado por uma fúria incontida, começou a pular no meio da estrada. “Seus bandidos!” ele gritou, sacudindo os punhos no ar. “Seus canalhas, salteadores de estrada, roedores de asfalto! Eu vou processá-los! Vou levá-los a todos os tribunais!”
A saudade do seu rio já se dissipara de sua mente, e agora ele agia como o capitão de um navio naufragado por rivais piratas no mar, tentando lembrar todas as frases mordazes que ele costumava proferir contra os mestres dos barcos a vapor quando eles passavam muito perto de sua amada margem, inundando sua sala de estar.
O Sapo, entretanto, sentou-se imediatamente no meio da estrada, suas pernas esticadas para frente, com um olhar vago e enlevado no rosto, murmurando repetidamente para si mesmo: “Poop-poop!”
O Toupeira estava ocupado tentando acalmar o cavalo, e após algum tempo conseguiu. Ele então foi até a caravana caída na valeta e olhou para o desastre. Era uma visão desoladora: painéis quebrados, janelas estilhaçadas, eixos dobrados sem possibilidade de conserto, uma roda completamente destruída, e as latinhas de sardinha espalhadas por todo lugar. O passarinho na gaiola choramingava, pedindo para ser solto.
O Rato juntou-se a ele e, apesar de unirem forças, seus esforços foram inúteis para endireitar a caravana caída. “Sapo!” gritaram juntos. “Venha nos ajudar, não pode?”
O Sapo não respondeu nada, nem fez o menor movimento. Então, eles se aproximaram para ver o que havia de errado. Encontraram-no em um tipo de transe, com um sorriso sonhador no rosto, os olhos ainda fixos na poeira deixada pelo carro que já desaparecera. De tempos em tempos, ainda murmurava “Poop-poop!”
O Rato o sacudiu pelos ombros. “Você vem nos ajudar, Sapo?” perguntou ele, severamente.
“Glorioso, emocionante espetáculo!” murmurou o Sapo, sem se mexer. “A poesia do movimento! A verdadeira maneira de viajar! Hoje aqui—amanhã em outro lugar! Terras e vilas voando pra trás, sempre o horizonte de outro alguém! Ah, que maravilha! Poop-poop! Meu Deus! Meu Deus!”
“Ah, pare de ser um idiota, Sapo!” gritou o Toupeira, desesperadamente.
“Eu nunca soube!” continuou o Sapo, no mesmo tom sonhador, “Todos esses anos desperdiçados, eu nunca soube, nem mesmo sonhei! Mas agora—agora que eu sei! Agora que eu entendo por completo! Oh, que caminho florido se abre diante de mim! Que nuvens de poeira vou deixar para trás ao avançar! Que carrinhos eu jogarei descuidadamente nas valetas com meu avanço magnífico! Carrinhos horríveis—carrinhos comuns—carrinhos amarelo-canário!”
“O que fazemos com ele?” perguntou o Toupeira ao Rato.
“Nada,” respondeu o Rato, firmemente. “Porque realmente não há nada a ser feito. Eu o conheço há muito tempo. Ele está de novo tomado por uma de suas manias. E sempre o afeta assim, no estágio inicial. Ele ficará assim por dias, como um animal sonhando acordado, completamente inútil para qualquer fim prático. Deixe-o aí. Vamos ver o que pode ser feito em relação à caravana.”
Após inspecionar cuidadosamente, perceberam que, mesmo se conseguissem colocá-la de pé, a caravana não poderia mais ser puxada. Os eixos estavam irremediavelmente danificados, e a roda quebrada estava em pedaços.
O Rato amarrou as rédeas do cavalo nas suas costas, pegou a gaiola com o inquieto pássaro em uma das mãos e disse, firmemente ao Toupeira: “Vamos embora! A cidade mais próxima fica a cinco ou seis milhas, e teremos que ir a pé. Quanto mais cedo começarmos, melhor.”
“Mas, e o Sapo?” perguntou o Toupeira, ansioso, enquanto começaram a caminhar. “Não podemos deixá-lo aqui, sentado no meio da estrada nesse estado de distração! Não é seguro. E se outro veículo aparecer?”
“Ah, esqueça o Sapo,” disse o Rato, furioso. “Eu já cansei dele!”
Contudo, não tinham andado muito quando ouviram passos rápidos atrás deles, e o Sapo os alcançou, pegando o braço de ambos, com o olhar ainda distante e respiração ofegante.
“Agora, escute aqui, Sapo!” começou o Rato, severamente. “Assim que chegarmos à cidade, você vai ter de ir direto à delegacia de polícia, ver se sabem algo sobre aquele carro e a quem pertence, e registrar uma queixa contra ele. E então terá que ir ao ferreiro ou ao carpinteiro arranjar o conserto da caravana. Levará algum tempo, mas o estrago não é totalmente irreparável. Enquanto isso, o Toupeira e eu vamos procurar um hotel e arranjar quartos confortáveis até que tudo esteja resolvido e suas emoções tenham se acalmado.”
“Delegacia de polícia! Queixa!” murmurou o Sapo, sonhadoramente. “Eu? Queixar-me daquela visão maravilhosa, daquela visão celestial que me foi concedida! Consertar a caravana? Acabei com as caravanas para sempre. Eu nunca mais quero ver, nem ouvir falar de caravanas. Oh, Rato! Não sabe o quanto sou grato por você ter aceito vir nesta viagem! Eu não teria vindo sem você, e então, talvez nunca teria visto aquele… aquele cisne, aquele raio de sol, aquele trovão! Eu devo tudo a você, meu melhor amigo!”
O Rato virou o rosto, em desespero. “Viu só?” ele disse ao Toupeira, falando por cima da cabeça do Sapo. “Ele está completamente fora de si. Desisto. Quando chegarmos à cidade, vamos direto à estação de trem, e, com alguma sorte, pegaremos um trem de volta para casa ainda esta noite. E se algum dia me vir novamente em uma aventura com este animal provocador…” Ele parou de falar, bufando, e pelo resto da caminhada falou apenas com o Toupeira.
Quando chegaram à cidade, foram direto à estação e deixaram o Sapo na sala de espera de segunda classe, pagando ao porteiro dois centavos para manter um olho atento nele. Em seguida, deixaram o cavalo em uma estrebaria de uma pousada e deram as instruções sobre a caravana e seus pertences da melhor forma que puderam.
Por fim, um trem lento os deixou em uma estação não muito longe do Vila do Sapo, e eles escoltaram o enfeitiçado e sonâmbulo Sapo até sua porta, colocaram-no para dentro e instruíram a governanta que o alimentasse, o despisse e o colocasse na cama. Então, tiraram seu barco do local de guarda, navegaram pelo rio de volta para casa, e, já bem tarde da noite, sentaram-se para jantar no seu aconchegante salão à beira-rio, para grande alegria e contentamento do Rato.
Na noite seguinte, o Toupeira, que acordou tarde e passou o dia relaxando, estava sentado na margem, pescando, quando o Rato apareceu, já tendo visitado os amigos e trocado fofocas. “Já ouviu as novidades?” ele disse. “Não se fala de outra coisa em toda a margem do rio. O Sapo foi bem cedo hoje até a cidade. E ele encomendou um carro—grande e muito caro.”
Capítulo 3: O Bosque Selvagem
O Toupeira há muito tempo queria conhecer o Texugo. Ele parecia, por todas as contas, ser um animal muito importante e, embora raramente visível, fazer com que sua influência invisível fosse sentida por todos ao seu redor. Mas sempre que o Toupeira mencionava seu desejo ao Rato do Rio, ele sempre encontrava uma desculpa. “Está tudo bem,” diria o rato. “O Texugo vai aparecer algum dia – ele sempre aparece – e então eu vou apresentá-lo a você. O melhor dos caras! Mas você não pode apenas levá-lo como você o encontra, mas quando você o encontra.”
“Você não pode convidá-lo para jantar ou algo assim?” perguntou o Toupeira.
“Ele não viria,” respondeu o rato simplesmente. “O Texugo odeia a sociedade, e convites, e jantares, e todas essas coisas.”
“Bem, então, supondo que vamos visitá-lo?” sugeriu o Toupeira.
“Oh, estou seguro de que ele não gostaria disso de jeito nenhum,” disse o rato, alarmado. “Ele é muito tímido, ele certamente se ofenderia. Eu nunca me atrevi a visitá-lo em sua própria casa, embora eu o conheça tão bem. Além disso, não podemos. É completamente fora de questão, porque ele mora no meio da Floresta Selvagem.”
“Bem, supondo que ele faça isso,” disse o Toupeira. “Você me disse que a Floresta Selvagem era tudo bem, você sabe.”
“Oh, eu sei, eu sei, é assim,” respondeu o rato de forma evasiva. “Mas acho que não vamos lá agora. Não agora. É um longo caminho, e ele não estaria em casa nesta época do ano de qualquer forma, e ele virá algum dia, se você esperar pacientemente.”
O Toupeira teve que se contentar com isso. Mas o Texugo nunca veio, e todos os dias traziam seus próprios prazeres, e não foi até que o verão passou há muito tempo, e o frio e a geada e os caminhos lamacentos os mantiveram muito dentro de casa, e o rio inchado corria rápido fora das janelas com uma velocidade que zombava de qualquer tipo de navegação, que ele encontrou seus pensamentos voltando com muita persistência para o Texugo cinzento solitário, que vivia sua própria vida sozinho, em seu buraco no meio da Floresta Selvagem.
No inverno, o rato dormia muito, se retirando cedo e se levantando tarde. Durante seu curto dia, ele às vezes escrevia poesia ou fazia outros pequenos trabalhos domésticos em casa; e, claro, sempre havia animais que apareciam para conversar, e consequentemente havia muita troca de histórias e comparação de notas sobre o verão passado e todas as suas atividades.
Que capítulo rico havia sido, quando se olhava para trás! Com ilustrações tão numerosas e tão coloridas! A procissão da margem do rio havia marchado firmemente, desdobrando-se em cenas que se sucediam em procissão majestosa. A erva-roxa chegou cedo, sacudindo mechas luxuriantes e emaranhadas ao longo da borda do espelho de onde seu próprio rosto ria de volta para ele. A erva-de-São-João, terna e saudosa, como uma nuvem rosa no pôr do sol, não demorou a seguir. A consolda, a roxa de mãos dadas com a branca, rastejou para tomar seu lugar na linha; e finalmente, uma manhã, a rosa silvestre tímida e atrasada pisou delicadamente no palco, e sabia-se, como se a música de cordas tivesse anunciado em acordes majestosos que vagavam em uma gavota, que junho finalmente havia chegado. Um membro da companhia ainda era esperado; o pastorzinho para as ninfas cortejarem, o cavaleiro para quem as senhoras esperavam na janela, o príncipe que iria beijar o verão adormecido de volta à vida e ao amor. Mas quando a rainha-dos-prados, deslumbrante e perfumada em jaqueta de âmbar, se moveu graciosamente para seu lugar no grupo, então a peça estava pronta para começar.
E que peça havia sido! Animais sonolentos, confortáveis em seus buracos enquanto o vento e a chuva batiam em suas portas, ainda lembravam das manhãs claras, uma hora antes do nascer do sol, quando a névoa branca, ainda não dispersa, se agarrava ao longo da superfície da água; então o choque do mergulho cedo, a corrida ao longo da margem, e a transformação radiante da terra, do ar e da água, quando de repente o sol estava com eles novamente, e o cinzento era ouro e a cor nascia e saltava da terra mais uma vez. Eles lembravam da sesta langorosa do meio-dia quente, profunda na vegetação verde, o sol atingindo em pequenos feixes de ouro e manchas; a navegação e o banho da tarde, as caminhadas ao longo de estradas poeirentas e através de campos de milho amarelos; e a longa noite fresca, finalmente, quando tantos fios eram reunidos, tantas amizades arredondadas, e tantas aventuras planejadas para o amanhã. Havia muito o que conversar naqueles curtos dias de inverno, quando os animais se encontravam ao redor do fogo; ainda assim, o Toupeira tinha muito tempo livre em suas mãos, e assim, certa tarde, quando o rato em sua poltrona diante do fogo estava alternadamente cochilando e tentando rimas que não funcionavam, ele formou a resolução de sair sozinho e explorar a Floresta Selvagem, e talvez fazer amizade com o Sr. Texugo.
Era uma tarde fria e silenciosa, com um céu duro como aço acima, quando ele saiu do aconchegante salão para o ar livre. O país estava nu e completamente sem folhas ao seu redor, e ele pensou que nunca havia visto tão longe e tão intimamente o interior das coisas como naquele dia de inverno, quando a natureza estava profundamente adormecida e parecia ter chutado as roupas para fora. Bosques, vales, pedreiras e todos os lugares escondidos, que haviam sido minas misteriosas para exploração no verão folhoso, agora se expunham e seus segredos se mostravam pateticamente, e pareciam pedir-lhe que desse uma olhada em sua pobreza maltrapilha por um tempo, até que pudessem se rebelar em um rico disfarce como antes, e enganar e seduzir com as velhas ilusões. Era lamentável de certa forma, e no entanto animador – até mesmo estimulante. Ele estava feliz por gostar do país sem enfeites, duro e despojado de sua elegância. Ele havia chegado aos ossos nus dele, e eles eram finos e fortes e simples. Ele não queria o trevo quente e o jogo das gramíneas que lançavam sementes; as telas de sebe, a tapeçaria ondulante de faia e olmo pareciam melhores longe; e com grande alegria de espírito, ele avançou em direção à Floresta Selvagem, que jazia diante dele, baixa e ameaçadora, como um recife negro em algum mar meridional tranquilo.
Não havia nada para alarmá-lo na primeira entrada. Galhos estalavam sob seus pés, troncos o tropeçavam, fungos em tocos pareciam caricaturas, e o assustaram por um momento por sua semelhança com algo familiar e distante; mas isso era tudo diversão, e emocionante. Isso o levou a continuar, e ele penetrou até onde a luz era menor, e as árvores se agachavam mais e mais perto, e buracos faziam bocas feias para ele de ambos os lados.
Tudo estava muito parado agora. O crepúsculo avançava sobre ele firmemente, rapidamente, reunindo-se atrás e à frente; e a luz parecia estar drenando como água de inundação.
Então os rostos começaram.
Foi por cima do ombro, e de forma indistinta, que ele primeiro pensou que viu um rosto; um pequeno rosto em forma de cunha, com olhos duros, olhando para ele de um buraco. Quando ele se virou e o confrontou, a coisa havia desaparecido.
Ele acelerou o passo, dizendo a si mesmo alegremente para não começar a imaginar coisas, ou não haveria fim para isso. Ele passou por outro buraco, e outro, e outro; e então – sim! – não! – sim! – certamente um pequeno rosto estreito, com olhos duros, havia piscado para ele por um instante de um buraco, e havia desaparecido. Ele hesitou – se recompôs para um esforço e prosseguiu. Então, de repente, e como se tivesse sido assim o tempo todo, cada buraco, longe e perto, e havia centenas deles, parecia possuir um rosto, indo e vindo rapidamente, todos fixando nele olhares de malícia e ódio: todos de olhos duros e maus e afiados.
Se ele pudesse apenas se afastar dos buracos nas margens, pensou, não haveria mais rostos. Ele saiu do caminho e mergulhou nos lugares não trilhados da floresta.
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Então o assobio começou.
Era muito fraco e agudo, e estava muito atrás dele, quando ele o ouviu pela primeira vez; mas de alguma forma isso o fez apressar o passo. Então, ainda muito fraco e agudo, soou muito à frente dele, e o fez hesitar e querer voltar. Enquanto ele parou em indecisão, ele explodiu de ambos os lados, e parecia ser pego e passado por toda a extensão da floresta até seu limite mais distante. Eles estavam alertas e prontos, evidentemente, quem quer que fossem! E ele – ele estava sozinho, e desarmado, e longe de qualquer ajuda; e a noite estava fechando.
Então a pancada começou.
Ele pensou que era apenas folhas caindo no início, tão leve e delicada era a pancada. Então, à medida que crescia, ela tomava um ritmo regular, e ele sabia que não era nada mais do que a pancada de pés pequenos, ainda muito longe. Estava na frente ou atrás? Parecia ser primeiro uma coisa, e depois a outra, então ambas. Cresceu e se multiplicou, até que de todos os lados, conforme ele ouvia ansiosamente, inclinando-se para um lado e para o outro, parecia estar fechando-se em torno dele. Enquanto ele estava parado para ouvir, um coelho veio correndo em sua direção através das árvores. Ele esperou, esperando que ele reduzisse a velocidade, ou que desviasse dele para um curso diferente. Em vez disso, o animal quase o escovou ao passar, seu rosto definido e duro, seus olhos fixos. “Sai daqui, seu tolo, sai!” o Toupeira ouviu-o murmurar enquanto ele girava em torno de um toco e desaparecia em uma toca amigável.
A pancada aumentou até que soou como granizo repentino no tapete de folhas secas espalhado ao seu redor. Toda a floresta parecia estar correndo agora, correndo forte, caçando, perseguindo, fechando-se em torno de algo ou – alguém? Em pânico, ele começou a correr também, sem rumo, ele não sabia para onde. Ele correu contra coisas, caiu sobre coisas e em coisas, mergulhou sob coisas e desviou-se de coisas. Por fim, ele se refugiou na caverna profunda e escura de uma velha árvore de faia, que oferecia abrigo, esconderijo – talvez até segurança, mas quem poderia dizer? De qualquer forma, ele estava cansado demais para correr mais, e só podia se aconchegar nas folhas secas que haviam caído na caverna e esperar que estivesse seguro por um tempo. E enquanto ele jazia ali, ofegante e tremendo, e ouvia os assobios e as pancadas do lado de fora, ele sabia enfim, em toda a sua plenitude, aquela coisa terrível que outros pequenos moradores de campo e sebes haviam encontrado ali, e conhecido como seu momento mais sombrio – aquela coisa que o rato havia tentado em vão protegê-lo – o Terror da Floresta Selvagem!
Enquanto isso, o rato, quente e confortável, cochilava ao lado do fogo. Seu papel de versos inacabados escorregou de seu joelho, sua cabeça caiu para trás, sua boca se abriu, e ele vagou pelas margens verdejantes de rios de sonho. Então um carvão escorregou, o fogo estalou e mandou uma chama para cima, e ele acordou com um sobressalto. Lembrou-se do que estava fazendo, estendeu a mão para o chão para seus versos, examinou-os por um minuto, e então olhou em volta para o Toupeira para perguntar se ele sabia uma boa rima para algo ou outro.
Mas o Toupeira não estava lá.
Ele ouviu por um tempo. A casa parecia muito quieta.
Então ele chamou “Moly!” várias vezes, e, não recebendo resposta, levantou-se e saiu para o saguão.
O chapéu do Toupeira estava faltando de seu gancho habitual. Suas galochas, que sempre estavam ao lado do suporte de guarda-chuva, também haviam desaparecido.
O rato saiu da casa e examinou cuidadosamente a superfície lamacenta do solo do lado de fora, esperando encontrar as pegadas do Toupeira. Lá estavam elas, com certeza. As galochas eram novas, compradas para o inverno, e os calombos em suas solas eram frescos e afiados. Ele podia ver as impressões deles na lama, seguindo em linha reta e determinada, levando diretamente à Floresta Selvagem.
O rato parecia muito grave, e ficou em profunda reflexão por um ou dois minutos. Então ele voltou para a casa, prendeu um cinto ao redor da cintura, enfiou um par de pistolas nele, pegou um porrete grosso que estava em um canto do saguão, e partiu em direção à Floresta Selvagem em um ritmo rápido.
Já estava escurecendo quando ele alcançou a primeira franja de árvores e mergulhou sem hesitar na floresta, olhando ansiosamente para ambos os lados para algum sinal de seu amigo. Aqui e ali, rostos malvados e pequenos surgiram de buracos, mas desapareceram imediatamente à vista do animal valente, suas pistolas e o grande porrete feio em seu punho; e o assobio e a pancada, que ele havia ouvido muito claramente em sua primeira entrada, morreram e cessaram, e tudo ficou muito quieto. Ele fez seu caminho corajosamente através da extensão da floresta, até sua borda mais distante; então, abandonando todos os caminhos, ele se dispôs a atravessá-la, trabalhando laboriosamente sobre todo o solo, e o tempo todo chamando alegremente, “Moly, Moly, Moly! Onde você está? Sou eu – sou o velho Rato!”
Ele havia caçado pacientemente através da floresta por uma hora ou mais, quando finalmente, para sua alegria, ouviu um pequeno grito de resposta. Guiando-se pelo som, ele fez seu caminho através da escuridão crescente até o pé de uma velha árvore de faia, com um buraco nela, e de dentro do buraco veio uma voz fraca, dizendo “Rato! É você mesmo?”
O rato rastejou para a caverna, e lá encontrou o Toupeira, exausto e ainda tremendo. “Oh, Rato!” ele gritou, “Eu estou tão assustado, você não pode imaginar!”
“Oh, eu entendo perfeitamente,” disse o rato de forma tranquilizadora. “Você não deveria ter ido e feito isso, Mole. Eu fiz o meu melhor para mantê-lo longe disso. Nós, os moradores da margem do rio, raramente vamos lá sozinhos. Se tivermos que ir, vamos em pares, pelo menos; então estamos geralmente bem. Além disso, há cem coisas que você precisa saber, que entendemos e você não, ainda. Quero dizer, senhas, e sinais, e ditados que têm poder e efeito, e plantas que você carrega no bolso, e versos que você repete, e truques e artifícios que você pratica; todos simples o suficiente quando você os conhece, mas eles precisam ser conhecidos se você for pequeno, ou você encontrará problemas. Claro que se você fosse o Sr. Texugo ou o Sr. Lontra, seria outra coisa.”
“Certamente o corajoso Sr. Sapo não se importaria em ir lá sozinho, não é?” perguntou o Toupeira.
“O velho Sapo?” disse o rato, rindo cordialmente. “Ele não mostraria sua cara lá sozinho, não por um chapéu cheio de guinéus de ouro, o Sapo não mostraria.”
O Toupeira foi muito animado pelo som da risada despreocupada do rato, bem como pela visão de seu porrete e suas pistolas brilhantes, e ele parou de tremer e começou a se sentir mais corajoso e mais ele mesmo novamente.
“Agora então,” disse o rato, “nós realmente devemos nos reunir e fazer um começo para casa enquanto ainda há um pouco de luz. Não será bom passar a noite aqui, você entende. Muito frio, por um lado.”
“Querido Rato,” disse o pobre Toupeira, “eu estou terrivelmente arrependido, mas estou simplesmente exausto e é um fato sólido. Você deve me deixar descansar aqui por um tempo mais, e recuperar minhas forças, se eu for para casa de todo.”
“Oh, tudo bem,” disse o rato de bom coração, “descanse. Está quase completamente escuro agora, de qualquer forma; e deve haver um pouco de lua mais tarde.”
Então o Toupeira se aconchegou nas folhas secas e se esticou, e logo caiu no sono, embora de um tipo quebrado e perturbado; enquanto o rato se cobria também, tanto quanto possível, para se aquecer, e esperava pacientemente, com uma pistola em sua pata.
Quando o Toupeira finalmente acordou, muito revigorado e em seu estado de espírito habitual, o rato disse, “Agora então! Vou apenas dar uma olhada lá fora e ver se tudo está quieto, e então nós realmente devemos partir.”
Ele foi até a entrada de seu refúgio e colocou a cabeça para fora. Então o Toupeira o ouviu dizendo baixinho para si mesmo, “Olá! olá! aqui – é – um – vá!”
“O que é, Rato?” perguntou o Toupeira.
“A neve está caindo,” respondeu o rato brevemente; “ou melhor, está descendo. Está nevando forte.”
O Toupeira veio e se agachou ao lado dele, e, olhando para fora, viu a floresta que havia sido tão terrível para ele em um aspecto completamente mudado. Buracos, cavidades, poças, armadilhas e outros perigos negros para o viajante estavam desaparecendo rapidamente, e um tapete de fantasia brilhante estava surgindo em todos os lugares, que parecia delicado demais para ser pisoteado por pés rudes. Um pó fino enchia o ar e acariciava a bochecha com um toque picante, e os troncos negros das árvores se mostravam em uma luz que parecia vir de baixo.
“Bem, bem, não há nada a fazer,” disse o rato, depois de ponderar. “Nós devemos começar e correr o risco, suponho. O pior é que eu não sei exatamente onde estamos. E agora essa neve faz com que tudo pareça tão diferente.”
Realmente fazia. O Toupeira não saberia que era a mesma floresta. No entanto, eles partiram corajosamente, e tomaram a linha que parecia mais promissora, segurando um ao outro e fingindo com alegria invencível que reconheciam um velho amigo em cada árvore fresca que os saudava silenciosamente, ou viam aberturas, lacunas ou caminhos com uma curva familiar neles, na monotonia do espaço branco e dos troncos negros das árvores que se recusavam a variar.
Uma hora ou duas depois – eles haviam perdido toda a noção de tempo – eles pararam, desanimados, cansados e sem esperança, e sentaram-se em um tronco de árvore caído para recuperar o fôlego e considerar o que fazer. Estavam doendo de fadiga e machucados com tombos; eles haviam caído em vários buracos e se molhado; a neve estava ficando tão profunda que eles mal podiam arrastar suas pernas através dela, e as árvores estavam mais grossas e mais parecidas umas com as outras do que nunca. Parecia não haver fim para essa floresta, e nenhum começo, e nenhuma diferença nela, e, pior de tudo, nenhuma saída.
“Não podemos sentar aqui por muito tempo,” disse o rato. “Nós teremos que fazer outro esforço e fazer algo ou outro. O frio é muito terrível para qualquer coisa, e a neve logo estará muito profunda para nós atravessarmos.” Ele olhou em volta e considerou. “Olhe aqui,” ele prosseguiu, “isso é o que me ocorre. Há uma espécie de vale lá embaixo na nossa frente, onde o solo parece todo montanhoso e irregular. Nós faremos nosso caminho até lá, e tentaremos encontrar algum tipo de abrigo, uma caverna ou buraco com um chão seco, fora da neve e do vento, e lá nós teremos um bom descanso antes de tentarmos novamente, pois estamos ambos muito cansados. Além disso, a neve pode parar, ou algo pode aparecer.”
Então, mais uma vez, eles se levantaram, e lutaram para descer até o vale, onde caçaram por uma caverna ou algum canto que fosse seco e uma proteção contra o vento cortante e a neve que girava. Estavam investigando um dos pedaços montanhosos que o rato havia mencionado, quando de repente o Toupeira tropeçou e caiu para a frente em seu rosto com um guincho.
“Oh, minha perna!” ele gritou. “Oh, minha pobre canela!” e ele sentou-se na neve e segurou sua perna com ambas as patas da frente.
“Pobre velho Mole!” disse o rato gentilmente.
“Você não parece estar tendo muita sorte hoje, não é? Vamos dar uma olhada na perna. Sim,” ele prosseguiu, ajoelhando-se para olhar, “você cortou sua canela, certamente. Espere até que eu pegue meu lenço, e eu vou amarrá-lo para você.”
“Eu devo ter tropeçado em um galho escondido ou um toco,” disse o Toupeira miseravelmente. “Oh, meu! Oh, meu!”
“É um corte muito limpo,” disse o rato, examinando-o novamente com atenção. “Isso nunca foi feito por um galho ou um toco. Parece como se tivesse sido feito por uma aresta afiada de algo de metal. Engraçado!” Ele ponderou por um momento, e examinou os montes e encostas que os cercavam.
“Bem, não importa o que fez isso,” disse o Toupeira, esquecendo sua gramática em sua dor. “Isso dói do mesmo jeito, seja o que for que fez isso.”
Mas o rato, depois de amarrar cuidadosamente a perna com seu lenço, havia deixado o Toupeira e estava ocupado raspando na neve. Ele arranhou e cavou e explorou, todas as quatro patas trabalhando diligentemente, enquanto o Toupeira esperava impacientemente, comentando em intervalos, “Oh, vamos, Rato!”
De repente, o rato gritou “Hurra!” e depois “Hurra-uu-uu-uu-uu!” e começou a dançar na neve.
“O que você encontrou, Rato?” perguntou o Toupeira, ainda cuidando de sua perna.
“Venha e veja!” disse o rato deliciado, enquanto dançava.
O Toupeira mancou até o local e deu uma boa olhada.
“Bem,” ele disse finalmente, lentamente, “EU VEJO isso bem o suficiente. Vi a mesma coisa antes, muitas vezes. Objeto familiar, eu o chamo. Uma raspadeira de porta! Bem, o que isso é? Por que dançar ao redor de uma raspadeira de porta?”
“Mas você não vê o que isso significa, você – você animal de cabeça dura?” gritou o rato impacientemente.
“Claro que eu vejo o que isso significa,” respondeu o Toupeira. “Isso simplesmente significa que alguma pessoa muito descuidada e esquecida deixou sua raspadeira de porta espalhada no meio da Floresta Selvagem, exatamente onde é certo que tropece em todos. Muito desatento da parte dele, eu o chamo. Quando eu chegar em casa, vou reclamar sobre isso para – para alguém ou outro, veja se eu não faço!”
“Oh, querido! Oh, querido!” gritou o rato, desesperado com sua obtusidade. “Isso deve parar. Nem mais uma palavra, mas raspe – raspe e arranhe e cave e cave em volta, especialmente nos lados dos montes, se você quiser dormir seco e quente esta noite, pois é nossa última chance!”
O rato atacou um banco de neve ao lado deles com ardor, sondando com seu porrete em todos os lugares e então cavando com fúria; e o Toupeira raspou diligentemente também, mais para agradar o rato do que por qualquer outra razão, pois sua opinião era que seu amigo estava ficando leve demais.
Cerca de dez minutos de trabalho duro, e a ponta do porrete do rato atingiu algo que soou oco. Ele trabalhou até que pudesse colocar uma pata através e sentir; então chamou o Toupeira para vir e ajudá-lo. Duro no trabalho foram os dois animais, até que finalmente o resultado de seus esforços ficou em plena vista do Toupeira atônito e até então incrédulo.
No lado do que parecia ser um banco de neve, estava uma porta pequena e sólida, pintada de verde escuro. Um puxador de sino de ferro pendia ao lado, e abaixo dele, em uma placa de latão pequena, gravada em letras maiúsculas quadradas, eles podiam ler com a ajuda da luz da lua
SR. TEXUGO.
O Toupeira caiu para trás na neve por pura surpresa e deleite. “Rato!” ele gritou em penitência, “você é um prodígio! Um verdadeiro prodígio, é o que você é. Eu vejo tudo agora! Você argumentou isso passo a passo, em sua cabeça sábia, desde o momento em que eu caí e cortei minha canela, e você olhou para o corte, e imediatamente sua mente majestosa disse a si mesma, ‘Raspadeira de porta!’ E então você se virou e encontrou a própria raspadeira de porta que fez isso! Você não parou por aí? Não. Algumas pessoas teriam ficado satisfeitas; mas não você. Sua inteligência continuou trabalhando. ‘Deixe-me apenas encontrar um capacho,’ diz você para si mesmo, ‘e minha teoria está provada!’ E claro que você encontrou seu capacho. Você é tão inteligente, acredito que você possa encontrar qualquer coisa que queira. ‘Agora,’ diz você, ‘essa porta existe, tão claramente quanto se eu a visse. Não há mais nada a fazer senão encontrá-la!’ Bem, eu li sobre esse tipo de coisa em livros, mas nunca encontrei isso antes na vida real. Você deveria ir para onde será devidamente apreciado. Você é simplesmente desperdiçado aqui, entre nós.”
“Mas como você não tem,” interrompeu o rato, de forma um pouco desagradável, “suponho que você vai sentar-se na neve a noite toda e conversar? Levante-se imediatamente e segure aquele puxador de sino que você vê ali, e toque com força, tão forte quanto puder, enquanto eu bato!”
Enquanto o rato atacava a porta com seu porrete, o Toupeira se levantou até o puxador de sino, agarrou-o e balançou, ambos os pés bem fora do chão, e de muito longe eles podiam ouvir vagamente um sino profundo responder.
Capítulo 4: Sr. Texugo
Eles esperaram pacientemente por um tempo que parecia muito longo, batendo os pés na neve para manter os pés aquecidos. Finalmente, ouviram o som de passos lentos e arrastados se aproximando da porta por dentro. Parecia, como o Toupeira observou para o Rato, como alguém andando de chinelos que eram grandes demais para ele e estavam gastos nos calcanhares; o que era inteligente do Toupeira, porque era exatamente o que era.
Houve o barulho de uma trava sendo aberta, e a porta se abriu alguns centímetros, o suficiente para mostrar um focinho longo e um par de olhos sonolentos e piscando.
“Agora, na próxima vez que isso acontecer”, disse uma voz rouca e desconfiada, “eu estarei muito zangado. Quem é desta vez, perturbando as pessoas em uma noite dessas? Fale!”
“Oh, Texugo”, gritou o Rato, “deixe-nos entrar, por favor. É eu, Rato, e meu amigo Toupeira, e nos perdemos na neve.”
“O que, Ratinho, meu querido homenzinho!”, exclamou o Texugo, em uma voz completamente diferente. “Venham, entrem, ambos, imediatamente. Vocês devem estar congelados. Bem, eu nunca! Perdidos na neve! E na Selva Selvagem, também, e a esta hora da noite! Mas entrem, entrem.”
Os dois animais tropeçaram um no outro em sua ansiedade para entrar, e ouviram a porta se fechar atrás deles com grande alegria e alívio.
O Texugo, que usava um roupão longo, e cujos chinelos estavam realmente muito gastos nos calcanhares, carregava um castiçal achatado em sua pata e provavelmente estava a caminho da cama quando sua chamada soou. Ele olhou bondosamente para eles e acariciou as cabeças de ambos. “Esta não é a noite para pequenos animais estarem fora”, disse ele paternalmente. “Eu acho que vocês estiveram fazendo alguma das suas travessuras novamente, Ratinho. Mas venham, venham para a cozinha. Há um fogo excelente lá, e jantar e tudo.”
Ele os levou para uma cozinha grande e aconchegante, com um chão de tijolos vermelhos e uma lareira larga, onde ardia um fogo de lenha. Havia dois cantos de lareira atraentes, encaixados na parede, bem longe de qualquer suspeita de corrente de ar. Um par de assentos altos e confortáveis, de frente um para o outro, em cada lado do fogo, davam mais espaço para sentar-se. No meio da sala, havia uma longa mesa de madeira simples, colocada sobre cavaletes, com bancos em cada lado. Em uma das extremidades, onde uma cadeira de braços estava empurrada para trás, estavam espalhados os restos do jantar simples, mas abundante, do Texugo. Fileiras de pratos limpos brilhavam nas prateleiras do guarda-louça, no final da sala, e dos caibros acima pendiam presuntos, feixes de ervas secas, redes de cebolas e cestas de ovos.
O Texugo os empurrou para um assento para se aquecerem no fogo, e mandou que removessem seus casacos e botas molhados. Então, ele lhes trouxe roupões e chinelos, e ele mesmo banhou a perna do Toupeira com água quente e remendou o corte com esparadrapo até que a coisa toda ficou tão boa quanto nova, se não melhor.
Quando finalmente estavam bem aquecidos, o Texugo os chamou para a mesa, onde havia preparado um banquete. Eles estavam com fome antes, mas quando realmente viram o jantar que estava preparado para eles, parecia apenas uma questão de o que eles deveriam atacar primeiro, onde tudo era tão atraente, e se as outras coisas esperariam gentilmente por eles até que tivessem tempo de dar atenção a elas.
A conversa foi impossível por um longo tempo; e quando foi lentamente retomada, foi aquele tipo lamentável de conversa que resulta de falar com a boca cheia. O Texugo não se importou com esse tipo de coisa, nem notou os cotovelos na mesa ou todos falando ao mesmo tempo. Como ele não frequentava a sociedade, ele tinha a ideia de que essas coisas não importavam. (Sabemos, é claro, que ele estava errado, e que ele teve uma visão estreita demais; porque elas importam muito, embora demorasse muito para explicar por quê.)
Ele sentou-se em sua cadeira de braços na cabeceira da mesa, e assentiu gravemente em intervalos enquanto os animais contavam sua história; e ele não parecia surpreso ou chocado com nada, e nunca disse “Eu disse isso”, ou “Exatamente o que eu sempre disse”, ou comentou que eles deveriam ter feito isso ou aquilo, ou não deveriam ter feito outra coisa.
Quando o jantar finalmente terminou, e cada animal sentiu que sua pele estava agora tão apertada quanto era decentemente seguro, e que, a essa altura, eles não se importavam com ninguém ou nada, eles se reuniram em torno das brasas brilhantes do grande fogo de lenha, e pensaram em como era agradável estar sentado tão tarde, e tão independente, e tão cheio; e após terem conversado por um tempo sobre coisas em geral, o Texugo disse cordialmente: “Agora, então! conte-nos as notícias do seu lado do mundo. Como vai o velho Sapo?”
“Ah, de mal a pior”, disse o Rato gravemente, enquanto o Toupeira, empoleirado em um assento e se aquecendo à luz do fogo, com os calcanhares mais altos que a cabeça, tentava parecer adequadamente triste. “Outro desastre apenas na semana passada, e um ruim. Você vê, ele insistirá em dirigir sozinho, e ele é completamente incapaz. Se ele apenas empregasse um animal decente, firme e bem treinado, pagasse um bom salário e deixasse tudo para ele, ele se sairia bem. Mas não; ele está convencido de que é um motorista nato, e ninguém pode ensinar-lhe nada; e tudo o mais segue.”
“Quantos ele teve?”, perguntou o Texugo sombriamente.
“Desastres, ou máquinas?”, perguntou o Rato. “Ah, bem, é a mesma coisa – com o Sapo. Este é o sétimo. Quanto aos outros – você sabe aquela garagem dele? Bem, está cheia – literalmente cheia até o teto – de fragmentos de carros, nenhum deles maior que o seu chapéu! Isso explica os outros seis – até onde podem ser explicados.”
“Ele esteve no hospital três vezes”, acrescentou o Toupeira; “e quanto às multas que ele teve de pagar, é simplesmente terrível pensar nisso.”
“Sim, e essa é parte do problema”, continuou o Rato. “O Sapo é rico, todos sabemos; mas ele não é um milionário. E ele é um motorista terrível, e sem consideração pela lei e pela ordem. Morto ou arruinado – é uma das duas coisas, mais cedo ou mais tarde. Texugo! somos amigos dele – não deveríamos fazer algo?”
O Texugo pensou profundamente por um momento. “Agora, vejam!”, disse ele finalmente, um pouco severamente; “vocês sabem que eu não posso fazer nada agora?”
Seus dois amigos assentiram, entendendo perfeitamente o seu ponto. Nenhum animal, de acordo com as regras da etiqueta animal, é esperado que faça algo estrenuo, ou heroico, ou mesmo moderadamente ativo durante a temporada de inverno. Todos estão sonolentos – alguns realmente dormindo. Todos estão presos pelo clima, mais ou menos; e todos estão descansando de dias e noites árduos, durante os quais cada músculo neles foi severamente testado, e cada energia foi mantida no limite máximo.
“Muito bem, então!”, continuou o Texugo. “Mas, quando o ano realmente começar, e as noites forem mais curtas, e na metade delas você se sentirá inquieto e querendo estar de pé e fazendo algo ao nascer do sol, se não antes – vocês sabem! -“
Ambos os animais assentiram gravemente. Eles sabiam!
“Bem, então”, prosseguiu o Texugo, “nós – isto é, você e eu e nosso amigo Toupeira aqui – nós vamos levar o Sapo a sério em mãos. Nós não vamos tolerar bobagens. Nós vamos trazê-lo de volta à razão, à força se necessário. Nós vamos fazer com que ele seja um Sapo sensato. Nós vamos – você está dormindo, Rato!”
“Não eu!”, disse o Rato, acordando com um sobressalto.
“Ele esteve dormindo duas ou três vezes desde o jantar”, disse o Toupeira, rindo. Ele próprio estava se sentindo bastante desperto e até animado, embora não soubesse por quê. A razão era, é claro, que ele, sendo naturalmente um animal subterrâneo por nascimento e criação, a situação da casa do Texugo exatamente lhe convinha e o fazia se sentir em casa; enquanto o Rato, que dormia todas as noites em um quarto cujas janelas se abriam para um rio ventoso, naturalmente sentia a atmosfera ainda e opressiva.
“Bem, é hora de todos irmos para a cama”, disse o Texugo, levantando-se e pegando castiçais achatados. “Venham, vocês dois, e eu vou mostrar-lhes seus aposentos. E não se apressem amanhã de manhã – o café da manhã será servido a qualquer hora que vocês quiserem!”
Ele os conduziu a um quarto longo que parecia metade quarto de dormir e metade sótão. As provisões de inverno do Texugo, que de fato eram visíveis em todos os lugares, ocupavam metade do quarto – pilhas de maçãs, nabos e batatas, cestas cheias de nozes e frascos de mel; mas as duas camas brancas no resto do chão pareciam macias e convidativas, e a roupa de cama nelas, embora grosseira, estava limpa e cheirava deliciosamente a lavanda; e o Toupeira e o Rato, sacudindo suas roupas em trinta segundos, caíram na cama com grande alegria e contentamento.
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De acordo com as instruções gentis do Texugo, os dois animais cansados desceram para o café da manhã muito tarde na manhã seguinte, e encontraram um fogo brilhante queimando na cozinha, e dois jovens ouriços sentados em um banco à mesa, comendo mingau de aveia em tigelas de madeira. Os ouriços largaram suas colheres, levantaram-se e abaixaram suas cabeças respeitosamente quando os dois entraram.
“Ah, sentem-se, sentem-se”, disse o Rato agradavelmente, “e continuem com seu mingau. Onde vocês dois vieram? Perderam-se na neve, suponho?”
“Sim, por favor, senhor”, disse o mais velho dos dois ouriços respeitosamente. “Meu irmão Billy e eu estávamos tentando encontrar nosso caminho para a escola – nossa mãe queria que fôssemos, independentemente do tempo – e, é claro, nos perdemos, senhor, e Billy ficou assustado e começou a chorar, sendo jovem e medroso. E, finalmente, chegamos à porta dos fundos do Sr. Texugo e nos atrevemos a bater, senhor, porque o Sr. Texugo é um cavalheiro bondoso, como todos sabem -“
“Entendo”, disse o Rato, cortando algumas fatias de bacon, enquanto o Toupeira colocava alguns ovos em uma panela. “E como está o tempo lá fora? Você não precisa me chamar de ‘senhor’ tanto assim”, acrescentou.
“Oh, terrível, senhor, terrível”, disse o ouriço. “Nenhuma chance de sair para cavalheiros como vocês hoje.”
“Onde está o Sr. Texugo?”, perguntou o Toupeira, enquanto aquecia a cafeteira diante do fogo.
“O patrão foi para o seu estúdio, senhor”, respondeu o ouriço, “e disse que estaria particularmente ocupado esta manhã, e que não deveria ser perturbado de forma alguma.”
Essa explicação, é claro, foi completamente compreendida por todos presentes. O fato é que, como já foi dito, quando você vive uma vida de intensa atividade por seis meses do ano, e de sono comparativo ou real por outros seis, durante este último período você não pode estar sempre alegando sono quando há pessoas por perto ou coisas para fazer. A desculpa fica monótona. Os animais sabiam muito bem que o Texugo, tendo comido um café da manhã farto, havia se retirado para seu estúdio e se acomodado em uma poltrona com as pernas sobre outra e um lenço de algodão vermelho sobre o rosto, e estava sendo “ocupado” da maneira usual nesta época do ano.
A campainha da porta da frente tocou alto, e o Rato, que estava muito sujo de manteiga de torrada, mandou Billy, o ouriço menor, ver quem poderia ser. Houve um som de muita batida no corredor, e logo Billy voltou na frente do Lontra, que se atirou sobre o Rato com um abraço e um grito de saudação alegre.
“Tire isso!”, gaguejou o Rato, com a boca cheia.
“Pensei que fosse encontrar você aqui, sem dúvida”, disse o Lontra alegremente. “Eles estavam todos em um estado de grande alarme ao longo do banco do rio quando cheguei esta manhã. Rato nunca esteve em casa a noite toda – nem o Toupeira também – algo terrível deve ter acontecido, disseram; e a neve havia coberto todos os seus rastros, é claro. Mas eu sabia que quando as pessoas estavam em uma enrascada, elas geralmente iam ao Texugo, ou então o Texugo descobria de alguma forma, então vim direto para cá, através da Selva Selvagem e da neve! Meu! Foi bom, vindo através da neve enquanto o sol vermelho estava nascendo e mostrando-se contra os troncos das árvores negras! Enquanto você caminhava na quietude, de vez em quando grandes quantidades de neve deslizavam dos galhos de repente, com um baque! fazendo você pular e correr para se abrigar. Castelos e cavernas de neve haviam surgido do nada durante a noite – e pontes, terraços, muralhas – eu poderia ter ficado e brincado com elas por horas. Aqui e ali, grandes galhos haviam sido arrancados pelo peso da neve, e melros pousavam e saltavam sobre eles de maneira convencida e presunçosa, como se tivessem feito isso eles mesmos. Uma corda desgrenhada de gansos selvagens passou voando, alto no céu cinzento, e alguns corvos giraram sobre as árvores, inspecionaram e bateram as asas para casa com uma expressão de desgosto; mas eu não encontrei nenhum ser sensato para perguntar as notícias. Cerca da metade do caminho, encontrei um coelho sentado em um toco, limpando seu rosto tolo com as patas. Ele era um animal bastante assustado quando eu me aproximei por trás e coloquei uma pata pesada em seu ombro. Eu tive que dar um tapa na cabeça dele uma ou duas vezes para tirar algum sentido dele. Finalmente, consegui extrair dele que o Toupeira havia sido visto na Selva Selvagem na noite anterior por um deles. Era o assunto das tocas, disse ele, como o Toupeira, o amigo particular do Sr. Rato, estava em uma enrascada; como ele havia perdido o caminho e “Eles” estavam caçando, e estavam fazendo com que ele corresse em círculos. ‘Então, por que nenhum de vocês fez alguma coisa?’ perguntei. ‘Vocês podem não ser abençoados com cérebros, mas há centenas e centenas de vocês, grandes, gordos e fortes, e suas tocas correndo em todas as direções, e vocês poderiam ter levado ele para dentro e feito com que ele estivesse seguro e confortável, ou pelo menos tentado.’ ‘O que, nós?’ ele apenas disse: ‘fazer alguma coisa? nós, coelhos?’ Então, eu dei um tapa nele novamente e o deixei. Não havia mais nada a ser feito. De qualquer forma, eu havia aprendido algo; e se eu tivesse tido a sorte de encontrar algum de “Eles”, eu teria aprendido mais – ou eles.”
“Você não estava – ah – nervoso?”, perguntou o Toupeira, com um pouco do terror de ontem voltando a ele com a menção da Selva Selvagem.
“Nervoso?”, o Lontra mostrou um conjunto de dentes brancos e fortes enquanto ria. “Eu daria a eles nervos se algum deles tentasse algo comigo. Aqui, Toupeira, frite-me algumas fatias de presunto, como o bom menino que você é. Estou com uma fome terrível, e tenho muito a dizer ao Ratinho aqui. Não o vejo há uma idade.”
Então, o bom Toupeira, tendo cortado algumas fatias de presunto, mandou os ouriços fritá-las, e voltou para o seu próprio café da manhã, enquanto o Lontra e o Rato, com as cabeças juntas, conversavam animadamente sobre o rio, que é um assunto longo e interminável, como o próprio rio.
Um prato de presunto frito havia acabado de ser limpo e mandado de volta para mais, quando o Texugo entrou, bocejando e esfregando os olhos, e cumprimentou todos em sua maneira quieta e simples, com perguntas gentis para todos. “Deve estar quase na hora do almoço”, observou ele para o Lontra. “Melhor parar e almoçar conosco. Você deve estar com fome, nesta manhã fria.”
“Com certeza!”, respondeu o Lontra, piscando para o Toupeira. “A visão desses jovens ouriços gordos se empanturrando de presunto frito me faz sentir positivamente faminto.”
Os ouriços, que estavam apenas começando a se sentir com fome novamente após o mingau, e depois de trabalhar tão duro na fritura, olharam timidamente para o Sr. Texugo, mas eram tímidos demais para dizer qualquer coisa.
“Aqui, vocês dois jovens, voltem para casa para sua mãe”, disse o Texugo bondosamente. “Vou mandar alguém com vocês para mostrar o caminho. Vocês não precisarão de jantar hoje, eu aposto.”
Ele lhes deu seis pence cada um e um tapa na cabeça, e eles foram embora com muita reverência, balançando seus chapéus e tocando suas testas.
Logo, todos se sentaram para almoçar juntos. O Toupeira se viu sentado ao lado do Sr. Texugo, e, como os outros dois ainda estavam mergulhados em conversas sobre o rio, das quais nada podia desviá-los, ele aproveitou a oportunidade para dizer ao Texugo como tudo se sentia confortável e caseiro para ele. “Uma vez bem subterrâneo”, disse ele, “você sabe exatamente onde está. Nada pode acontecer com você, e nada pode chegar até você. Você é completamente seu próprio mestre, e você não precisa consultar ninguém ou se importar com o que dizem. As coisas acontecem todas da mesma maneira acima, e você as deixa, e não se preocupa com elas. Quando você quer, você sobe, e lá estão as coisas, esperando por você.”
O Texugo simplesmente sorriu para ele. “Isso é exatamente o que eu digo”, respondeu. “Não há segurança, ou paz e tranquilidade, exceto no subsolo. E então, se suas ideias ficarem maiores e você quiser expandir – por que, um escava e um raspa, e lá está você! Se você sente que sua casa é um pouco grande demais, você fecha um ou dois buracos, e lá está você novamente! Nenhum construtor, nenhum comerciante, nenhum comentário passado sobre você por colegas olhando sobre seu muro, e, acima de tudo, nenhum clima. Olhe para o Rato, agora. Dois pés de água de enchente, e ele tem que se mudar para alojamentos alugados; desconfortável, mal situado e horrivelmente caro. Pegue o Sapo. Eu não digo nada contra a casa do Sapo; é a melhor casa nestas partes, como uma casa. Mas suponha que um incêndio comece – onde está o Sapo? Suponha que telhas sejam sopradas, ou paredes afundem ou rachem, ou janelas sejam quebradas – onde está o Sapo? Suponha que os quartos sejam ventosos – eu odeio uma corrente de ar – onde está o Sapo? Não, para cima e para fora é bom o suficiente para vagar e ganhar a vida; mas no subsolo para voltar para casa – essa é a minha ideia de lar!”
O Toupeira concordou cordialmente; e o Texugo, em consequência, ficou muito amigável com ele. “Quando o almoço terminar”, disse ele, “vou mostrar a todos vocês este pequeno lugar meu. Posso ver que você vai apreciá-lo. Você entende o que a arquitetura doméstica deve ser, você faz.”
Depois do almoço, de acordo, quando os outros dois haviam se acomodado na esquina da lareira e haviam começado uma discussão acalorada sobre o assunto de enguias, o Texugo acendeu uma lanterna e pediu ao Toupeira que o seguisse. Cruzando o corredor, eles passaram por um dos principais túneis, e a luz tremeluzente da lanterna deu vislumbres de cada lado de quartos grandes e pequenos, alguns meros armários, outros quase tão amplos e imponentes quanto a sala de jantar do Sapo. Uma passagem estreita em ângulo reto os levou a outro corredor, e aqui a mesma coisa foi repetida. O Toupeira ficou espantado com o tamanho, a extensão e as ramificações de tudo; com o comprimento dos corredores sombrios, a abóbada sólida das câmaras de armazenamento cheias, a alvenaria em todos os lugares, os pilares, os arcos e os pavimentos.
“Como, em nome de tudo, Texugo”, disse ele finalmente, “você encontrou tempo e força para fazer tudo isso? É espantoso!”
“Seria espantoso, de fato”, disse o Texugo simplesmente, “se eu tivesse feito isso. Mas, como um fato, eu não fiz nada disso – apenas limpei os corredores e câmaras, até onde eu precisava deles. Há muito mais disso, tudo ao redor. Eu vejo que você não entende, e devo explicar a você. Bem, muito tempo atrás, no local onde a Selva Selvagem agora ondula, antes de ela ter se plantado e crescido para o que é agora, havia uma cidade – uma cidade de pessoas, você sabe. Aqui, onde estamos parados, eles viviam, e caminhavam, e falavam, e dormiam, e faziam negócios. Aqui eles estabeleceram seus cavalos e se banquetaram, daqui eles cavalgaram para lutar ou dirigiram para comerciar. Eles eram um povo poderoso e rico, e grandes construtores. Eles construíram para durar, pois pensavam que sua cidade duraria para sempre.”
“Mas o que aconteceu com todos eles?”, perguntou o Toupeira.
“Quem pode dizer?”, disse o Texugo. “As pessoas vêm – elas ficam por um tempo, elas florescem, elas constroem – e elas vão. É o jeito delas. Mas nós permanecemos. Havia Texugos aqui, eu fui informado, muito antes de aquela cidade vir a ser. E agora há Texugos aqui novamente. Nós somos um povo duradouro, e podemos nos mudar por um tempo, mas esperamos e somos pacientes, e voltamos. E assim será sempre.”
“Bem, e quando eles foram embora, aquelas pessoas?”, disse o Toupeira.
“Quando eles foram”, continuou o Texugo, “os ventos fortes e as chuvas persistentes tomaram o assunto em mãos, pacientemente, incessantemente, ano após ano. Talvez nós, Texugos, também, à nossa maneira, tenhamos ajudado um pouco – quem sabe? Era tudo para baixo, para baixo, gradualmente – ruína e aplainamento e desaparecimento. Então era tudo para cima, para cima, gradualmente, à medida que as sementes cresciam em árvores jovens, e as árvores jovens em árvores da floresta, e os espinheiros e os fetos vinham se insinuando para ajudar. O manto de folhas subiu e obliterou, os riachos em suas cheias de inverno trouxeram areia e solo para entupir e cobrir, e com o tempo nossa casa estava pronta para nós novamente, e nos mudamos para dentro. Acima de nós, na superfície, a mesma coisa aconteceu. Os animais chegaram, gostaram do lugar, se estabeleceram, se espalharam e floresceram. Eles não se preocuparam com o passado – eles nunca fazem; eles estão ocupados demais. O lugar era um pouco irregular e cheio de buracos; mas isso era mais uma vantagem. E eles não se preocupam com o futuro, tampouco – o futuro quando, talvez, as pessoas se mudarão novamente por um tempo – como pode muito bem ser. A Selva Selvagem está bastante povoada agora; com todo o lote usual, bom, ruim e indiferente – não cito nomes. É preciso todo tipo de animal para fazer um mundo. Mas eu imagino que você saiba algo sobre eles agora.”
“Eu sei, de fato”, disse o Toupeira, com um leve arrepio.
“Bem, bem”, disse o Texugo, dando um tapinha no ombro do Toupeira, “foi sua primeira experiência com eles, você vê. Eles não são tão ruins, realmente; e todos devemos viver e deixar viver. Mas eu vou passar a palavra amanhã, e acho que você não terá mais problemas. Qualquer amigo meu caminha onde quiser neste país, ou eu saberei o motivo!”
Quando voltaram para a cozinha novamente, encontraram o Rato andando de um lado para o outro, muito inquieto. A atmosfera subterrânea estava oprimindo-o e afetando seus nervos, e ele parecia realmente temer que o rio fugisse se ele não estivesse lá para cuidar dele. Então, ele vestiu seu casaco, e suas pistolas foram empurradas para o cinto novamente. “Venha, Toupeira”, disse ele ansiosamente, assim que viu os dois. “Temos que sair enquanto ainda é dia. Não queremos passar outra noite na Selva Selvagem novamente.”
“Está tudo bem, meu caro companheiro”, disse o Lontra. “Estou vindo com você, e eu conheço todos os caminhos de olhos fechados; e se houver uma cabeça que precise ser socada, você pode confiar em mim para socá-la.”
“Você realmente não precisa se preocupar, Ratinho”, acrescentou o Texugo placidamente. “Meus túneis vão mais longe do que você pensa, e eu tenho buracos de saída para a borda da floresta em várias direções, embora eu não queira que todos saibam sobre eles. Quando você realmente tiver que ir, você sairá por um dos meus atalhos. Enquanto isso, fique à vontade, e sente-se novamente.”
O Rato, no entanto, ainda estava ansioso para sair e cuidar do seu rio, então o Texugo, pegando a lanterna novamente, os levou por um túnel úmido e sem ar que se curvava e mergulhava, parte abobadado, parte cortado na rocha sólida, por uma distância cansativa que parecia ser de milhas. Finalmente, a luz do dia começou a aparecer confusamente através do crescimento emaranhado sobre a boca do túnel; e o Texugo, despedindo-se apressadamente deles, os empurrou para fora pela abertura, fez com que tudo parecesse natural novamente, com videiras, arbustos e folhas mortas, e recuou.
Eles se encontraram parados na borda da Selva Selvagem. Rochas e espinheiros e raízes de árvores atrás deles, confusamente empilhados e emaranhados; à frente, um grande espaço de campos silenciosos, cercados por fileiras de sebes negras na neve, e, ao longe, um vislumbre do velho rio familiar, enquanto o sol de inverno pendia vermelho e baixo no horizonte. O Lontra, sabendo todos os caminhos, assumiu o comando do grupo, e eles seguiram em uma linha reta para um portão distante. Parando lá por um momento e olhando para trás, eles viram a massa inteira da Selva Selvagem, densa, ameaçadora, compacta, severamente fixada em vastos arredores brancos; simultaneamente, eles se voltaram e foram rapidamente para casa, para a luz do fogo e as coisas familiares que ela iluminava, para a voz, soando alegremente fora de sua janela, do rio que eles conheciam e confiavam em todos os seus humores, que nunca os fazia temer com qualquer espanto.
Enquanto se apressava, ansiosamente antecipando o momento em que estaria em casa novamente entre as coisas que conhecia e gostava, o Toupeira viu claramente que ele era um animal de campo cultivado e cerca viva, ligado ao sulco arado, ao pasto frequentado, à estrada de tardes de verão, ao jardim cultivado. Para os outros, as asperezas, a resistência obstinada, ou o choque do conflito real, que acompanhava a natureza bruta; ele devia ser sábio, devia manter os lugares agradáveis em que suas linhas estavam traçadas e que continham aventura suficiente, à sua maneira, para durar uma vida.
Capítulo 5: Dulce Domum
As ovelhas corriam amontoadas contra os obstáculos, soltando baforadas pelas finas narinas e batendo os delicados cascos dianteiros, com as cabeças jogadas para trás e um leve vapor subindo do curral lotado para o ar gelado, enquanto os dois animais passavam apressadamente, animados, conversando e rindo muito. Eles retornavam pelo campo após um longo dia de passeio com a Lontra, caçando e explorando os amplos planaltos onde certos riachos afluentes de seu próprio Rio tinham seus primeiros e pequenos começos; e as sombras do curto dia de inverno se fechavam sobre eles, e ainda tinham alguma distância a percorrer. Caminhando a esmo pelo arado, ouviram as ovelhas e foram até elas; e agora, saindo do curral, encontraram um caminho batido que tornava a caminhada mais leve, e correspondia, além disso, àquela pequena curiosidade que todos os animais carregam dentro de si, dizendo inequivocamente: “Sim, certo; isto leva para casa!”
“Parece que estamos chegando a uma vila”, disse a Toupeira um tanto duvidosa, diminuindo o passo, enquanto a trilha, que com o tempo se tornara um caminho e depois se transformara em uma viela, agora os entregava aos cuidados de uma estrada bem pavimentada. Os animais não se importavam com vilas, e suas próprias estradas, por mais frequentadas que fossem, seguiam um curso independente, sem levar em conta igreja, correio ou pub.
“Ah, não importa!” disse o Rato. “Nesta época do ano, todos estão seguros dentro de casa a essa hora, sentados ao redor da lareira; homens, mulheres e crianças, cães e gatos e todos os outros. Vamos passar direto, sem nenhum incômodo ou problema, e podemos dar uma olhada neles pelas janelas, se quiser, e ver o que estão fazendo.”
O rápido anoitecer de meados de dezembro já havia envolvido a pequena vila quando eles se aproximaram dela com passos suaves sobre uma primeira camada fina de neve pulverulenta. Pouco era visível além de quadrados de um laranja-avermelhado escuro em ambos os lados da rua, onde a luz do fogo ou do lampião de cada chalé transbordava pelas janelas para o mundo escuro lá fora. A maioria das janelas baixas com treliças não tinha cortinas, e para quem olhava de fora, os moradores, reunidos ao redor da mesa de chá, absortos em trabalhos manuais ou conversando com risos e gestos, tinham aquela graça feliz que é a última coisa que o ator habilidoso consegue capturar – a graça natural que acompanha a perfeita inconsciência de ser observado. Movendo-se à vontade de um teatro para outro, os dois espectadores, tão longe de casa, tinham um quê de melancolia nos olhos enquanto observavam um gato sendo acariciado, uma criança sonolenta sendo pega no colo e levada para a cama, ou um homem cansado se espreguiçar e bater o cachimbo na ponta de uma tora fumegante.
Mas foi de uma janelinha, com a cortina fechada, uma mera transparência em branco na noite, que a sensação de lar e o pequeno mundo protegido por paredes – o mundo estressante maior da natureza exterior excluído e esquecido – mais pulsava. Bem perto da cortina branca, pendia uma gaiola de pássaros, claramente silhuetada, cada arame, poleiro e acessório distintos e reconhecíveis, até mesmo o pedaço de açúcar sem graça de ontem. No poleiro do meio, o ocupante felpudo, com a cabeça bem enfiada nas penas, parecia tão perto deles que poderia ser facilmente acariciado, se tivessem tentado; até mesmo as pontas delicadas de sua plumagem fofa desenhadas claramente na tela iluminada. Enquanto olhavam, o bichinho sonolento se mexeu inquieto, acordou, se sacudiu e levantou a cabeça. Eles puderam ver a abertura de seu pequeno bico enquanto ele bocejava de maneira entediada, olhava ao redor e então acomodava a cabeça nas costas novamente, enquanto as penas eriçadas gradualmente voltavam à perfeita imobilidade. Então, uma rajada de vento cortante os atingiu na nuca, uma pequena picada de granizo congelado na pele os acordou como de um sonho, e eles perceberam que seus dedos estavam frios e suas pernas cansadas, e sua própria casa distante a uma distância cansativa.
Uma vez que passaram pela vila, onde as casas terminavam abruptamente, em ambos os lados da estrada, eles puderam sentir o cheiro dos campos amigáveis novamente através da escuridão; e se prepararam para o último longo trecho, o trecho final, o trecho que sabemos que está destinado a terminar, em algum momento, com o ruído da maçaneta da porta, a repentina luz do fogo e a visão de coisas familiares nos cumprimentando como viajantes ausentes há muito tempo, vindos de muito além do mar. Caminhavam de forma constante e silenciosa, cada um pensando em seus próprios pensamentos. Os pensamentos da Toupeira giravam bastante em torno do jantar, já que estava escuro como breu, e era tudo um país estranho para ele, até onde sabia, e ele estava seguindo obedientemente o Rato, deixando a orientação inteiramente por conta dele. Quanto ao Rato, ele caminhava um pouco à frente, como era seu costume, com os ombros curvados, os olhos fixos na estrada reta e cinzenta à sua frente; então ele não notou a pobre Toupeira quando de repente o chamado o alcançou e o atingiu como um choque elétrico.
Nós, outros, que há muito perdemos os sentidos físicos mais sutis, não temos nem mesmo termos adequados para expressar as intercomunicações de um animal com o ambiente, vivo ou não, e temos apenas a palavra “cheiro”, por exemplo, para incluir toda a gama de vibrações delicadas que murmuram no nariz do animal noite e dia, chamando, avisando, incitando, repelindo. Foi um desses misteriosos chamados de fadas vindos do vazio que de repente alcançou a Toupeira na escuridão, fazendo-o vibrar por inteiro com seu apelo tão familiar, mesmo quando ainda não conseguia se lembrar claramente o que era. Ele parou imediatamente, seu nariz procurando de um lado para o outro em seus esforços para recapturar o fino filamento, a corrente telegráfica, que o havia comovido tão fortemente. Um momento, e ele o capturou novamente; e com ele, desta vez, veio a lembrança em plena torrente.
Lar! Era isso que significavam aqueles apelos carinhosos, aqueles toques suaves transportados pelo ar, aquelas mãozinhas invisíveis puxando e arrastando, todas na mesma direção! Ora, devia estar bem perto dele naquele momento, sua antiga casa que ele havia abandonado às pressas e nunca mais procurado, naquele dia em que encontrou o rio pela primeira vez! E agora ela estava enviando seus batedores e mensageiros para capturá-lo e trazê-lo de volta. Desde sua fuga naquela manhã brilhante, ele mal havia pensado nisso, tão absorto estava em sua nova vida, em todos os seus prazeres, suas surpresas, suas experiências novas e cativantes. Agora, com uma onda de velhas memórias, como se erguia claramente diante dele, na escuridão! Decrépita, de fato, pequena e pobremente mobiliada, e ainda assim sua, a casa que ele havia construído para si mesmo, a casa para a qual ficava tão feliz em voltar após o trabalho do dia. E a casa havia sido feliz com ele também, evidentemente, e estava sentindo sua falta, e o queria de volta, e estava lhe dizendo isso, pelo nariz, tristemente, com reprovação, mas sem amargura ou raiva; apenas com um lembrete melancólico de que estava lá, e o queria.
O chamado era claro, o convite era evidente. Ele devia obedecê-lo instantaneamente e ir. “Ratinho!” ele chamou, cheio de alegria e entusiasmo, “espere! Volte! Preciso de você, rápido!”
“Ah, vamos lá, Toupeira, vamos!” respondeu o Rato alegremente, ainda caminhando.
“Por favor, pare, Ratinho!” implorou a pobre Toupeira, com angústia no coração. “Você não entende! É minha casa, minha antiga casa! Acabei de sentir o cheiro dela, e está perto daqui, muito perto mesmo. E eu preciso ir até lá, preciso, preciso! Ah, volte, Ratinho! Por favor, por favor, volte!”
O Rato já estava muito à frente, longe demais para ouvir claramente o que a Toupeira estava chamando, longe demais para captar o tom agudo de apelo doloroso em sua voz. E ele estava muito preocupado com o clima, pois ele também podia sentir o cheiro de algo – algo suspeitosamente parecido com neve se aproximando.
“Toupeira, não podemos parar agora, sério!” ele respondeu. “Viremos buscá-la amanhã, seja o que for que você encontrou. Mas não me atrevo a parar agora – está tarde, e a neve está vindo de novo, e não tenho certeza do caminho! E eu preciso do seu nariz, Toupeira, então venha rápido, seja um bom sujeito!” E o Rato continuou seu caminho sem esperar por uma resposta.
A pobre Toupeira ficou sozinha na estrada, com o coração dilacerado, e um grande soluço se formando, se formando, em algum lugar no fundo de seu ser, para subir à superfície em breve, ele sabia, em uma fuga apaixonada. Mas mesmo sob um teste como este, sua lealdade ao amigo se manteve firme. Nem por um momento ele sonhou em abandoná-lo. Enquanto isso, as lufadas de sua antiga casa imploravam, sussurravam, conjuravam e finalmente o reivindicavam imperiosamente. Ele não ousava mais demorar dentro de seu círculo mágico. Com um puxão que rasgou as cordas de seu coração, ele voltou-se para a estrada e seguiu submisso nos rastros do Rato, enquanto cheiros fracos e tênues, ainda perseguindo seu nariz que se afastava, o repreendiam por sua nova amizade e seu esquecimento insensível.
Com um esforço, ele alcançou o Rato, que começou a tagarelar alegremente sobre o que fariam quando voltassem, como seria agradável uma fogueira na sala de estar e que jantar ele pretendia comer, sem nunca notar o silêncio de seu companheiro e seu estado mental angustiado. Finalmente, no entanto, quando haviam percorrido um caminho considerável e estavam passando por alguns tocos de árvores na beira de um bosque que margeia a estrada, ele parou e disse gentilmente, “Olha aqui, Toupeira, velho amigo, você parece extremamente cansado. Sem conversa sobrando em você, e arrastando os pés como chumbo. Vamos sentar aqui por um minuto e descansar. A neve se conteve até agora, e a melhor parte da nossa jornada acabou.”
A Toupeira arriou-se desolada em um toco de árvore e tentou se controlar, pois sentiu que estava por vir. O soluço contra o qual ele havia lutado por tanto tempo se recusou a ser derrotado. Para cima e para cima, ele abriu caminho para respirar, e então outro, e outro, e outros grossos e rápidos, até que a pobre Toupeira finalmente desistiu da luta, e chorou livre e desamparada e abertamente, agora que sabia que tudo havia acabado e que havia perdido o que mal podia dizer que havia encontrado.
O Rato, surpreso e consternado com a violência do paroxismo de dor da Toupeira, não se atreveu a falar por um tempo. Finalmente, ele disse, muito calma e simpaticamente, “O que foi, meu velho? O que pode estar acontecendo? Conte-me seu problema, e deixe-me ver o que posso fazer”.
A pobre Toupeira teve dificuldades para pronunciar as palavras entre os espasmos do peito, que vinham um após o outro tão rapidamente, e retinham e sufocavam sua fala quando ela aflorava. “Eu sei que é um lugar pequeno, sombrio e dilapidado”, ele soluçou por fim, aos pedaços, “não como seus aposentos aconchegantes – ou o lindo Vila do Sapo – ou a grande casa do Texugo – mas era minha casinha própria – e eu gostava dela – e fui embora e me esqueci de tudo – e de repente senti o cheiro dela – na estrada, quando liguei e você não quis me ouvir, Ratinho – e tudo me voltou à lembrança de repente – e eu queria ela! – Oh, céus, oh, céus! – e quando você não quis voltar, Ratinho – e eu tive que deixá-la, embora eu pudesse senti-la o tempo todo – pensei que meu coração fosse partir em pedaços. – Podíamos ter ido até lá e dado uma olhada nela, Ratinho – só uma olhada – era ali perto – mas você não quis voltar, Ratinho, você não quis voltar! Oh, céus, oh, céus!”
A lembrança trouxe novas ondas de tristeza, e os soluços novamente assumiram o controle total dele, impedindo-o de falar mais.
O Rato olhou fixamente para a frente, sem dizer nada, apenas dando tapinhas suaves no ombro da Toupeira. Depois de um tempo, ele murmurou, sombriamente, “Eu entendo tudo agora! Que porco eu tenho sido! Um porco – eu sou isso! Um porco!”
Ele esperou até que os soluços da Toupeira se tornassem gradualmente menos tempestuosos e mais rítmicos, esperou até que finalmente fungadas fossem mais frequentes e mais espaçadas. Então se levantou de seu assento e, observando displicentemente, “Bem, agora é melhor irmos andando, velho amigo!”, partiu novamente pela estrada, pelo caminho trabalhoso que haviam percorrido.
“Onde (hic) você (hic) está indo (hic), Ratinho?” gritou a chorosa Toupeira, olhando para cima assustada.
“Estamos indo encontrar sua casa, meu caro”, respondeu o Rato amavelmente, “então é melhor você vir também, pois vai dar trabalho encontrá-la, e precisaremos de seu nariz”.
“Oh, volte, Ratinho, volte!” gritou a Toupeira, levantando-se e correndo atrás dele. “Não adianta, eu te digo! É muito tarde, muito escuro, e o lugar é muito longe, e a neve está vindo! E – e eu nunca tive a intenção de deixar você saber que eu estava me sentindo assim – foi tudo um acidente e um erro! E pense na Margem do Rio, e no seu jantar!”
“Dane-se a Margem do Rio, e o jantar também!” disse o Rato de coração. “Eu te digo, vou encontrar esse lugar agora, mesmo que eu fique fora a noite toda. Então anime-se, meu velho, e pegue meu braço, e logo voltaremos lá de novo.”
Ainda fungando, implorando e relutante, a Toupeira se deixou arrastar de volta pela estrada por seu companheiro imperioso, que com um fluxo de conversa alegre e anedotas se esforçava para reanimá-lo e fazer com que o caminho cansativo parecesse mais curto. Quando finalmente pareceu ao Rato que eles deviam estar se aproximando da parte da estrada onde a Toupeira havia sido “parada”, ele disse: “Agora, chega de conversa. A trabalho! Use seu nariz e concentre-se”.
Eles continuaram em silêncio por um pequeno trecho, quando de repente o Rato sentiu, através de seu braço que estava ligado ao da Toupeira, uma espécie de vibração elétrica fraca que passava pelo corpo do animal. Instantaneamente ele se soltou, recuou um passo e esperou, com toda a atenção.
Os sinais estavam chegando!
A Toupeira ficou rígida por um momento, enquanto seu nariz erguido, tremendo ligeiramente, sentia o ar.
Então, uma curta e rápida corrida para a frente – uma falha – uma pausa – uma tentativa de voltar; e então um avanço lento, constante e confiante.
O Rato, muito animado, seguiu de perto seus calcanhares enquanto a Toupeira, com um ar de sonâmbulo, cruzava uma vala seca, lutava por uma cerca viva e farejava seu caminho por um campo aberto, sem trilhas e vazio sob a fraca luz das estrelas.
De repente, sem avisar, ele mergulhou; mas o Rato estava alerta e prontamente o seguiu pelo túnel para o qual seu nariz infalível o havia conduzido fielmente.
Era fechado e sem ar, e o cheiro de terra era forte, e pareceu muito tempo para o Rato até que a passagem terminasse e ele pudesse ficar ereto, se esticar e se sacudir. A Toupeira acendeu um fósforo, e à sua luz o Rato viu que eles estavam em um espaço aberto, bem varrido e com areia sob os pés, e diretamente à sua frente estava a pequena porta da frente da Toupeira, com “Toca da Toupeira” pintado, em letras góticas, sobre a campainha ao lado.
A Toupeira pegou uma lanterna de um prego na parede e a acendeu… e o Rato, olhando ao redor, viu que eles estavam em uma espécie de pátio dianteiro. Um banco de jardim ficava de um lado da porta, e do outro um rolo; pois a Toupeira, que era um animal arrumado quando em casa, não suportava ter seu terreno pisoteado por outros animais em pequenas trilhas que terminavam em montes de terra. Nas paredes, cestos de arame com samambaias pendurados, alternados com suportes com estatuária de gesso – Garibaldi, o menino Samuel, a Rainha Vitória e outros heróis da Itália moderna. Em um lado do pátio, havia uma pista de boliche, com bancos e mesinhas de madeira marcadas com argolas que sugeriam canecas de cerveja. No meio, havia um pequeno lago redondo com peixes dourados e rodeado por uma borda de conchas. Do centro do lago, erguia-se uma construção fantasiosa coberta com mais conchas e encimada por uma grande bola de vidro prateada que refletia tudo errado e tinha um efeito muito agradável.
O rosto da Toupeira se iluminou ao ver todos aqueles objetos tão queridos para ele, e ele apressou o Rato pela porta, acendeu uma lâmpada no corredor e deu uma olhada em sua antiga casa. Ele viu a poeira espessa sobre tudo, viu o aspecto sombrio e deserto da casa há muito negligenciada, e suas dimensões estreitas e exíguas, seu conteúdo gasto e surrado – e desabou novamente em uma cadeira no corredor, com o nariz nas patas. “Ó, Ratinho!” ele chorou desanimado, “por que eu fiz isso? Por que eu o trouxe para este lugar pobre, frio e pequeno, em uma noite como esta, quando você poderia estar na Margem do Rio a esta hora, aquecendo os pés diante de uma lareira, com todas as suas coisas bonitas ao seu redor?”
O Rato não deu atenção às suas auto-recriminações tristes. Ele corria de um lado para o outro, abrindo portas, inspecionando quartos e armários, acendendo lâmpadas e velas e colocando-as em todos os lugares. “Que casinha capital é esta!” ele exclamou alegremente. “Tão compacta! Tão bem planejada! Tudo aqui e tudo em seu lugar! Vamos ter uma noite alegre. A primeira coisa que precisamos é de uma boa lareira; eu cuidarei disso – eu sempre sei onde encontrar as coisas. Então esta é a sala de estar? Esplêndido! Ideia sua, aqueles pequenos beliches na parede? Capital! Agora, vou buscar a lenha e o carvão, e você pega um espanador, Toupeira – você encontrará um na gaveta da mesa da cozinha – e tente dar uma animada nas coisas. Mexa-se, meu velho!”
Incentivado por seu companheiro inspirador, a Toupeira se animou e espanou e poliu com energia e entusiasmo, enquanto o Rato, correndo de um lado para o outro com braçadas de combustível, logo teve um fogo alegre rugindo na chaminé. Ele chamou a Toupeira para se aquecer; mas a Toupeira prontamente teve outro ataque de tristeza, caindo em um sofá em desespero sombrio e enterrando o rosto no espanador. “Ratinho”, ele gemeu, “e o seu jantar, seu pobre animal frio, faminto e cansado? Não tenho nada para lhe dar – nada – nem uma migalha!”
“Como você é desistente!” disse o Rato em tom de reprovação. “Ora, agora mesmo eu vi um abridor de latas de sardinha na cômoda da cozinha, bem distintamente; e todo mundo sabe que isso significa que há sardinhas em algum lugar por aqui. Anime-se! Recomponha-se e venha comigo procurar comida.”
Eles foram e procuraram de acordo, vasculhando todos os armários e esvaziando todas as gavetas. O resultado não foi tão deprimente, afinal, embora pudesse ter sido melhor; uma lata de sardinhas – uma caixa de biscoitos do capitão, quase cheia – e uma linguiça alemã envolta em papel alumínio.
“Aí está um banquete para você!” observou o Rato, enquanto arrumava a mesa. “Conheço alguns animais que dariam tudo para jantar conosco esta noite!”
“Sem pão!” gemeu a Toupeira dolorosamente; “sem manteiga, sem…”
“Sem patê de foie gras, sem champanhe!” continuou o Rato, sorrindo. “E isso me lembra – o que é aquela portinha no final do corredor? Sua adega, claro! Todo o luxo nesta casa! Espere um minuto.”
Ele foi até a porta da adega e logo reapareceu, um tanto empoeirado, com uma garrafa de cerveja em cada pata e outra debaixo de cada braço. “Você parece ser um mendigo autoindulgente, Toupeira”, ele observou. “Não se nega nada. Este é realmente o lugarzinho mais alegre em que já estive. Agora, onde você conseguiu essas gravuras? Elas deixam o lugar com um ar tão caseiro. Não é à toa que você gosta tanto daqui, Toupeira. Conte-me tudo sobre isso, e como você chegou a torná-lo o que é.”
Então, enquanto o Rato se ocupava em buscar pratos, facas e garfos e mostarda que ele misturava em um copo de ovo, a Toupeira, com o peito ainda arquejando com o estresse de sua recente emoção, relatou – um tanto timidamente no início, mas com mais liberdade à medida que se entusiasmava com o assunto – como isso foi planejado, e como aquilo foi pensado, e como isso foi conseguido com um golpe de sorte de uma tia, e aquilo foi um achado maravilhoso e uma pechincha, e aquela outra coisa foi comprada com economias trabalhosas e uma certa quantidade de “privações”. Com o ânimo finalmente restaurado, ele precisava acariciar suas posses, pegar uma lâmpada e exibir seus pontos fortes ao visitante e discorrer sobre eles, completamente esquecido do jantar de que ambos tanto precisavam; o Rato, que estava desesperadamente faminto, mas se esforçava para esconder isso, assentia seriamente, examinando com a testa franzida e dizendo “maravilhoso” e “muito notável” em intervalos, quando lhe era dada a chance de fazer uma observação.
Finalmente, o Rato conseguiu atraí-lo para a mesa, e tinha acabado de começar a trabalhar seriamente com o abridor de latas de sardinha quando sons foram ouvidos do lado de fora do pátio – sons como o arrastar de pezinhos no cascalho e um murmúrio confuso de vozes finas, enquanto frases interrompidas chegavam até eles – “Agora, todos em fila – segure a lanterna um pouco mais alto, Tommy – limpem a garganta primeiro – nada de tossir depois que eu disser um, dois, três. – Onde está o jovem Bill? – Aqui, venha, vamos, estamos todos esperando…”
“O que está acontecendo?” perguntou o Rato, parando em seu trabalho.
“Acho que devem ser os ratos do campo”, respondeu a Toupeira, com um toque de orgulho em suas maneiras. “Eles saem cantando canções de Natal regularmente nesta época do ano. São uma verdadeira instituição nessas bandas. E nunca me deixam de fora – eles vêm à Toca da Toupeira por último; e eu costumava dar-lhes bebidas quentes, e jantar também às vezes, quando podia pagar. Vai ser como nos velhos tempos ouvi-los novamente.”
“Vamos dar uma olhada neles!” gritou o Rato, pulando e correndo para a porta.
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Era uma visão bonita, e oportuna, que encontrou seus olhos quando abriram a porta. No pátio, iluminados pelos raios fracos de uma lanterna de chifre, cerca de oito ou dez pequenos ratos do campo estavam em semicírculo, com cachecóis vermelhos de lã em volta do pescoço, as patas dianteiras enfiadas fundo nos bolsos, os pés batendo de frio. Com olhos brilhantes e miúdos, eles olhavam timidamente uns para os outros, rindo um pouco, fungando e usando bastante as mangas dos casacos. Quando a porta se abriu, um dos mais velhos que carregava a lanterna estava dizendo: “Agora então, um, dois, três!” e imediatamente suas vozes agudas se elevaram no ar, cantando uma das canções de Natal antigas que seus ancestrais compuseram em campos que estavam em pousio e cobertos pela geada, ou quando presos pela neve nos cantos das chaminés, e passadas para serem cantadas na rua lamacenta para janelas iluminadas por lâmpadas na época do Natal.
CANÇÃO DE NATAL
Moradores, nesta maré gelada,
Deixem suas portas abertas de par em par,
Embora o vento possa seguir, e a neve também,
Puxem-nos para dentro, para nos abrigarmos perto do fogo;
Alegria será sua pela manhã!
Aqui estamos no frio e no granizo,
Assoprando os dedos e batendo os pés,
Viemos de longe para saudá-los –
Vocês perto do fogo e nós na rua –
Desejando-lhes alegria pela manhã!
Pois antes que metade da noite se fosse,
De repente, uma estrela nos guiou,
Chovendo bênçãos e felicidade –
Felicidade amanhã e mais ainda depois,
Alegria para todas as manhãs!
O bom José labutou pela neve –
Viu a estrela sobre um estábulo baixo;
Maria não podia ir mais longe –
Bem-vindos, palha e cama abaixo!
Alegria foi dela pela manhã!
E então eles ouviram os anjos dizerem
“Quem foram os primeiros a gritar Noite Feliz?
Todos os animais, como aconteceu,
No estábulo onde eles moravam!
Alegria será deles pela manhã!”
As vozes cessaram, os cantores, tímidos mas sorridentes, trocaram olhares de soslaio, e o silêncio se seguiu – mas apenas por um momento. Então, de lá de cima e de longe, pelo túnel que eles haviam percorrido recentemente, chegou aos seus ouvidos em um leve zumbido musical o som de sinos distantes tocando um repique alegre e clangoroso.
“Muito bem cantado, meninos!” gritou o Rato de coração. “E agora entrem, todos vocês, e se aqueçam perto do fogo e tomem algo quente!”
“Sim, entrem, ratos do campo”, gritou a Toupeira ansiosamente. “Isso é como nos velhos tempos! Fechem a porta atrás de vocês. Puxem aquele banco para perto do fogo. Agora, esperem um minuto, enquanto nós… Ó, Ratinho!” ele gritou em desespero, caindo em um assento, com lágrimas iminentes. “O que estamos fazendo? Não temos nada para dar a eles!”
“Deixe tudo isso por minha conta”, disse o autoritário Rato. “Ei, você com a lanterna! Venha até aqui. Quero falar com você. Agora, diga-me, há alguma loja aberta a esta hora da noite?”
“Bem, certamente, senhor”, respondeu o rato do campo respeitosamente. “Nesta época do ano, nossas lojas ficam abertas até tarde.”
“Então, veja!” disse o Rato. “Vá embora imediatamente, você e sua lanterna, e traga-me…”
Aqui, muitas conversas sussurradas se seguiram, e a Toupeira só ouviu trechos, como – “Frescos, está bem? – não, meio quilo daquilo será suficiente – veja se você pega os do Buggins, pois não quero nenhum outro – não, só os melhores – se você não conseguir lá, tente em outro lugar – sim, claro, caseiros, nada de coisas enlatadas – então, faça o seu melhor!” Finalmente, houve um tilintar de moedas passando de pata em pata, o rato do campo foi provido de uma cesta ampla para suas compras, e ele saiu apressado, ele e sua lanterna.
O resto dos ratos do campo, empoleirados em fila no banco, com suas perninhas balançando, se entregaram ao prazer do fogo e torraram suas frieiras até formigarem; enquanto a Toupeira, não conseguindo envolvê-los em uma conversa descontraída, mergulhou na história da família e fez cada um deles recitar os nomes de seus numerosos irmãos, que eram muito jovens, ao que parecia, para ter permissão para sair cantando canções de Natal este ano, mas esperavam em breve conquistar o consentimento dos pais.
O Rato, enquanto isso, estava ocupado examinando o rótulo de uma das garrafas de cerveja. “Percebo que esta é Old Burton”, ele comentou com aprovação. “Toupeira sensata! Exatamente o que precisamos! Agora poderemos fazer um pouco de cerveja quente! Prepare as coisas, Toupeira, enquanto eu tiro as rolhas.”
Não demorou muito para preparar a bebida e enfiar o aquecedor de lata bem no coração vermelho do fogo; e logo todos os ratos do campo estavam bebendo, tossindo e engasgando (pois um pouco de cerveja quente dá para muita gente) e enxugando os olhos, rindo e esquecendo que alguma vez tinham sentido frio em toda a sua vida.
“Eles também encenam peças, esses caras”, explicou a Toupeira ao Rato. “Eles as criam sozinhos e as encenam depois. E fazem isso muito bem! Eles nos deram uma ótima no ano passado, sobre um rato do campo que foi capturado no mar por um corsário bárbaro e obrigado a remar em uma galé; e quando ele escapou e voltou para casa, sua amada havia entrado em um convento. Ei, você! Você estava nela, eu me lembro. Levante-se e recite um pedaço.”
O rato do campo abordado se levantou, riu timidamente, olhou ao redor da sala e permaneceu absolutamente sem palavras. Seus camaradas o incentivaram, a Toupeira o persuadiu e encorajou, e o Rato chegou a pegá-lo pelos ombros e sacudi-lo; mas nada conseguia superar seu medo do palco. Todos estavam ocupados com ele como barqueiros aplicando os regulamentos da Sociedade Humana Real a um caso de longa submersão, quando a trava clicou, a porta se abriu e o rato do campo com a lanterna reapareceu, cambaleando sob o peso de sua cesta.
Não se falou mais em encenação depois que o conteúdo muito real e sólido da cesta foi jogado na mesa. Sob o comando do Rato, todos foram designados para fazer algo ou buscar algo. Em poucos minutos, o jantar estava pronto, e a Toupeira, ao se sentar à cabeceira da mesa como em um sonho, viu uma mesa antes vazia repleta de iguarias saborosas; viu os rostos de seus amiguinhos se iluminarem ao se servirem sem demora; e então se soltou – pois estava realmente faminto – na comida tão magicamente providenciada, pensando em como esta volta para casa havia se tornado feliz, afinal. Enquanto comiam, eles conversaram sobre os velhos tempos, e os ratos do campo lhe contaram as fofocas locais, e responderam o melhor que puderam às centenas de perguntas que ele tinha a fazer. O Rato disse pouco ou nada, apenas cuidando para que cada convidado tivesse o que queria, e em abundância, e que a Toupeira não tivesse problemas ou ansiedades com nada.
Eles finalmente saíram, muito gratos e cheios de votos de felicitações da época, com os bolsos dos casacos cheios de lembranças para os irmãozinhos e irmãs em casa. Quando a porta se fechou atrás do último deles e o tilintar das lanternas se extinguiu, a Toupeira e o Rato reacenderam o fogo, aproximaram suas cadeiras, prepararam uma última bebida quente de cerveja com especiarias e discutiram os eventos do longo dia. Finalmente, o Rato, com um tremendo bocejo, disse: “Toupeira, meu velho, estou caindo de sono. Sono não é a palavra certa. Aquele é o seu beliche, daquele lado? Muito bem, então, eu fico com este. Que casinha incrível! Tudo tão prático!”
Ele subiu em seu beliche e se enrolou nos cobertores, e o sono o envolveu imediatamente, como uma faixa de cevada é envolvida pelos braços da máquina de colheita.
A Toupeira cansada também ficou feliz em se deitar sem demora, e logo estava com a cabeça no travesseiro, com grande alegria e contentamento. Mas antes de fechar os olhos, ele os deixou vagar pelo seu antigo quarto, suave sob o brilho do fogo que brincava ou repousava sobre coisas familiares e amigáveis que há muito tempo eram inconscientemente parte dele, e agora o recebiam de volta sorrindo, sem rancor. Ele estava agora exatamente no estado de espírito que o Rato, com tato, havia trabalhado silenciosamente para provocar nele. Ele viu claramente como tudo era simples e singelo – como era estreito, até; mas também viu claramente o quanto tudo aquilo significava para ele, e o valor especial de ter uma âncora como aquela em sua existência. Ele não queria de forma alguma abandonar a nova vida e seus espaços esplêndidos, virar as costas para o sol e o ar e tudo o que eles lhe ofereciam, e rastejar para casa e ficar lá; o mundo superior era forte demais, ainda o chamava, mesmo lá embaixo, e ele sabia que precisava retornar ao palco maior. Mas era bom pensar que ele tinha isso para onde voltar; este lugar que era todo seu, essas coisas que estavam tão felizes em vê-lo novamente e com as quais ele sempre podia contar para a mesma recepção simples.
Capítulo 6: Sr. Sapo
Era uma manhã brilhante no início do verão; o rio havia retomado suas margens e seu ritmo costumeiro, e um sol quente parecia estar puxando tudo o que era verde, arbustivo e pontiagudo para fora da terra em sua direção, como se por cordas. O Toupeira e o Rato haviam acordado desde o amanhecer, muito ocupados com assuntos relacionados a barcos e à abertura da temporada de navegação; pintando e envernizando, consertando remos, reparando almofadas, procurando por ganchos de barco perdidos, e assim por diante; e estavam terminando o café da manhã em sua pequena sala de estar e discutindo ansiosamente seus planos para o dia, quando um pesado golpe soou na porta.
“Que aborrecimento!” disse o Rato, todo coberto de ovos. “Veja quem é, Toupeira, como um bom rapaz, já que você terminou.”
O Toupeira foi atender ao chamado, e o Rato ouviu-o proferir um grito de surpresa. Então ele abriu a porta da sala de estar e anunciou com muita importância: “Sr. Texugo!”
Isso era uma coisa maravilhosa, de fato, que o Texugo deveria fazer uma visita formal a eles, ou a qualquer pessoa. Ele geralmente tinha que ser pego, se você o queria muito, enquanto ele se esgueirava silenciosamente ao longo de uma sebe de uma manhã cedo ou de uma noite tardia, ou então caçado em sua própria casa no meio da Floresta, o que era uma tarefa séria.
O Texugo entrou pesadamente na sala e ficou olhando para os dois animais com uma expressão cheia de seriedade. O Rato deixou cair sua colher de ovo na toalha de mesa e sentou-se com a boca aberta.
“A hora chegou!” disse o Texugo por fim, com grande solenidade.
“Que hora?” perguntou o Rato, nervoso, olhando para o relógio na lareira.
“De quem é a hora, você deveria perguntar”, respondeu o Texugo. “Por que, é a hora do Sapo! A hora do Sapo! Eu disse que iria tomar conta dele assim que o inverno estivesse bem acabado, e vou tomar conta dele hoje!”
“A hora do Sapo, claro!” gritou o Toupeira, deliciado. “Hooray! Eu me lembro agora! Vamos ensinar-lhe a ser um Sapo sensato!”
“Esta manhã mesmo”, continuou o Texugo, sentando-se em uma poltrona, “como eu soube ontem à noite de uma fonte confiável, outro carro novo e extremamente poderoso chegará ao Vila do Sapo para aprovação ou devolução. Neste exato momento, talvez, o Sapo esteja ocupado vestindo-se com aqueles trajes singularmente hediondos que são tão queridos para ele, que o transformam de um Sapo (comparativamente) bonito em um Objeto que joga qualquer animal decente que o encontra em um ataque violento. Nós devemos estar prontos e agir, antes que seja tarde demais. Vocês dois animais irão me acompanhar imediatamente ao Vila do Sapo, e a obra de resgate será realizada.”
“Certo, você está!” gritou o Rato, levantando-se. “Vamos resgatar o pobre animal infeliz! Vamos convertê-lo! Ele será o Sapo mais convertido que já existiu antes de termos terminado com ele!”
Eles partiram pela estrada em sua missão de misericórdia, com o Texugo liderando o caminho. Os animais, quando estão juntos, andam de uma maneira apropriada e sensata, em fila única, em vez de se espalharem por toda a estrada e não serem de nenhuma utilidade ou apoio uns aos outros em caso de problemas ou perigos repentinos.
Eles chegaram ao acesso do Vila do Sapo e encontraram, como o Texugo havia previsto, um carro novo brilhante, de grande tamanho, pintado de vermelho brilhante (a cor favorita do Sapo), parado em frente à casa. Quando eles se aproximaram da porta, ela foi aberta, e o Sr. Sapo, vestido com óculos, boné, perneiras e um enorme casaco, desceu as escadas, puxando suas luvas de couro.
“Uhuuu! Venham, vocês, camaradas!” ele gritou alegremente ao avistar-os. “Vocês estão justamente a tempo de vir comigo para um passeio divertido—para vir para um passeio divertido—para um—er—passeio divertido——”
Sua voz alegre falhou e caiu quando ele notou o olhar sério e inflexível nos rostos de seus amigos silenciosos, e seu convite ficou sem terminar.
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O Texugo subiu as escadas. “Levem-no para dentro”, disse ele severamente para seus companheiros. Então, enquanto o Sapo era empurrado pela porta, lutando e protestando, ele se virou para o motorista encarregado do carro novo.
“Temo que você não será necessário hoje”, disse ele. “O Sr. Sapo mudou de ideia. Ele não precisará do carro. Por favor, entenda que isso é definitivo. Você não precisa esperar.” Então ele seguiu os outros para dentro e fechou a porta.
“Agora então!” ele disse ao Sapo, quando os quatro estavam juntos no hall, “em primeiro lugar, tire essas coisas ridículas!”
“Não!” respondeu o Sapo, com grande espírito. “Qual é o significado desta ultrajante grosseria? Eu exijo uma explicação imediata.”
“Então tire-as dele”, ordenou o Texugo brevemente.
Eles tiveram que deitar o Sapo no chão, chutando e chamando todos os tipos de nomes, antes de poderem trabalhar adequadamente. Então o Rato sentou-se sobre ele, e o Toupeira tirou suas roupas de motorista dele, pedaço por pedaço, e eles o levantaram novamente sobre suas pernas. Uma boa parte de seu espírito fanfarrão parecia ter evaporado com a remoção de sua bela armadura. Agora que ele era apenas o Sapo, e não mais o Terror da Estrada, ele riu fracamente e olhou de um para o outro com um olhar suplicante, parecendo entender completamente a situação.
“Você sabia que isso teria que acontecer mais cedo ou mais tarde, Sapo”, explicou o Texugo severamente.
Você desprezou todos os avisos que lhe demos, você continuou desperdiçando o dinheiro que seu pai lhe deixou, e você está nos dando uma má reputação no distrito com sua condução furiosa e seus acidentes e suas discussões com a polícia. A independência é muito boa, mas nós, os animais, nunca permitimos que nossos amigos se tornem tolos além de um certo limite; e você alcançou esse limite. Agora, você é um bom sujeito em muitos aspectos, e eu não quero ser muito duro com você. Vou fazer mais um esforço para trazê-lo à razão. Você virá comigo para a sala de fumar, e lá você ouvirá alguns fatos sobre si mesmo; e veremos se você sai daquela sala o mesmo Sapo que entrou.”
Ele pegou o Sapo firmemente pelo braço, levou-o para a sala de fumar e fechou a porta atrás deles.
“Isso não vai funcionar!” disse o Rato com desprezo. “Falar com o Sapo nunca vai curá-lo. Ele dirá qualquer coisa.”
Eles se sentaram em poltronas e esperaram pacientemente. Através da porta fechada, eles podiam ouvir o som contínuo e monótono da voz do Texugo, subindo e descendo em ondas de oratória; e logo eles notaram que o sermão começou a ser pontuado por soluços prolongados, evidentemente provenientes do peito do Sapo, que era um sujeito mole e afetuoso, muito facilmente convertido—por enquanto—para qualquer ponto de vista.
Depois de cerca de três quartos de hora, a porta se abriu, e o Texugo reapareceu, levando solenemente pelo braço um Sapo muito abatido e deprimido. Sua pele pendia frouxamente ao redor dele, suas pernas tremiam, e suas bochechas estavam sulcadas pelas lágrimas tão abundantemente provocadas pelo discurso comovente do Texugo.
“Sente-se aí, Sapo”, disse o Texugo gentilmente, apontando para uma cadeira. “Meus amigos”, ele continuou, “eu estou satisfeito em informar que o Sapo finalmente viu o erro de seus caminhos. Ele está verdadeiramente arrependido por sua conduta equivocada no passado, e ele se comprometeu a abandonar os carros motorizados inteiramente e para sempre. Eu tenho sua promessa solene nesse sentido.”
“Essa é uma ótima notícia”, disse o Toupeira gravemente.
“Ótima notícia, de fato”, observou o Rato com ceticismo, “se apenas—se apenas——”
Ele estava olhando muito atentamente para o Sapo enquanto dizia isso, e não pôde deixar de pensar que percebia algo vagamente semelhante a um brilho no olho ainda triste daquele animal.
“Há apenas mais uma coisa a ser feita”, continuou o Texugo satisfeito. “Sapo, eu quero que você repita solenemente, diante de seus amigos aqui, o que você admitiu plenamente para mim na sala de fumar agora mesmo. Em primeiro lugar, você está arrependido pelo que fez, e você vê a tolice de tudo isso?”
Houve uma longa, longa pausa. O Sapo olhou desesperadamente para um lado e para o outro, enquanto os outros animais esperavam em silêncio grave. Por fim, ele falou.
“Não!” ele disse, um pouco mal-humorado, mas com firmeza; “eu não estou arrependido. E não foi tolice nenhuma! Foi simplesmente glorioso!”
“O quê?” gritou o Texugo, indignado. “Você, animal que não se arrepende, não me disse agora mesmo, lá dentro——”
“Oh, sim, sim, lá dentro”, disse o Sapo impaciente. “Eu teria dito qualquer coisa lá dentro. Você é tão eloquente, caro Texugo, e tão convincente, e você coloca todos os seus pontos tão terrivelmente bem—você pode fazer o que quiser comigo lá dentro, e você sabe disso. Mas eu estive procurando minha mente desde então, e repassando as coisas nela, e eu descubro que não estou nem um pouco arrependido ou cheio de remorsos realmente, então não adianta dizer que estou; agora, é?”
“Então você não promete”, disse o Texugo, “nunca mais tocar em um carro motorizado?”
“Certeza que não!” respondeu o Sapo enfaticamente. “Ao contrário, eu prometo fielmente que o primeiro carro motorizado que eu ver, poop-poop! Eu vou nele!”
“Eu disse a você, não disse?” observou o Rato para o Toupeira.
“Muito bem, então”, disse o Texugo firmemente, levantando-se. “Já que você não vai se render à persuasão, vamos tentar o que a força pode fazer. Eu temia que isso fosse acontecer o tempo todo. Você frequentemente nos pediu para vir e ficar com você, Sapo, nesta casa bonita sua; bem, agora nós vamos. Quando tivermos convertido você a um ponto de vista apropriado, podemos sair, mas não antes. Levem-no para cima, vocês dois, e o trancafiam em seu quarto, enquanto nós arranjamos as coisas entre nós.”
“É para o seu próprio bem, Sapo”, disse o Rato gentilmente, enquanto o Sapo, chutando e lutando, era arrastado para cima pelas escadas por seus dois amigos fiéis. “Pense no quanto vamos nos divertir juntos, assim como costumávamos, quando você tiver superado completamente esse—esse ataque doloroso seu!”
“Nós vamos cuidar de tudo para você até que você esteja bem, Sapo”, disse o Toupeira; “e vamos ver que seu dinheiro não seja desperdiçado, como tem sido.”
“Não mais daqueles incidentes lamentáveis com a polícia, Sapo”, disse o Rato, enquanto o empurravam para dentro de seu quarto.
“E não mais semanas no hospital, sendo ordenado por enfermeiras, Sapo”, acrescentou o Toupeira, virando a chave na fechadura.
Eles desceram as escadas, o Sapo gritando insultos para eles pelo buraco da fechadura; e os três amigos então se encontraram em conferência sobre a situação.
“Vai ser um negócio tedioso”, disse o Texugo, suspirando. “Eu nunca vi o Sapo tão determinado. No entanto, vamos aguentar. Ele nunca deve ser deixado um instante sem vigilância. Nós teremos que fazer turnos para ficar com ele, até que o veneno tenha saído de seu sistema.”
Eles arranjaram os turnos de acordo. Cada animal tomou seu turno para dormir no quarto do Sapo à noite, e eles dividiram o dia entre si. No início, o Sapo foi sem dúvida muito difícil para seus guardiões cuidadosos. Quando seus ataques violentos o possuíam, ele arranjaria cadeiras do quarto em uma grosseira semelhança de um carro motorizado e se agacharia na frente delas, inclinado para a frente e olhando fixamente em frente, fazendo barulhos desagradáveis e terríveis, até que o clímax fosse alcançado, quando, dando uma cambalhota completa, ele se deitaria prostrado entre as ruínas das cadeiras, aparentemente completamente satisfeito por enquanto. Com o passar do tempo, no entanto, esses ataques dolorosos se tornaram gradualmente menos frequentes, e seus amigos se esforçaram para desviar sua mente para novos canais. Mas seu interesse por outras coisas não parecia reviver, e ele cresceu aparentemente lânguido e deprimido.
Uma bela manhã, o Rato, cuja vez era de entrar em serviço, subiu para aliviar o Texugo, que ele encontrou inquieto para sair e esticar as pernas em uma longa caminhada ao redor de sua floresta e para baixo de suas tocas e buracos. “O Sapo ainda está na cama”, ele disse ao Rato, fora da porta. “Não consigo tirar muito dele, exceto, ‘O deixem em paz, ele não quer nada, talvez ele esteja melhor logo, pode passar com o tempo, não sejam ansiosos demais’, e assim por diante. Agora, você olhe por ele, Rato! Quando o Sapo está quieto e submisso e jogando no papel de herói de um prêmio escolar dominical, então ele está em seu melhor. Há certeza de que algo está acontecendo. Eu o conheço. Bem, agora, eu preciso ir.”
“Como você está hoje, velho camarada?” perguntou o Rato alegremente, quando se aproximou da cama do Sapo.
Ele teve que esperar alguns minutos por uma resposta. Por fim, uma voz fraca respondeu, “Obrigado por perguntar, querido Rato! É tão bom de sua parte perguntar! Mas primeiro me diga como você está, e o excelente Toupeira?”
“Ah, estamos todos bem”, respondeu o Rato. “O Toupeira”, ele acrescentou descuidadamente, “vai sair para uma corrida com o Texugo. Eles estarão fora até a hora do almoço, então você e eu vamos passar uma manhã agradável juntos, e farei o meu melhor para divertir você. Agora, salte da cama, há um bom sujeito, e não fique deitado aí em uma manhã tão bonita como esta!”
“Querido, gentil Rato”, murmurou o Sapo, “como você pouco percebe minha condição, e como estou longe de ‘saltar da cama’ agora—se é que algum dia! Mas não se preocupe comigo. Eu odeio ser um fardo para meus amigos, e não espero ser um por muito mais tempo. De fato, eu quase espero que não.”
“Bem, eu também espero que não”, disse o Rato cordialmente. “Você tem sido um grande incômodo para todos nós esse tempo todo, e estou feliz em ouvir que isso vai parar. E em um clima como este, e a temporada de navegação apenas começando! É muito ruim de sua parte, Sapo! É um aborrecimento que você está nos fazendo perder tanto!”
“Eu tenho medo de que seja o incômodo que você mente”, respondeu o Sapo languidamente. “Eu posso entender muito bem. É natural o suficiente. Você está cansado de se preocupar comigo. Eu não devo pedir que você faça mais nada. Eu sou um incômodo, eu sei.”
“Você é, de fato”, disse o Rato. “Mas eu digo a você, eu tomaria qualquer problema na terra por você, se apenas você fosse um animal sensato.”
“Se eu pensasse isso, Rato”, murmurou o Sapo, mais fracamente do que nunca, “então eu pediria—pela última vez, provavelmente—que você desse uma volta até a vila o mais rápido possível—mesmo agora pode ser tarde demais—e buscasse o médico. Mas não se preocupe. É apenas um incômodo, e talvez possamos deixar as coisas seguirem seu curso.”
“Por que você quer um médico?” perguntou o Rato, aproximando-se e examinando-o. Ele certamente estava muito quieto e plano, e sua voz estava mais fraca e seu modo muito mudado.
“Certamente você notou ultimamente——” murmurou o Sapo. “Mas, não—por que você deveria? Notar coisas é apenas um incômodo. Amanhã, de fato, você pode estar dizendo a si mesmo, ‘Oh, se apenas eu tivesse notado mais cedo! Se apenas eu tivesse feito algo!’ Mas não; é um incômodo. Nunca mente—esqueça que eu pedi.”
“Olhe aqui, velho amigo”, disse o Rato, começando a ficar um pouco alarmado, “claro que eu vou buscar um médico para você, se você realmente acha que precisa dele. Mas você dificilmente pode estar mal o suficiente para isso ainda. Vamos falar sobre outra coisa.”
“Eu temo, querido amigo”, disse o Sapo, com um sorriso triste, “que ‘falar’ pode fazer pouco em um caso como este—ou médicos também, aliás; ainda assim, a gente deve agarrar o menor palito. E, a propósito—enquanto você está por isso—eu odeio dar-lhe mais incômodo, mas eu aconteço de me lembrar que você vai passar pela porta—você se importaria em perguntar ao advogado para subir ao mesmo tempo? Seria um conforto para mim, e há momentos—talvez eu deva dizer há um momento—quando a gente deve enfrentar tarefas desagradáveis, a qualquer custo para a natureza exausta!”
“Um advogado! Oh, ele deve estar realmente mal!” disse o Rato assustado para si mesmo, enquanto se apressava para fora do quarto, não se esquecendo, no entanto, de trancar a porta cuidadosamente atrás de si.
Fora, ele parou para pensar. Os outros dois estavam longe, e ele não tinha ninguém para consultar.
“É melhor estar do lado seguro”, disse ele, refletindo. “Eu conheço o Sapo imaginando-se terrivelmente mal antes, sem a menor razão; mas nunca o ouvi pedir um advogado! Se não houver realmente nada de errado, o médico lhe dirá que ele é um velho tolo, e o animará; e isso será algo ganho. É melhor eu ir; não vai levar muito tempo.” Então ele correu para a vila em sua missão de misericórdia.
O Sapo, que havia saltado levemente da cama assim que ouviu a chave virar na fechadura, observou-o ansiosamente pela janela até que ele desaparecesse na entrada da carruagem. Então, rindo alto, ele se vestiu o mais rápido que pôde com o terno mais elegante que pôde encontrar no momento, encheu seus bolsos com dinheiro que tirou de uma gaveta pequena na mesa de cabeceira, e em seguida, amarrando os lençóis de sua cama juntos e amarrando uma extremidade da corda improvisada ao redor do mullion central da janela Tudor bonita que formava uma característica tão notável de seu quarto, ele desceu, deslizou levemente para o chão, e, tomando a direção oposta ao Rato, marchou embora alegremente, assobiando uma melodia alegre.
Era um almoço sombrio para o Rato quando o Texugo e o Toupeira finalmente voltaram, e ele teve que enfrentá-los à mesa com sua história lamentável e pouco convincente. Os comentários cáusticos, para não dizer brutais, do Texugo podem ser imaginados, e portanto passados por alto; mas foi doloroso para o Rato que mesmo o Toupeira, embora tenha tomado o lado do amigo tanto quanto possível, não pudesse deixar de dizer, “Você foi um pouco bobo desta vez, Rato! O Sapo, também, de todos os animais!”
“Ele fez isso muito bem”, disse o Rato abatido.
“Ele fez você muito bem!” respondeu o Texugo com raiva. “No entanto, falar não vai consertar as coisas. Ele conseguiu escapar por enquanto, isso é certo; e o pior é que ele vai estar tão convencido de sua própria inteligência que pode cometer qualquer loucura. Um conforto é que estamos livres agora, e não precisamos desperdiçar mais do nosso precioso tempo fazendo guarda. Mas é melhor continuarmos a dormir no Vila do Sapo por mais um tempo. O Sapo pode ser trazido de volta a qualquer momento—em uma maca, ou entre dois policiais.”
Assim falou o Texugo, sem saber o que o futuro reservava, ou quanto de água, e de que tipo, iria correr sob as pontes antes que o Sapo se sentasse novamente em seu Salão ancestral.
Enquanto isso, o Sapo, alegre e irresponsável, caminhava rapidamente pela estrada principal, a algumas milhas de casa. No início, ele havia tomado atalhos e cruzado muitos campos e mudado de direção várias vezes, caso fosse perseguido; mas agora, sentindo-se seguro de não ser recapturado, e o sol sorrindo brilhantemente para ele, e toda a natureza se juntando a um coro de aprovação à canção de auto-elogio que seu próprio coração estava cantando para ele, ele quase dançou pela estrada em sua satisfação e vaidade.
“Um trabalho inteligente!” ele observou para si mesmo, rindo. “Cérebro contra força bruta—e o cérebro saiu por cima—como sempre faz. Pobre Rato! Meu! Ele não vai aguentar quando o Texugo voltar! Um camarada digno, Rato, com muitas boas qualidades, mas muito pouca inteligência e absolutamente nenhuma educação. Eu preciso levá-lo em mãos um dia e ver se posso fazer algo dele.”
Cheio de pensamentos vaidosos como esses, ele marchou ao longo, sua cabeça erguida, até chegar a uma pequena cidade, onde o letreiro do “Leão Vermelho”, balançando sobre a estrada no meio da rua principal, o lembrou de que ele não havia tomado café da manhã naquele dia e que estava com muita fome após sua longa caminhada. Ele entrou no estabelecimento, pediu o melhor almoço que poderia ser fornecido em tão curto prazo e sentou-se para comê-lo no salão de café.
Ele estava mais ou menos na metade de sua refeição quando um som muito familiar, aproximando-se pela rua, o fez saltar e tremer todo. O barulho do carro aproximou-se mais e mais, o carro pôde ser ouvido entrando no quintal e parando, e o Sapo teve que se segurar à perna da mesa para ocultar sua emoção avassaladora. Logo a partida entrou no salão de café, famintos, tagarelas e alegres, loquazes sobre suas experiências da manhã e os méritos do carro que os havia trazido tão bem. O Sapo ouviu ansiosamente por um tempo; por fim, não pôde mais aguentar. Ele saiu silenciosamente do salão, pagou sua conta no bar e, assim que saiu, deu uma volta silenciosa pelo quintal. “Não pode haver mal nenhum”, disse ele para si mesmo, “em eu apenas dar uma olhada nele!”
O carro estava no meio do quintal, completamente desacompanhado, os ajudantes de estábulo e outros agregados estavam todos almoçando. O Sapo caminhou lentamente ao redor dele, inspecionando, criticando, meditando profundamente.
“Eu me pergunto”, disse ele para si mesmo logo depois, “eu me pergunto se este tipo de carro começa facilmente?”
No momento seguinte, mal sabendo como isso aconteceu, ele se viu segurando a alavanca e a girando. Quando o som familiar estourou, a velha paixão tomou conta do Sapo e o dominou completamente, corpo e alma. Como se em um sonho, ele se viu, de alguma forma, sentado no banco do motorista; como se em um sonho, ele puxou a alavanca e fez o carro dar uma volta pelo quintal e sair pelo arco; e como se em um sonho, todo o senso de certo e errado, todo o medo de consequências óbvias, parecia temporariamente suspenso. Ele aumentou sua velocidade e, enquanto o carro engolia a rua e saltava para a estrada aberta pelo campo, ele estava apenas consciente de que era o Sapo mais uma vez, o Sapo em seu melhor e mais alto, o Sapo, o terror, o controlador do tráfego, o Senhor da trilha solitária, diante do qual todos devem dar lugar ou ser atingidos e reduzidos a nada e noite eterna. Ele cantou enquanto voava e o carro respondeu com um zumbido sonoro; as milhas foram devoradas sob ele enquanto ele corria, não sabia para onde, cumprindo seus instintos, vivendo sua hora, sem temor de consequências.
“A meu ver”, observou o Presidente do Tribunal de Magistrados alegremente, “a única dificuldade que se apresenta neste caso, de outra forma muito claro, é como podemos possivelmente torná-lo suficientemente quente para o patife incorrigível e rufião endurecido que vemos encolhido no banco dos réus diante de nós. Vamos ver: ele foi considerado culpado, com a evidência mais clara, em primeiro lugar, de roubar um carro valioso; em segundo lugar, de dirigir de forma perigosa; e, em terceiro lugar, de impertinência grosseira para a polícia rural. Sr. Escrivão, por favor, diga-nos, qual é a pena mais dura que podemos impor por cada uma dessas ofensas? Sem, claro, dar ao prisioneiro o benefício de qualquer dúvida, porque não há nenhuma.”
O Escrivão coçou o nariz com sua caneta. “Algumas pessoas considerariam”, ele observou, “que roubar o carro era a pior ofensa; e assim é. Mas insultar a polícia sem dúvida carrega a pena mais severa; e assim deve ser. Supondo que você dissesse doze meses pelo roubo, o que é brando; e três anos pela direção perigosa, o que é leniente; e quinze anos pelo insulto, o que foi um tipo muito ruim de insulto, julgando pelo que ouvimos da testemunha, mesmo que você acredite em apenas um décimo do que você ouviu, e eu nunca acredito em mais—esses números, se somados corretamente, totalizam dezenove anos——”
“De primeira ordem!” disse o Presidente.
“—Então é melhor você fazer vinte anos e ficar do lado seguro”, concluiu o Escrivão.
“Uma sugestão excelente!” disse o Presidente, aprovando. “Prisioneiro! Levante-se e tente ficar reto. Vai ser vinte anos para você desta vez. E lembre-se, se você aparecer diante de nós novamente, sob qualquer acusação, teremos que lidar com você de forma muito séria!”
Então os brutais capangas da lei caíram sobre o infeliz Sapo; o carregaram com correntes e o arrastaram para fora do Tribunal, gritando, rezando e protestando; através do mercado, onde o povo brincalhão, sempre severo com o crime detectado, como é solidário e prestativo quando alguém está apenas “procurado”, o assediou com zombarias, cenouras e refrões populares; passando por crianças em idade escolar, suas caras inocentes iluminadas com o prazer que sempre derivam da visão de um cavalheiro em dificuldades; através da ponte oca, sob a ponte levadiça, sob o arco carrancudo do castelo antigo, cujas torres antigas se erguiam altas acima; passando por salas de guarda cheias de soldados sorridentes de folga, passando por sentinelas que tossiam de uma forma horrível e sarcástica, porque é o máximo que uma sentinela em seu posto ousa fazer para mostrar seu desprezo e abominação pelo crime; subindo escadas sinuosas desgastadas pelo tempo, passando por homens de armas em casquetes e couraças de aço, disparando olhares ameaçadores através de suas viseiras; através de pátios, onde cães de guarda se esforçavam em suas coleiras e arranhavam o ar para chegar até ele; passando por guardas antigos, suas alabardas encostadas na parede, cochilando sobre um pastel e um jarro de cerveja marrom; e assim por diante, passando pela câmara de tortura e a sala do tronco, passando pela virada que levava ao cadafalso privado, até que finalmente pararam na porta da masmorra mais sombria que ficava no coração da torre mais interna do castelo mais forte em todo o comprimento e largura da Inglaterra alegre.
“Aí está!”, disse o sargento de polícia, tirando seu capacete e limpando a testa. “Acorda, velho maluco, e assuma a responsabilidade por esse vilão do Sapo, um criminoso de culpa profunda e arte sem par. Vigie e guarde-o com todo o seu talento; e lembre-se bem, barba branca, se algo de ruim acontecer, sua velha cabeça responderá por isso—e uma praga sobre os dois!”
O carcereiro fez um gesto de cabeça, colocando sua mão mirrada no ombro do infeliz Sapo. A chave enferrujada rangeu na fechadura, a porta pesada bateu atrás deles; e o Sapo era um prisioneiro indefeso na masmorra mais remota do castelo mais guardado em todo o comprimento e largura da Inglaterra alegre.
Capítulo 7: O Flautista às portas do amanhecer
O trinador do pintarroxo soava sua canção fina e pequena, escondido na margem escura do rio. Embora fosse mais de dez horas da noite, o céu ainda retinha alguns vestígios de luz do dia que havia partido; e o calor abafado da tarde tórrida se dissipava ao toque fresco da noite de verão. O Toupeira estava estendido na margem, ainda arfando com o estresse do dia quente que havia sido sem nuvens desde o amanhecer até o pôr do sol tardio, e esperava que seu amigo voltasse.
Ele havia estado no rio com alguns companheiros, deixando o Rato Livre para manter um compromisso antigo com a Lontra; e ele havia voltado para encontrar a casa escura e deserta, e nenhum sinal de Rato, que provavelmente estava mantendo a noite com seu velho camarada. Ainda estava muito quente para pensar em ficar em casa, então ele se deitou em algumas folhas frescas de bardana e pensou sobre o dia passado e seus acontecimentos, e como todos haviam sido muito bons.
O som dos passos leves do Rato foi ouvido se aproximando sobre a grama seca. “Oh, a bendita frescura!” ele disse, e sentou-se, olhando pensativamente para o rio, silencioso e absorto.
“Você ficou para o jantar, claro?” disse o Toupeira.
“Simplesmente tive”, disse o Rato. “Eles não me deixariam ir antes. Você sabe como são sempre gentis. E eles fizeram as coisas tão alegres para mim quanto possível, até o momento em que eu parti. Mas eu me senti um bruto o tempo todo, pois estava claro para mim que eles estavam muito infelizes, embora tentassem esconder. Toupeira, estou com medo de que eles estejam em apuros. O pequeno Portly está desaparecido novamente; e você sabe o quanto seu pai gosta dele, embora nunca diga muito sobre isso.”
“O que, aquela criança?” disse o Toupeira levemente. “Bem, suponha que ele esteja; por que se preocupar com isso? Ele está sempre se desviando e se perdendo, e reaparecendo novamente; ele é tão aventureiro. Mas nenhum mal nunca lhe acontece. Todo mundo aqui sabe dele e gosta dele, assim como gostam da velha Lontra, e você pode ter certeza de que algum animal ou outro irá encontrá-lo e trazê-lo de volta novamente, tudo bem.”
“Sim; mas desta vez é mais sério”, disse o Rato gravemente. “Ele está desaparecido há alguns dias agora, e os Lutras procuraram por toda parte, alto e baixo, sem encontrar o menor vestígio. E eles perguntaram a todos os animais, também, por milhas ao redor, e ninguém sabe nada sobre ele. A Lontra está evidentemente mais ansiosa do que admite. Eu consegui que ele me contasse que o jovem Portly ainda não aprendeu a nadar muito bem, e posso ver que ele está pensando na represa. Há muita água descendo ainda, considerando a época do ano, e o lugar sempre teve um fascínio para a criança. E então há… bem, armadilhas e coisas… você sabe. A Lontra não é o tipo de sujeito que se preocupa com algum filho seu antes do tempo. E agora ele está nervoso. Quando eu parti, ele veio comigo… disse que queria um pouco de ar, e falou sobre esticar as pernas. Mas eu pude ver que não era isso, então eu o tirei e o bombeei, e consegui tudo dele no final. Ele ia passar a noite vigiando a represa. Você sabe o lugar onde a antiga represa costumava ser, nos dias de outrora, antes de construírem a ponte?”
“Eu conheço bem”, disse o Toupeira. “Mas por que a Lontra escolheria vigiar lá?”
“Bem, parece que foi lá que ele deu ao Portly sua primeira aula de natação”, continuou o Rato. “Daquela pequena praia rasa e pedregosa perto da margem. E foi lá que ele costumava ensinar-lhe a pescar, e lá que o jovem Portly pegou seu primeiro peixe, do qual ele estava tão orgulhoso. A criança amava o local, e a Lontra acha que se ele vier vagando de volta de onde quer que esteja… se ele estiver em algum lugar agora, coitadinho… ele pode ir para a represa de que gostava tanto; ou se ele a encontrar, ele se lembrará bem e parará lá e brincará, talvez. Então a Lontra vai lá toda noite e vigia… por acaso, você sabe, apenas por acaso!”
Eles ficaram em silêncio por um tempo, ambos pensando na mesma coisa: o animal solitário e desolado, agachado na represa, vigiando e esperando, a longa noite inteira… por acaso.
“Bem, bem”, disse o Rato depois de um tempo, “acho que devemos estar pensando em ir para a cama.” Mas ele nunca ofereceu se mover.
“Toupeira”, disse o Rato, “eu simplesmente não posso ir para a cama, e dormir, e não fazer nada, mesmo que não pareça haver nada a ser feito. Vamos tirar o barco, e remar rio acima. A lua estará alta em uma hora ou mais, e então podemos procurar tão bem quanto pudermos… de qualquer maneira, será melhor do que ir para a cama e não fazer nada.”
“Exatamente o que eu estava pensando”, disse o Rato. “Não é a noite certa para a cama, de qualquer maneira; e o amanhecer não está tão longe, e então podemos pegar algumas notícias dele de madrugadores enquanto vamos.”
Eles tiraram o barco, e o Rato pegou os remos, remando com cautela. No meio do rio, havia uma trilha clara e estreita que refletia o céu; mas onde quer que as sombras caíssem sobre a água da margem, arbusto ou árvore, elas eram tão sólidas em aparência quanto as margens em si, e o Toupeira teve que guiar com juízo de acordo. Escuro e deserto como estava, a noite estava cheia de pequenos ruídos, canções e conversas e farfalhadas, contando a população ocupada que estava acordada e por aí, exercendo seus ofícios e profissões durante a noite até que a luz do sol caísse sobre eles e os mandasse para seu merecido repouso. Os próprios ruídos da água também eram mais aparentes do que durante o dia, seus gorgolejos e “cloops” mais inesperados e próximos; e constantemente eles se sobressaltavam com o que parecia um chamado claro e repentino de uma voz articulada real.
A linha do horizonte estava clara e dura contra o céu, e em um quarto particular mostrava preto contra uma fosforescência prateada crescente que crescia e crescia. Por fim, sobre a borda da terra à espera, a lua se levantou com majestade lenta até que balançou limpa do horizonte e cavalgou, livre de amarras; e mais uma vez eles começaram a ver superfícies… prados espalhados, e jardins tranquilos, e o rio em si, de margem a margem, tudo suavemente revelado, tudo lavado limpo de mistério e terror, tudo radiante novamente como durante o dia, mas com uma diferença que era tremenda. Seus velhos haunts os saudaram novamente em outras vestes, como se tivessem escorregado e colocado essa roupa pura e nova e voltado silenciosamente, sorrindo enquanto esperavam timidamente para ver se seriam reconhecidos novamente sob ela.
Amarrando seu barco a uma salgueira, os amigos desembarcaram nesse reino silencioso e prateado, e exploraram pacientemente as sebes, as árvores ocas, os regos e seus pequenos canais, as valas e os leitos de água secos. Embarcando novamente e atravessando, eles trabalharam seu caminho rio acima dessa maneira, enquanto a lua, serena e separada em um céu sem nuvens, fazia o que podia, embora tão longe, para ajudá-los em sua busca; até que sua hora chegou e ela afundou relutantemente em direção à terra, e os deixou, e o mistério mais uma vez segurou o campo e o rio.
Então uma mudança começou lentamente a se declarar. O horizonte ficou mais claro, campo e árvore vieram mais à vista, e de alguma forma com um aspecto diferente; o mistério começou a cair deles. Um pássaro piou de repente, e silenciou; e uma brisa leve saltou e fez os juncos e as taboas farfalharem. Rato, que estava na popa do barco, enquanto o Toupeira remava, sentou-se subitamente e ouviu com uma intensidade apaixonada. O Toupeira, que com golpes gentis estava apenas mantendo o barco em movimento enquanto examinava as margens com cuidado, olhou para ele com curiosidade.
“Acabou!” suspirou o Rato, afundando-se novamente em seu assento. “Tão bonito e estranho e novo. Como era para terminar tão cedo, eu quase desejaria nunca ter ouvido. Pois despertou um anseio em mim que é dor, e nada parece valer a pena, mas apenas ouvir esse som mais uma vez e continuar ouvindo para sempre. Não! Lá está novamente!” ele gritou, alerta mais uma vez. Encantado, ele ficou em silêncio por um longo tempo, enfeitiçado.
“Agora passa e começo a perdê-lo”, disse ele depois de um tempo. “Oh, Toupeira! a beleza disso! A bolha alegre e a alegria, o chamado tênue e claro da flauta distante! Tal música eu nunca sonhei, e o chamado nela é mais forte ainda do que a música é doce! Rema, Toupeira, rema! Pois a música e o chamado devem ser para nós.”
O Toupeira, muito admirado, obedeceu. “Eu não ouço nada”, disse ele, “mas o vento tocando nos juncos e nas taboas e nos amieiros.”
O Rato nunca respondeu, se é que ouviu. Arrebatado, transportado, tremendo, ele foi possuído em todos os seus sentidos por essa coisa divina nova que pegou sua alma indefesa e a balançou e a embalou, um bebê impotente mas feliz em um forte braço sustentador.
Em silêncio, o Toupeira remou firmemente, e logo eles chegaram a um ponto onde o rio se dividia, um longo braço de água parada se ramificando para um lado. Com um leve movimento de cabeça, o Rato, que havia largado as linhas do leme há muito tempo, dirigiu o remador para pegar o braço de água parada. A maré de luz se infiltrou e ganhou, e agora eles podiam ver a cor das flores que enfeitavam a margem da água.
“Mais claro e mais perto ainda”, gritou o Rato alegremente. “Agora você certamente ouve! Ah… enfim… eu vejo que você ouve!”
Sem fôlego e transfixo, o Toupeira parou de remar quando a corrida líquida daquele flautear alegre o atingiu como uma onda, o pegou e o possuiu completamente. Ele viu lágrimas nos olhos de seu companheiro, e abaixou a cabeça e entendeu. Por um tempo, eles ficaram ali, escovados pelo lírio roxo que franjava a margem; então o claro e imperioso chamado que marchava lado a lado com a melodia intoxicante impôs sua vontade ao Toupeira, e mecanicamente ele se curvou para os remos novamente. E a luz cresceu firmemente, mas nenhum pássaro cantou como costumavam fazer na aproximação do amanhecer; e a não ser pela música celestial, tudo estava maravilhosamente quieto.
Em ambos os lados deles, enquanto deslizavam para a frente, a rica grama do prado parecia naquela manhã de uma frescura e um verdejante insuperáveis. Nunca haviam notado as rosas tão vívidas, a erva-de-São-João tão desenfreada, a doçura do prado tão perfumada e penetrante. Então o murmúrio da represa se aproximando começou a preencher o ar, e eles sentiram uma consciência de que estavam se aproximando do fim, qualquer que fosse, que certamente aguardava sua expedição.
Um amplo semicírculo de espuma e luzes cintilantes e ombros verdes de água, a grande represa fechou o braço de água parada de margem a margem, perturbou toda a superfície quieta com redemoinhos e listras flutuantes de espuma, e abafou todos os outros sons com seu rugido solene e suave. No meio da corrente, abraçado pelo braço cintilante da represa, uma pequena ilha estava ancorada, franjada de perto com salgueiros e bétulas prateadas e amieiros. Reservada, tímida, mas cheia de significado, ela escondia o que quer que pudesse segurar atrás de um véu, mantendo-o até que a hora chegasse, e, com a hora, aqueles que eram chamados e escolhidos.
Lentamente, mas sem dúvida ou hesitação, os dois animais passaram pela água quebrada e tumultuada e amarraram seu barco na margem florida da ilha. Em silêncio, eles desembarcaram, e empurraram através da flor e do mato perfumado e do sub-bosque que levava até o terreno plano, até que eles ficaram em um pequeno gramado de um verde maravilhoso, cercado pelas próprias árvores do pomar da Natureza… macieiras silvestres, cerejeiras silvestres e espinheiros.
“Este é o lugar do meu sonho de canção”, sussurrou o Rato, como em um transe. “Aqui, neste lugar santo, aqui, se em algum lugar, certamente encontraremos Ele!”
Então, de repente, o Toupeira sentiu um grande temor cair sobre ele, um temor que transformou seus músculos em água, abaixou sua cabeça e enraizou seus pés no chão. Não era um terror de pânico… na verdade, ele se sentia maravilhosamente em paz e feliz… mas era um temor que o atingiu e o segurou, e, sem ver, ele sabia que só podia significar que alguma Presença augusta estava muito, muito perto. Com dificuldade, ele se virou para olhar para seu amigo e o viu ao seu lado, acovardado, atingido e tremendo violentamente. E ainda havia silêncio total nos ramos povoados de pássaros ao seu redor; e ainda a luz crescia e crescia.
Talvez ele nunca tivesse ousado levantar os olhos, mas que, embora a flauta agora estivesse em silêncio, o chamado e a convocação pareciam ainda dominantes e imperiosos. Ele não podia recusar, mesmo que a Morte em pessoa estivesse esperando para atingi-lo instantaneamente, uma vez que ele tivesse olhado com olhos mortais para as coisas que eram mantidas escondidas. Tremendo, ele obedeceu, e levantou sua cabeça humilde; e então, naquela clareza total do amanhecer iminente, enquanto a Natureza, enrubescida com a plenitude de uma cor incrível, parecia segurar a respiração para o evento, ele olhou nos próprios olhos do Amigo e do Ajudante; viu a varredura para trás dos chifres curvos, brilhando na luz crescente do dia; viu o nariz severo e adunco entre os olhos bondosos que estavam olhando para baixo neles com humor, enquanto a boca barbada se abria em um meio-sorriso nos cantos; viu os músculos ondulantes no braço que estava estendido sobre o peito largo, a mão longa e flexível ainda segurando as flautas que haviam caído dos lábios separados; viu as curvas esplêndidas dos membros peludos dispostos em majestade fácil no gramado; viu, por último, aninhada entre seus cascos, dormindo profundamente em paz e contentamento total, a pequena forma redonda e rechonchuda do bebê lontra. Tudo isso ele viu, por um momento sem fôlego e intenso, vívido no céu da manhã; e ainda, enquanto olhava, ele vivia; e ainda, enquanto vivia, ele se perguntava.
“Rato!” ele encontrou fôlego para sussurrar, tremendo. “Você está com medo?”
“Com medo?” murmurou o Rato, seus olhos brilhando com amor inexprimível. “Com medo! Dele? Oh, nunca, nunca! E ainda… e ainda… Oh, Toupeira, estou com medo!”
Então os dois animais, agachados no chão, abaixaram suas cabeças e fizeram uma reverência.
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Súbito e magnificente, o disco dourado do sol se mostrou sobre o horizonte diante deles; e os primeiros raios, atirando-se sobre os prados nivelados, atingiram os animais cheios nos olhos e os ofuscaram. Quando eles puderam olhar novamente, a Visão havia desaparecido, e o ar estava cheio do canto dos pássaros que saudavam o amanhecer.
Enquanto eles olhavam fixamente em miséria muda, profunda, à medida que lentamente percebiam tudo o que haviam visto e tudo o que haviam perdido, uma brisa caprichosa, dançando da superfície da água, sacudiu os álamos, sacudiu as rosas orvalhadas e soprou suavemente e acariciando seus rostos; e com seu toque suave veio o esquecimento instantâneo. Pois este é o último e melhor presente que o demi-deus bondoso tem cuidado em conferir àqueles a quem ele se revelou em sua ajuda: o presente do esquecimento. Para que a lembrança terrível não permaneça e cresça, e eclipse a alegria e o prazer, e a grande memória assombrosa não estrague todas as vidas posteriores dos pequenos animais ajudados a sair das dificuldades, para que eles sejam felizes e leves como antes.
O Toupeira esfregou os olhos e olhou fixamente para o Rato, que estava olhando em volta de uma maneira confusa. “Peço desculpas; o que você disse, Rato?” ele perguntou.
“Acho que eu estava apenas observando”, disse o Rato lentamente, “que este era o tipo certo de lugar, e que aqui, se em algum lugar, deveríamos encontrá-lo. E olhe! Porque, lá está ele, o pequeno sujeito!” E com um grito de deleite, ele correu em direção ao Portly adormecido.
Mas o Toupeira ficou parado por um momento, preso em pensamento. Como alguém acordado subitamente de um sonho lindo, que luta para recordá-lo, e não pode recapturar nada além de uma sensação vaga da beleza dele, a beleza! Até que isso também desaparece por sua vez, e o sonhador aceita amargamente o despertar duro e frio e todas as suas penalidades; assim o Toupeira, depois de lutar com sua memória por um breve espaço, sacudiu a cabeça tristemente e seguiu o Rato.
Portly acordou com um guincho alegre, e se contorceu com prazer à vista dos amigos de seu pai, que haviam brincado com ele tantas vezes nos dias passados. Em um momento, no entanto, seu rosto ficou em branco, e ele começou a caçar em um círculo com um gemido suplicante. Como uma criança que adormeceu feliz nos braços de sua ama, e acorda para encontrar-se sozinha e posta em um lugar estranho, e procura cantos e armários, e corre de quarto em quarto, o desespero crescendo silenciosamente em seu coração, assim Portly procurou a ilha e procurou, obstinado e incansável, até que finalmente chegou o momento negro de desistir, e sentar-se e chorar amargamente.
O Toupeira correu rapidamente para confortar o pequeno animal; mas o Rato, demorando-se, olhou longamente e com dúvida para certas marcas de casco profundas na grama.
“Algum… grande… animal… esteve aqui”, murmurou ele lentamente e pensativamente; e ficou meditando, meditando; sua mente estranhamente agitada.
“Vamos, Rato!” chamou o Toupeira. “Pense no pobre Lontra, esperando lá em cima na represa!”
Portly logo foi confortado pela promessa de um agrado… uma viagem no rio no barco real do Sr. Rato; e os dois animais o conduziram até a margem da água, o colocaram seguramente entre eles no fundo do barco, e remaram para baixo do braço de água parada. O sol estava totalmente alto agora, e quente sobre eles, os pássaros cantavam com alegria e sem restrição, e as flores sorriam e acenavam de ambas as margens, mas de algum modo… assim pensaram os animais… com menos riqueza e brilho de cor do que pareciam recordar ter visto recentemente em algum lugar… eles se perguntaram onde.
O rio principal alcançado novamente, eles viraram a proa do barco para cima, em direção ao ponto onde sabiam que seu amigo estava mantendo sua vigília solitária. À medida que se aproximavam da represa familiar, o Toupeira levou o barco para a margem, e eles levantaram Portly e o puseram sobre as pernas no caminho de sirga, deram-lhe suas ordens de marcha e um tapa amigável nas costas, e empurraram para o meio da corrente. Eles observaram o pequeno animal enquanto ele caminhava ao longo do caminho contente e com importância; observaram-no até que viram seu focinho levantar-se subitamente e sua marcha quebrar-se em um trote desajeitado à medida que ele apressava o passo com guinchos agudos e contorções de reconhecimento. Olhando rio acima, eles podiam ver a Lontra se levantar, tensa e rígida, das águas rasas onde estava agachada em paciência muda, e podiam ouvir seu latido atônito e alegre à medida que ele saltava para cima através dos amieiros para o caminho. Então o Toupeira, com um forte puxão em um remo, virou o barco e deixou a corrente completa levá-los para baixo novamente para onde quer que fosse, sua busca agora felizmente terminada.
“Eu me sinto estranhamente cansado, Rato”, disse o Toupeira, inclinando-se sobre os remos enquanto o barco derivava. “É por estar acordado a noite toda, você dirá, talvez; mas isso não é nada. Nós fazemos tanto a metade das noites da semana, nesta época do ano. Não; eu me sinto como se tivesse passado por algo muito emocionante e bastante terrível, e que acabou de passar; e ainda nada de particular aconteceu.”
“Ou algo muito surpreendente e esplêndido e lindo”, murmurou o Rato, inclinando-se para trás e fechando os olhos. “Eu me sinto exatamente como você, Toupeira; simplesmente morto de cansaço, embora não cansado de corpo. É sorte termos a corrente conosco, para nos levar para casa. Não é alegre sentir o sol novamente, penetrando em nossos ossos! E ouça o vento tocando nos juncos!”
“É como música… música distante”, disse o Toupeira, acenando sonolentamente.
“Assim eu estava pensando”, murmurou o Rato, sonhador e languidamente. “Música de dança… do tipo saltitante que corre sem parar… mas com palavras nela, também… ela passa para as palavras e para fora delas novamente… eu as pego em intervalos… então é música de dança mais uma vez, e então nada além do sussurro suave e fino dos juncos.”
“Você ouve melhor do que eu”, disse o Toupeira tristemente. “Eu não posso pegar as palavras.”
“Deixe-me tentar e dá-las a você”, disse o Rato suavemente, seus olhos ainda fechados. “Agora está se transformando em palavras novamente… tênue, mas claro… Para que o temor não morra… E transforme seu jogo em preocupação… Você deve olhar para o meu poder na hora de ajudar… Mas então você deve esquecer! Agora os juncos a tomam… esquecer, esquecer, eles suspiram, e ela morre em um farfalhar e um sussurro. Então a voz retorna… Para que os membros não sejam avermelhados e rasgados… Eu solto a armadilha que está montada… Como eu solto a armadilha, você pode me ver lá… Pois certamente você deve esquecer! Rema mais perto, Toupeira, mais perto dos juncos! É difícil de pegar, e fica cada minuto mais fraco.
“Ajudante e curador, eu alegro… Pequenos desamparados na floresta molhada… Desgarrados eu encontro nela, ferimentos eu ligo nela… Mandando-os todos esquecer! Mais perto, Toupeira, mais perto! Não, não é bom; a canção morreu para o sussurro dos juncos.”
“Mas o que significam as palavras?” perguntou o Toupeira admirado.
“Isso eu não sei”, disse o Rato simplesmente. “Eu as passei para você como elas me alcançaram. Ah! agora elas retornam novamente, e desta vez cheias e claras! Desta vez, enfim, é a coisa real, a coisa inconfundível, simples… apaixonada… perfeita…”
“Bem, vamos ter isso, então”, disse o Toupeira, depois que ele havia esperado pacientemente por alguns minutos, meio adormecido no sol quente.
Mas nenhuma resposta veio. Ele olhou e entendeu o silêncio. Com um sorriso de muita felicidade no rosto, e algo de um olhar de escuta ainda pairando ali, o Rato cansado estava profundamente adormecido.
Capítulo 8: As Aventuras do Sapo
Quando Sapo se viu imurado em um calabouço sombrio e fedorento, e sabia que toda a escuridão sombria de uma fortaleza medieval se estendia entre ele e o mundo exterior de sol e estradas bem pavimentadas, onde ele havia estado tão feliz recentemente, se divertindo como se tivesse comprado todas as estradas da Inglaterra, ele se jogou no chão, de comprido, e derramou lágrimas amargas, e se abandonou ao desespero sombrio. “Este é o fim de tudo” (disse ele), “pelo menos é o fim da carreira de Sapo, o que é a mesma coisa; o popular e bonito Sapo, o rico e hospitaleiro Sapo, o Sapo tão livre e descuidado e cavalheiresco! Como posso esperar ser libertado novamente” (disse ele), “quem foi preso tão justamente por roubar um carro tão bonito de maneira tão audaciosa, e por tamanha falta de vergonha e imaginação, concedida a tantos policiais gordos e de cara vermelha!” (Aqui seus soluços o sufocaram.) “Animal estúpido que eu era” (disse ele), “agora devo definhar neste calabouço, até que as pessoas que se orgulhavam de dizer que me conheciam tenham esquecido o nome de Sapo! Oh, sábio velho Texugo!” (disse ele), “Oh, inteligente e sensato Rato e Mole! Que julgamentos sensatos, que conhecimento de homens e assuntos vocês possuem! Oh, infeliz e abandonado Sapo!”
Com lamentações como essas, ele passou seus dias e noites por várias semanas, recusando suas refeições ou lanches leves, embora o carcereiro sombrio e antigo, sabendo que os bolsos de Sapo estavam bem cheios, frequentemente apontasse que muitos confortos e luxos poderiam ser enviados, mediante arranjo, de fora.
Agora o carcereiro tinha uma filha, uma moça agradável e de bom coração, que ajudava seu pai nos deveres mais leves de seu cargo. Ela era particularmente apaixonada por animais e, além de seu canário, cuja gaiola pendia em uma parede do calabouço durante o dia, para grande aborrecimento dos prisioneiros que gostavam de uma soneca após o jantar, e era coberta com um antimacassar na mesa da sala de estar à noite, ela mantinha vários ratos malhados e um esquilo inquieto e giratório. Essa moça de bom coração, lamentando a miséria de Sapo, disse a seu pai um dia: “Pai! Não posso suportar ver esse pobre animal tão infeliz e emagrecendo! Deixe-me cuidar dele. Você sabe como sou apaixonada por animais. Farei com que ele coma da minha mão e se sente e faça todo tipo de coisas.”
Seu pai respondeu que ela podia fazer o que quisesse com ele. Ele estava cansado de Sapo e seus amuos e ares e mesquinhez. Então, naquele dia, ela foi em sua missão de misericórdia e bateu na porta da cela de Sapo.
“Agora, anime-se, Sapo”, disse ela, de forma sedutora, ao entrar, “e sente-se e seque seus olhos e seja um animal sensato. E tente comer um pouco de jantar. Veja, eu trouxe um pouco do meu, quente do forno!”
Era um prato de couve-flor e batata, entre dois pratos, e seu aroma encheu a cela estreita. O cheiro penetrante da couve-flor alcançou o nariz de Sapo enquanto ele jazia prostrado em sua miséria no chão e lhe deu a ideia, por um momento, de que talvez a vida não fosse tão vazia e desesperada como ele havia imaginado. Mas ele ainda chorou e chutou com as pernas e se recusou a ser consolado. Então a moça sábia se retirou por um tempo, mas, é claro, um pouco do cheiro de couve-flor quente permaneceu, como sempre acontece, e Sapo, entre seus soluços, cheirou e refletiu e gradualmente começou a pensar em novas e inspiradoras coisas: de cavalheirismo, poesia e feitos ainda a serem feitos; de prados amplos e gado pastando neles, varridos pelo sol e pelo vento; de jardins de cozinha e bordas de ervas retas e besouros quentes cercados por abelhas; e do som reconfortante de pratos sendo colocados na mesa em Vila do Sapo e do arranhar de pernas de cadeiras no chão enquanto todos se sentavam para trabalhar. O ar da cela estreita adquiriu um tom rosado; ele começou a pensar em seus amigos e como eles certamente poderiam fazer algo; em advogados e como eles teriam gostado de seu caso e que tolo ele havia sido por não contratar alguns; e, por fim, ele pensou em sua própria grande inteligência e recursos e tudo que ele era capaz de fazer se apenas desse sua grande mente para isso; e a cura estava quase completa.
Quando a moça retornou, algumas horas depois, ela carregava uma bandeja com uma xícara de chá fragrante fumegando nela; e um prato empilhado com torradas quentes e manteigadas, cortadas grossas, muito marrons de ambos os lados, com a manteiga escorrendo pelos buracos em grandes gotas douradas, como mel do favo. O cheiro daquela torrada amanteigada simplesmente falou com Sapo e com uma voz não incerta; falou de cozinhas quentes, de café da manhã em manhãs frescas e brilhantes, de lareiras aconchegantes em noites de inverno, quando a caminhada estava terminada e os pés calçados estavam apoiados no guarda-fogo; do ronronar de gatos contentes e do canto de canários sonolentos. Sapo sentou-se novamente, secou os olhos, bebeu seu chá e comeu sua torrada e logo começou a falar livremente sobre si mesmo e a casa em que vivia e suas ações lá e como ele era importante e o que seus amigos pensavam dele.
A filha do carcereiro viu que o tópico estava fazendo tanto bem a ele quanto o chá, e de fato era, e o encorajou a continuar.
“Conte-me sobre a Vila do Sapo”, disse ela. “Parece lindo.”
“A Vila do Sapo”, disse Sapo orgulhosamente, “é uma residência elegível e autossuficiente de um cavalheiro muito única; datando em parte do século XIV, mas repleta de todas as conveniências modernas. Sanitários atualizados. Cinco minutos da igreja, do correio e dos links de golfe. Adequado para -“
“Abençoe o animal”, disse a moça, rindo, “não quero comprá-lo. Conte-me algo real sobre isso. Mas primeiro espere até que eu pegue mais chá e torrada para você.”
Ela saiu correndo e logo retornou com uma bandeja fresca; e Sapo, atacando a torrada com avidez, seu espírito completamente restaurado ao seu nível habitual, contou-lhe sobre a casa do barco e o lago de peixes e o jardim de cozinha murado antigo; e sobre os chiqueiros e os estábulos e a casa dos pombos e o galinheiro; e sobre a leiteria e a lavanderia e os armários de porcelana e as prensas de linho (ela gostou especialmente dessa parte); e sobre o salão de banquetes e a diversão que eles tinham lá quando os outros animais estavam reunidos em torno da mesa e Sapo estava no seu melhor, cantando canções, contando histórias, fazendo piadas em geral. Então ela quis saber sobre seus amigos animais e estava muito interessada em tudo o que ele tinha a dizer sobre eles e como viviam e o que faziam para passar o tempo. É claro que ela não disse que gostava de animais como pets, porque ela tinha o senso de ver que Sapo ficaria extremamente ofendido. Quando ela disse boa noite, tendo enchido sua garrafa de água e sacudido sua palha para ele, Sapo estava muito parecido com o animal sanguíneo e auto-satisfeito que ele havia sido antigamente. Ele cantou uma ou duas canções, do tipo que costumava cantar em seus jantares, encolheu-se na palha e teve uma excelente noite de sono e os sonhos mais agradáveis.
Eles tiveram muitas conversas interessantes juntos, depois disso, enquanto os dias sombrios passavam; e a filha do carcereiro ficou muito arrependida por Sapo e pensou que era uma grande vergonha que um pobre animalzinho estivesse preso na prisão por o que parecia ser uma ofensa muito trivial. Sapo, é claro, em sua vaidade, pensou que o interesse dela por ele procedia de uma ternura crescente; e ele não podia deixar de meio arrepender-se de que o abismo social entre eles fosse tão amplo, pois ela era uma linda moça e evidentemente o admirava muito.
Uma manhã, a moça estava muito pensativa e respondia ao acaso e não parecia estar prestando atenção adequada às frases espirituosas e comentários brilhantes de Sapo.
“Sapo”, disse ela, por fim, “apenas ouça, por favor. Tenho uma tia que é uma lavadeira.”
“Lá, lá”, disse Sapo, graciosa e afavelmente, “não se preocupe; não pense mais nisso. Tenho várias tias que deveriam ser lavadeiras.”
“Seja quieto por um minuto, Sapo”, disse a moça. “Você fala demais, essa é sua principal falha, e estou tentando pensar, e você está me machucando a cabeça. Como eu disse, tenho uma tia que é uma lavadeira; ela faz a lavagem para todos os prisioneiros neste castelo – nós tentamos manter qualquer negócio pago desse tipo na família, você entende. Ela tira a lavagem na segunda-feira de manhã e a traz de volta na sexta-feira à noite. Hoje é quinta-feira. Agora, o que me ocorre é isso: você é muito rico – pelo menos você está sempre me dizendo isso – e ela é muito pobre. Alguns pounds não fariam diferença para você e significariam muito para ela. Agora, acho que se ela fosse devidamente abordada – subornada, acredito que seja a palavra que vocês animais usam – você poderia chegar a algum acordo pelo qual ela o deixaria ter seu vestido e touca e assim por diante, e você poderia escapar do castelo como a lavadeira oficial. Você é muito parecido com ela em muitos aspectos – particularmente na figura.”
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“Não somos”, disse Sapo em um acesso de raiva. “Tenho uma figura muito elegante – para o que sou.”
“Minha tia também tem”, respondeu a moça, “para o que ela é. Mas faça como quiser. Você é um animal horrível, orgulhoso e ingrato, quando estou arrependida por você e tentando ajudá-lo!”
“Sim, sim, tudo bem; muito obrigado, de fato”, disse Sapo rapidamente. “Mas olhe aqui! Você não teria Sr. Sapo de Vila do Sapo andando pelo país disfarçado de lavadeira!”
“Então você pode parar aqui como um Sapo”, respondeu a moça com muito espírito. “Suponho que você queira ir embora em uma carruagem e quatro cavalos!”
Sapo honesto estava sempre pronto para admitir que estava errado. “Você é uma boa, gentil e inteligente moça”, disse ele, “e eu sou de fato um Sapo orgulhoso e estúpido. Apresente-me à sua tia digna, se você for tão gentil, e não tenho dúvida de que a excelente senhora e eu poderemos chegar a um acordo satisfatório para ambas as partes.”
Naquela noite, a moça levou sua tia até a cela de Sapo, carregando sua lavagem semanal presa em uma toalha. A velha senhora havia sido preparada com antecedência para a entrevista e a visão de certas soberanas de ouro que Sapo havia colocado pensativamente sobre a mesa em plena vista praticamente concluiu o assunto e deixou pouco mais a discutir. Em troca de seu dinheiro, Sapo recebeu um vestido de algodão impresso, um avental, um xale e um chapéu preto enferrujado; a única estipulação que a velha senhora fez foi que ela deveria ser amordaçada e amarrada e jogada em um canto. Por esse artifício não muito convincente, ela explicou, auxiliada por uma ficção pitoresca que ela mesma poderia fornecer, ela esperava manter sua situação, apesar da aparência suspeita das coisas.
Sapo ficou encantado com a sugestão. Isso permitiria que ele deixasse a prisão com algum estilo e com sua reputação de ser um sujeito desesperado e perigoso intacta; e ele prontamente ajudou a filha do carcereiro a fazer com que sua tia parecesse tanto quanto possível a vítima de circunstâncias sobre as quais ela não tinha controle.
“Agora é sua vez, Sapo”, disse a moça. “Tire aquele casaco e colete; você está gordo o suficiente como está.”
Tremendo de riso, ela começou a “enganchar e olhar” para ele no vestido de algodão impresso, arrumou o xale com um dobra profissional e amarrou as cordas do chapéu preto enferrujado sob o queixo dele.
“Você é a própria imagem dela”, ela gargalhou, “só que estou certa de que você nunca pareceu tão respeitável em toda a sua vida antes. Agora, adeus, Sapo, e boa sorte. Vá direto para baixo pelo caminho que você veio; e se alguém disser alguma coisa para você, como provavelmente farão, sendo apenas homens, você pode responder um pouco, é claro, mas lembre-se de que você é uma mulher viúva, completamente sozinha no mundo, com um caráter a perder.”
Com um coração trêmulo, mas com um passo firme quanto possível, Sapo partiu cautelosamente em uma empreitada que parecia ser a mais temerária e arriscada; mas ele logo ficou agradavelmente surpreso ao descobrir como tudo era fácil para ele e um pouco humilde ao pensar que tanto sua popularidade quanto o sexo que parecia inspirá-la eram realmente de outra pessoa. A figura atarracada da lavadeira em seu vestido de algodão impresso familiar parecia ser um passaporte para cada porta trancada e portão sombrio; mesmo quando ele hesitou, incerto sobre a direção certa a tomar, ele descobriu que era ajudado em sua dificuldade pelo guarda no próximo portão, ansioso para ir tomar seu chá, chamando-o para vir rapidamente e não o manter esperando ali a noite toda. As brincadeiras e as saudações humorísticas às quais ele foi submetido e às quais, é claro, ele teve que responder prontamente e de forma eficaz, formaram, de fato, seu principal perigo; pois Sapo era um animal com um forte senso de sua própria dignidade e as brincadeiras eram na maioria (ele pensou) pobres e desajeitadas e o humor das saudações completamente ausente. No entanto, ele manteve a calma, embora com grande dificuldade, adequou suas respostas à sua companhia e ao seu suposto personagem e fez o melhor que pôde para não ultrapassar os limites do bom gosto.
Parecia horas antes que ele cruzasse o último pátio, rejeitasse os convites insistente do último guarda e evitasse os braços estendidos do último guarda, implorando com paixão simulada por apenas um abraço de despedida. Mas finalmente ele ouviu o portão da guilhotina na grande porta externa clicar atrás dele, sentiu o ar fresco do mundo exterior em sua testa ansiosa e soube que estava livre!
Tonto com o sucesso fácil de sua ousada façanha, ele caminhou rapidamente em direção às luzes da cidade, sem saber ao menos o que fazer em seguida, apenas certo de uma coisa, que ele devia se afastar o mais rápido possível do bairro onde a senhora que ele foi forçado a representar era tão conhecida e popular.
Enquanto caminhava, considerando, sua atenção foi capturada por algumas luzes vermelhas e verdes a uma curta distância, para um lado da cidade, e o som do bufar e resfolegar de motores e o barulho de vagões de carga desviados caiu em seu ouvido. “Aha!” ele pensou, “isso é uma peça de sorte! Uma estação de trem é a coisa que eu mais quero no mundo neste momento; e o que é mais, eu não preciso ir através da cidade para chegar lá, e não terei que sustentar este personagem humilhante com réplicas que, embora eficazes, não ajudam o meu senso de auto-respeito.”
Ele fez seu caminho para a estação de acordo, consultou um horário e descobriu que um trem, mais ou menos na direção de sua casa, estava programado para partir em meia hora. “Mais sorte!” disse Sapo, seu espírito subindo rapidamente, e foi até o escritório de reservas para comprar seu bilhete.
Ele deu o nome da estação que sabia ser a mais próxima da aldeia da qual Vila do Sapo era a principal característica e mecanicamente colocou seus dedos, em busca do dinheiro necessário, onde o bolso de seu colete deveria estar. Mas aqui o vestido de algodão, que havia nobremente ficado ao seu lado até agora e que ele havia esquecido, interveio e frustrou seus esforços. Em uma espécie de pesadelo, ele lutou com a estranha coisa desconhecida que parecia segurar suas mãos, transformar todos os esforços musculares em água e rir dele o tempo todo; enquanto outros viajantes, formando uma fila atrás dele, esperavam com impaciência, fazendo sugestões de mais ou menos valor e comentários de mais ou menos estringência e ponto. Por fim – de alguma forma – ele nunca entendeu exatamente como – ele rompeu as barreiras, alcançou o objetivo, chegou aonde todos os bolsos de colete estão eternamente situados e descobriu – não apenas dinheiro, mas não havia bolso para segurá-lo e nenhum colete para segurar o bolso!
Para seu horror, ele se lembrou de que havia deixado tanto o casaco quanto o colete para trás, em sua cela, e com eles sua carteira, dinheiro, chaves, relógio, fósforos, caneta e tudo o que faz a vida valer a pena viver, tudo o que distingue o animal de muitos bolsos, o senhor da criação, das produções inferiores de um bolso ou sem bolso que pulam ou tropeçam permissivamente, desequipadas para o verdadeiro concurso.
Em sua miséria, ele fez um esforço desesperado para levar a coisa adiante e, com um retorno ao seu velho estilo – uma mistura do Esquire e do Reitor da Faculdade – ele disse: “Olhe aqui! Descobri que deixei minha bolsa para trás. Apenas me dê aquele bilhete, sim, e eu mandarei o dinheiro amanhã? Sou bem conhecido nestas partes.”
O funcionário olhou para ele e para o chapéu preto enferrujado por um momento e então riu. “Eu deveria pensar que você é muito conhecido nestas partes”, disse ele, “se você já tentou esse jogo muitas vezes. Aqui, afaste-se da janela, por favor, madame; você está obstruindo os outros passageiros!”
Um velho cavalheiro que havia estado cutucando-o nas costas por alguns momentos o empurrou para longe e, o que era pior, dirigiu-se a ele como sua boa mulher, o que enfureceu Sapo mais do que qualquer coisa que havia ocorrido naquela noite.
Derrotado e cheio de desespero, ele vagou cegamente pela plataforma onde o trem estava parado e lágrimas escorreram por ambos os lados de seu nariz. Era difícil, ele pensou, estar à vista da segurança e quase em casa e ser detido pela falta de alguns xelins miseráveis e pela desconfiança mesquinha de funcionários pagos. Muito em breve, sua fuga seria descoberta, a caça estaria em andamento, ele seria pego, insultado, carregado com correntes, arrastado de volta à prisão e pão e água e palha; seus guardas e penalidades seriam duplicados; e oh, que comentários sarcásticos a moça faria! O que poderia ser feito? Ele não era rápido nos pés; sua figura era infelizmente reconhecível. Não poderia ele se esgueirar sob o banco de um vagão? Ele havia visto esse método adotado por escolares, quando o dinheiro da viagem fornecido por pais previdentes havia sido desviado para outros e melhores fins. Enquanto ponderava, ele se viu diante da locomotiva, que estava sendo lubrificada, limpa e geralmente acariciada por seu motorista afeiçoado, um homem corpulento com um recipiente de óleo em uma mão e um pedaço de algodão em outra.
“Olá, mãe!” disse o maquinista, “qual é o problema? Você não parece particularmente alegre.”
“Oh, senhor!” disse Sapo, chorando novamente, “sou uma pobre lavadeira infeliz e perdi todo o meu dinheiro e não posso pagar por um bilhete e devo chegar em casa esta noite de alguma forma e não sei o que fazer, oh, querido, oh, querido!”
“Isso é um mau negócio, de fato”, disse o maquinista refletindo. “Perdeu seu dinheiro – e não pode chegar em casa – e tem alguns filhos esperando por você, eu suponho?”
“Qualquer quantidade deles”, soluçou Sapo. “E eles estarão com fome – e brincando com fósforos – e derrubando lampiões, os pequenos inocentes! – e brigando e seguindo em frente, em geral. Oh, querido, oh, querido!”
“Bem, eu vou dizer o que farei”, disse o bom maquinista. “Você é uma lavadeira de profissão, diz você. Muito bem, isso é isso. E eu sou um maquinista, como você bem pode ver, e não há como negar que é um trabalho muito sujo. Usa uma quantidade de camisas, faz, até que minha esposa esteja cansada de lavá-las. Se você lavar algumas camisas para mim quando chegar em casa e as enviar, eu darei a você uma carona no meu trem. É contra os regulamentos da Companhia, mas não somos tão particulares nestas partes afastadas.”
A miséria de Sapo se transformou em êxtase enquanto ele se apressava a subir na cabine da locomotiva. É claro que ele nunca havia lavado uma camisa em sua vida e não poderia se tentasse, e de qualquer forma, ele não iria começar; mas ele pensou: “Quando eu chegar em casa em Vila do Sapo e tiver dinheiro novamente e bolsos para colocá-lo, eu enviarei ao maquinista o suficiente para pagar por uma boa quantidade de lavagem, e isso será a mesma coisa ou melhor.”
O guarda acenou com sua bandeira de boas-vindas, o maquinista assobiou em resposta alegre e o trem saiu da estação. À medida que a velocidade aumentava e Sapo podia ver em ambos os lados dele campos reais, árvores e sebes, vacas e cavalos, todos voando rapidamente, e à medida que pensava que cada minuto estava trazendo-o mais perto de Vila do Sapo, de amigos simpáticos, de dinheiro para tilintar em seu bolso, de uma cama macia para dormir e de coisas boas para comer, e de elogios e admiração ao relatar suas aventuras e sua habilidade surpreendente, ele começou a pular para cima e para baixo e a gritar e a cantar trechos de canções, para o grande espanto do maquinista, que havia encontrado lavadeiras antes, em longos intervalos, mas nunca uma como essa.
Eles haviam coberto muitas milhas e Sapo estava considerando o que teria para o jantar assim que chegasse em casa, quando ele notou que o maquinista, com uma expressão intrigada no rosto, estava se inclinando sobre o lado da locomotiva e ouvindo atentamente. Então ele o viu subir nas brasas e olhar para fora sobre o topo do trem; então ele voltou e disse a Sapo: “É muito estranho; somos o último trem que funciona nesta direção esta noite, mas eu poderia jurar que ouvi outro trem nos seguindo!”
Sapo parou suas travessuras frívolas imediatamente. Ele ficou sério e deprimido e uma dor surda na parte inferior de sua espinha, comunicando-se às suas pernas, o fez querer se sentar e tentar desesperadamente não pensar em todas as possibilidades.
Nesse momento, a lua estava brilhando intensamente e o maquinista, equilibrando-se nas brasas, podia comandar uma visão da linha atrás deles por uma longa distância.
Logo ele gritou: “Posso vê-lo claramente agora! É uma locomotiva, em nossos trilhos, vindo em uma grande velocidade! Parece que estamos sendo perseguidos!”
O infeliz Sapo, agachado na poeira das brasas, tentou pensar em algo para fazer, com um sucesso desanimador.
“Eles estão nos alcançando rapidamente!” gritou o maquinista. E a locomotiva está cheia de pessoas estranhas! Homens como guardas antigos, acenando com alabardas; policiais em seus capacetes, acenando com cassetetes; e homens mal vestidos em chapéus de pano, detetives à paisana óbvios e inconfundíveis mesmo a esta distância, acenando com revólveres e bengalas; todos acenando e gritando a mesma coisa – ‘Pare, pare, pare!'”
Então Sapo caiu de joelhos entre as brasas e, erguendo suas patas juntas em súplica, gritou: “Salve-me, apenas me salve, querido e gentil Sr. Maquinista, e eu confessarei tudo! Não sou a simples lavadeira que pareço ser! Não tenho filhos esperando por mim, inocentes ou não! Sou um sapo – o conhecido e popular Sr. Sapo, um proprietário de terras; acabei de escapar, por minha grande ousadia e habilidade, de um calabouço nojento no qual meus inimigos me jogaram; e se aqueles sujeitos naquela locomotiva me recapturarem, serão correntes e pão e água e palha e miséria uma vez mais para o pobre, infeliz e inocente Sapo!”
O maquinista olhou para ele muito severamente e disse: “Agora diga a verdade; por que você foi colocado na prisão?”
“Não foi nada muito grande”, disse o pobre Sapo, corando profundamente. “Eu apenas peguei emprestado um carro enquanto os proprietários estavam almoçando; eles não precisavam dele naquele momento. Eu não pretendia roubá-lo, realmente; mas as pessoas – especialmente os magistrados – têm visões tão duras de ações imprudentes e de alto espírito!”
O maquinista parecia muito grave e disse: “Temo que você tenha sido de fato um sapo muito mau e que, por direito, eu deveria entregá-lo à justiça ofendida. Mas você está evidentemente em uma situação difícil e angustiada, então não o abandonarei. Não concordo com carros, por um lado; e não concordo em ser ordenado por policiais quando estou no meu próprio trem, por outro. E a visão de um animal em lágrimas sempre me faz sentir estranho e com o coração mole. Então, anime-se, Sapo! Farei o meu melhor e podemos derrotá-los ainda!”
Eles jogaram mais brasas, cavando furiosamente; a fornalha rugiu, as faíscas voaram, a locomotiva saltou e balançou, mas seus perseguidores ainda os alcançavam lentamente. O maquinista, com um suspiro, limpou a testa com um punhado de algodão e disse: “Temo que não seja bom, Sapo. Você vê, eles estão correndo com pouca carga e têm a melhor locomotiva. Há apenas uma coisa a ser feita e é sua única chance, então preste atenção ao que eu digo. Um pouco à frente de nós há um longo túnel e, do outro lado, a linha passa por uma floresta densa. Agora, vou colocar toda a velocidade que posso enquanto estamos no túnel, mas os outros sujeitos vão diminuir um pouco, naturalmente, por medo de um acidente. Quando sairmos do túnel, vou desligar o vapor e aplicar os freios com toda a força que posso e, no momento em que for seguro fazê-lo, você deve saltar e se esconder na floresta antes que eles saiam do túnel e o vejam. Então, vou seguir em frente a toda velocidade novamente e eles podem me perseguir se quiserem, por tanto tempo quanto quiserem e tão longe quanto quiserem. Agora, preste atenção e esteja pronto para saltar quando eu disser!”
Eles jogaram mais brasas e o trem entrou no túnel e a locomotiva rugiu e resfolegou e sacudiu até que finalmente saíram do outro lado, no ar fresco e na luz tranquila da lua e viram a floresta deitada escura e útil de ambos os lados da linha. O maquinista desligou o vapor e aplicou os freios, Sapo desceu para o degrau e, quando o trem diminuiu a velocidade para quase um passo, ele ouviu o maquinista gritar: “Agora, salte!”
Sapo saltou, rolou por uma pequena encosta, se levantou ileso, subiu a floresta e se escondeu.
Olhando para fora, ele viu seu trem ganhar velocidade novamente e desaparecer em uma grande velocidade. Então, do túnel, irrompeu a locomotiva perseguidora, rugindo e apitando, sua tripulação variada acenando com suas várias armas e gritando: “Pare, pare, pare!” Quando passaram, Sapo teve uma boa risada – pela primeira vez desde que foi jogado na prisão.
Mas logo ele parou de rir quando ele veio a considerar que agora era muito tarde e escuro e frio e ele estava em uma floresta desconhecida, sem dinheiro e sem chance de jantar e ainda longe de amigos e casa; e o silêncio morto de tudo, após o rugido e o estrondo do trem, foi uma espécie de choque. Ele não ousou deixar o abrigo das árvores, então ele entrou na floresta, com a ideia de deixar a ferrovia o mais longe possível atrás dele.
Depois de tantas semanas dentro de muros, ele achou a floresta estranha e inamistosa e inclinada, ele pensou, a zombar dele. Noitibó, soando seu matraquear mecânico, o fez pensar que a floresta estava cheia de guardas de prisão, fechando-se sobre ele. Uma coruja, descendo silenciosamente em sua direção, roçou seu ombro com sua asa, fazendo-o saltar com a certeza horrível de que era uma mão; então voou, como uma mariposa, rindo seu “hu-hu-hu” baixo, o que Sapo achou de muito mau gosto. Uma vez ele encontrou uma raposa, que parou, olhou-o de cima a baixo de uma maneira sarcástica e disse: “Olá, lavadeira! Meia dúzia de meias e um travesseiro curto esta semana! Cuide para que isso não aconteça novamente!” e saiu andando, rindo. Sapo procurou uma pedra para jogar nela, mas não conseguiu encontrar uma, o que o enfureceu mais do que qualquer coisa. Por fim, frio, com fome e cansado, ele buscou o abrigo de uma árvore oca, onde, com galhos e folhas mortas, ele se fez uma cama tão confortável quanto possível e dormiu profundamente até a manhã.
Capítulo 9: Todos os Viajantes
O Rato do Rio estava inquieto e não sabia exatamente por quê. Ao que parecia, o verão ainda estava no auge, e embora os campos cultivados estivessem começando a dourar, as sorveiras estivessem se tornando vermelhas e as florestas estivessem pontilhadas com uma ferocidade alaranjada, a luz, o calor e a cor ainda estavam presentes em medida plena, sem qualquer sinal de declínio. Mas o coro constante dos pomares e sebes havia diminuído para um canto casual de alguns poucos artistas ainda não cansados; o rouxinol estava começando a se afirmar novamente; e havia um sentimento no ar de mudança e partida.
O cuco, é claro, havia silenciado há muito tempo; mas muitos outros amigos emplumados, que por meses haviam feito parte da paisagem familiar e da sua pequena sociedade, também estavam desaparecendo, e parecia que as fileiras estavam se esvaziando dia a dia. O Rato, sempre observador de todos os movimentos alados, viu que estava tomando uma tendência ao sul diariamente; e mesmo quando ele estava deitado na cama à noite, ele pensou que podia ouvir, passando na escuridão acima dele, o bater e tremer de asas impacientes, obedecendo ao chamado imperioso.
O Grande Hotel da Natureza tem sua Estação, como os outros. Quando os hóspedes, um a um, fazem as malas, pagam e partem, e os assentos na mesa do hotel diminuem miseravelmente a cada refeição; quando os conjuntos de quartos são fechados, os tapetes são levados e os garçons são mandados embora; aqueles que estão ficando, em pensão, até a reabertura do ano seguinte, não podem deixar de ser afetados por todas essas partidas e despedidas, essa discussão ansiosa de planos, rotas e novos alojamentos, essa diminuição diária no fluxo de companheirismo. A pessoa se sente inquieta, deprimida e inclinada a ser queixosa. Por que essa ânsia por mudança? Por que não ficar aqui quietamente, como nós, e ser feliz? Você não sabe como é este hotel fora da estação, e o quanto nos divertimos entre nós, nós que ficamos e vemos o ano interessante passar. Tudo muito verdadeiro, sem dúvida, os outros sempre respondem; nós invejamos vocês – e talvez algum outro ano – mas agora temos compromissos – e há o ônibus na porta – nosso tempo está acabando!
Então, eles partem, com um sorriso e um aceno, e nós sentimos falta, e nos sentimos ressentidos. O Rato era um tipo de animal autossuficiente, enraizado na terra, e, quem quer que partisse, ele ficava; ainda assim, ele não podia deixar de notar o que estava no ar, e sentir alguma de sua influência nos seus ossos.
Era difícil se estabelecer em qualquer coisa seriamente, com toda essa agitação acontecendo. Deixando a margem do rio, onde as taboas estavam espessas e altas em um riacho que estava se tornando lento e baixo, ele vagou em direção ao campo, cruzou um ou dois campos de pastagem já parecendo empoeirados e ressequidos, e entrou no grande mar de trigo, amarelo, ondulante e murmurante, cheio de movimento silencioso e sussurros pequenos. Aqui, ele costumava amar vagar, através da floresta de caules fortes e rígidos que carregavam seu próprio céu dourado para longe sobre sua cabeça – um céu que estava sempre dançando, cintilando, falando suavemente; ou balançando fortemente para o vento que passava e se recuperando com um sacudir e uma risada alegre.
Aqui, também, ele tinha muitos amigos pequenos, uma sociedade completa em si mesma, levando vidas cheias e ocupadas, mas sempre com um momento sobrando para fofocar e trocar notícias com um visitante. Hoje, no entanto, embora eles fossem educados o suficiente, os ratos do campo e os ratos da colheita pareciam preocupados. Muitos estavam cavando e túneis ocupados; outros, reunidos em pequenos grupos, examinavam planos e desenhos de pequenos apartamentos, considerados desejáveis e compactos, e localizados convenientemente perto das Lojas. Alguns estavam arrastando trunks e cestas de roupas empoeiradas, outros estavam já cotovelos-deep empacotando suas posses; enquanto em todos os lugares pilhas e feixes de trigo, aveia, cevada, mastros de faia e nozes, estavam prontos para o transporte.
“Aqui está o velho Rato!”, eles gritaram assim que o viram. “Venha e dê uma mão, Rato, e não fique parado ociosamente!”
“Que tipo de jogos você está fazendo?”, perguntou o Rato do Rio severamente. “Você sabe que ainda não é hora de pensar em quartos de inverno, de jeito nenhum!”
“Ah, sim, sabemos”, explicou um rato do campo um pouco envergonhado; “mas é sempre bom estar preparado, não é? Nós realmente precisamos tirar todos os móveis e bagagens e estoques daqui antes que aquelas máquinas horríveis comecem a clicar em torno dos campos; e então, você sabe, os melhores apartamentos são escolhidos tão rapidamente nos dias de hoje, e se você é atrasado, você tem que se contentar com qualquer coisa; e eles precisam de tanto trabalho para ficar prontos para se mudar. Claro, estamos cedo, sabemos disso; mas estamos apenas começando.”
“O, que se dane os inícios”, disse o Rato. “É um dia esplêndido. Vamos remar, ou dar um passeio ao longo das sebes, ou fazer um piquenique na floresta, ou algo assim.”
“Bem, eu acho que não hoje, obrigado”, respondeu o rato do campo apressadamente. “Talvez outro dia – quando tivermos mais tempo -“
O Rato, com um resmungo de desprezo, girou em torno para ir, tropeçou em uma caixa de chapéu, e caiu, com comentários indignos.
“Se as pessoas fossem mais cuidadosas”, disse um rato do campo um pouco rigidamente, “e olhassem para onde estão indo, as pessoas não se machucariam – e se esqueceriam de si mesmas. Cuidado com essa mala, Rato! Você melhor se sentar em algum lugar. Em uma hora ou duas, podemos estar mais livres para atendê-lo.”
“Você não estará ‘livre’ como você chama isso por muito tempo deste lado do Natal, posso ver isso”, retorquiu o Rato mal-humorado, enquanto ele escolhia seu caminho para fora do campo.
Ele retornou um pouco desanimado para o seu rio novamente – seu fiel, constante e antigo rio, que nunca fazia as malas, fugia ou entrava em quartos de inverno.
Nos salgueiros que marginavam o banco, ele espionou um andorinha sentado. Logo foi acompanhado por outro, e depois por um terceiro; e os pássaros, inquietos em seus galhos, conversaram entre si com seriedade e baixinho.
“O que, já”, disse o Rato, aproximando-se deles. “Qual é a pressa? Eu chamo isso de simplesmente ridículo.”
“Ah, não estamos indo embora ainda, se é isso que você quer dizer”, respondeu a primeira andorinha. “Estamos apenas fazendo planos e arranjando coisas. Conversando sobre isso, sabe – que rota vamos pegar este ano, e onde vamos parar, e assim por diante. Essa é metade da diversão!”
“Diversão?”, disse o Rato; “agora é justamente o que eu não entendo. Se você tem que deixar este lugar agradável, e os amigos que sentirão sua falta, e os lares aconchegantes que você acabou de se estabelecer, por que, quando a hora chegar, eu não tenho dúvida de que você irá corajosamente, e enfrentará todos os problemas e desconfortos e mudanças e novidades, e fará de conta que não está muito infeliz. Mas querer falar sobre isso, ou mesmo pensar sobre isso, até que você realmente precise -“
“Não, você não entende, naturalmente”, disse a segunda andorinha. “Primeiro, sentimos isso agitando dentro de nós, uma doce inquietude; então voltam as lembranças uma a uma, como pombos retornando para casa. Eles voam através dos nossos sonhos à noite, eles voam conosco em nossos giros e círculos durante o dia. Nós anelamos para perguntar uns aos outros, para comparar notas e nos assegurarmos de que tudo isso era realmente verdade, enquanto um a um os cheiros e sons e nomes de lugares esquecidos há muito tempo voltam gradualmente e nos chamam.”
“Você não poderia ficar este ano?”, sugeriu o Rato do Rio, com nostalgia. “Nós faremos o nosso melhor para fazê-lo se sentir em casa. Você não tem ideia dos bons momentos que temos aqui, enquanto você está longe.”
“Eu tentei ‘ficar’ um ano”, disse a terceira andorinha. “Eu havia crescido tão afeiçoado ao lugar que, quando chegou a hora, eu hesitei e deixei os outros irem sem mim. Por algumas semanas, tudo estava bem; mas depois, oh, as noites eram tão compridas! Os dias sem sol! O ar tão frio e úmido, e nem um inseto em um acre dele! Não, não foi bom; minha coragem se quebrou, e em uma noite fria e tempestuosa, eu abri asas e voei, voando bem para o interior por causa dos fortes ventos leste. Estava nevando forte quando eu atravessei os desfiladeiros das grandes montanhas, e eu tive uma luta dura para vencer; mas nunca vou esquecer a sensação de felicidade do sol quente nas minhas costas novamente quando eu desci em direção aos lagos que jaziam tão azuis e tranquilos abaixo de mim, e o sabor do meu primeiro inseto gordo! O passado era como um mau sonho; o futuro era todo um feriado feliz enquanto eu me movia para o sul, semana após semana, facilmente, preguiçosamente, demorando-me tanto quanto eu ousava, mas sempre atendendo ao chamado!”
“Ah, sim, o chamado do Sul, do Sul!”, gorjearam as outras duas andorinhas sonhadoramente. “Suas canções, suas cores, seu ar radiante! Oh, você se lembra -” e, esquecendo o Rato, elas deslizaram para reminiscências apaixonadas, enquanto ele ouvia fascinado, e seu coração ardia dentro dele.
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Em si mesmo, também, ele sabia que estava vibrando finalmente, que acorde até então adormecido e insuspeito. A mera conversa desses pássaros que se dirigiam para o sul, seus relatos pálidos e de segunda mão, ainda tinham o poder de despertar essa nova sensação selvagem e emocioná-lo por completo; o que faria um momento da coisa real – um toque apaixonado do sol real do sul, uma lufada do odor autêntico?
Com olhos fechados, ele ousou sonhar por um momento em total abandono, e quando ele olhou novamente, o rio parecia frio e gelado, os campos verdes cinzentos e sem luz. Então, seu coração leal parecia gritar por sua fraqueza.
“Por que você volta, então, afinal?”, ele exigiu das andorinhas ciumentamente. “O que você encontra para atrair você neste país pobre e triste?”
“E você acha”, disse a primeira andorinha, “que o outro chamado não é para nós também, na sua estação? O chamado da grama do prado exuberante, das plantações molhadas, dos lagos quentes e cheios de insetos, do gado pastando, da fenação, e de todos os prédios da fazenda agrupados em torno da Casa dos Beirais perfeitos?”
“Você supõe”, perguntou a segunda, “que você é o único ser vivo que anseia com um anseio faminto para ouvir a nota do cuco novamente?”
“No momento certo”, disse a terceira, “nós estaremos com saudades de casa novamente por causa das plantas aquáticas tranquilas balançando na superfície de um riacho inglês. Mas hoje, tudo isso parece pálido e tênue e muito distante. Agora, nosso sangue dança para outra música.”
Eles caíram novamente em uma conversa animada entre si, e desta vez seu bate-papo embriagador era de mares violetas, areias alaranjadas e paredes infestadas de lagartos.
Inquieto, o Rato vagou novamente, subiu a encosta que se erguia suavemente da margem norte do rio e se deitou olhando para o grande anel de colinas que barrava sua visão mais ao sul – seu horizonte simples até agora, suas Montanhas da Lua, seu limite atrás do qual não havia nada que ele tivesse se importado de ver ou saber. Hoje, para ele, olhando para o sul com uma necessidade recém-nascida agitando em seu coração, o céu claro sobre o contorno longo e baixo das colinas parecia pulsar com promessas; hoje, o desconhecido era tudo, o desconhecido era o único fato real da vida.
Neste lado das colinas, agora estava o vazio real, no outro lado estava o panorama colorido e cheio que seu olho interior estava vendo tão claramente. Quais mares jaziam além, verdes, saltando e crestados! Quais costas banhadas pelo sol, ao longo das quais as vilas brancas cintilavam contra as florestas de oliveiras! Quais portos tranquilos, cheios de navios elegantes destinados a ilhas purpúreas de vinho e especiarias, ilhas localizadas baixas em águas languidas!
Ele se levantou e desceu novamente em direção ao rio; então mudou de ideia e procurou o lado da estrada poeirenta. Lá, deitado meio enterrado na confusão fresca e espessa que a marginava, ele podia meditar sobre a estrada de metal e todo o mundo maravilhoso que ela levava a; sobre todos os viajantes, também, que poderiam ter pisado nela, e as fortunas e aventuras que eles haviam ido buscar ou encontrado sem procurar – lá fora, além – além!
Passos caíram em seus ouvidos, e a figura de alguém que caminhava um pouco cansado entrou em vista; e ele viu que era um Rato, e um muito empoeirado. O viajante, ao alcançá-lo, o saudou com um gesto de cortesia que tinha algo de estrangeiro – hesitou por um momento – então, com um sorriso agradável, virou-se da trilha e sentou-se ao seu lado na vegetação fresca. Ele parecia cansado, e o Rato o deixou descansar sem ser questionado, entendendo algo do que estava em seus pensamentos; sabendo, também, o valor que todos os animais atribuem, às vezes, à simples companhia silenciosa, quando os músculos cansados relaxam e a mente marca o tempo.
O viajante era magro e de traços afiados, e um pouco curvado nos ombros; suas patas eram finas e longas, seus olhos muito enrugados nos cantos, e ele usava pequenos brincos de ouro nas orelhas bem definidas e bem colocadas. Seu suéter tricotado era de um azul desbotado, suas calças, remendadas e manchadas, eram baseadas em uma fundação azul, e seus pequenos pertences que ele carregava estavam amarrados em um lenço azul de algodão.
Quando ele havia descansado por algum tempo, o estranho suspirou, cheirou o ar e olhou em volta.
“Aquilo era trevo, aquele cheiro quente na brisa”, ele comentou; “e aqueles são vacas que ouvimos pastando atrás de nós e soprando suavemente entre as bocadas. Há um som de ceifeiros distantes, e lá se ergue uma linha azul de fumaça de chaminé contra a floresta. O rio corre em algum lugar perto, pois ouço o chamado de uma galinha-d’água, e vejo pela sua construção que você é um marinheiro de água doce. Tudo parece adormecido, e ainda assim está acontecendo o tempo todo. É uma boa vida que você leva, amigo; sem dúvida, a melhor do mundo, se você for forte o suficiente para levá-la!”
“Sim, é a vida, a única vida, para viver”, respondeu o Rato do Rio sonhadoramente, e sem sua convicção habitual.
“Eu não disse exatamente isso”, respondeu o estranho com cautela; “mas sem dúvida é a melhor. Eu tentei, e eu sei. E porque eu apenas tentei – seis meses disso – e sei que é a melhor, aqui estou eu, com os pés doloridos e com fome, trampando para longe disso, trampando para o sul, seguindo o velho chamado, de volta à velha vida, a vida que é minha e que não me deixará ir.”
“Este é, então, mais um deles?”, ponderou o Rato. “E de onde você acabou de vir?” ele perguntou. Ele mal se atrevia a perguntar para onde ele estava indo; ele parecia saber a resposta muito bem.
“Uma fazenda agradável”, respondeu o viajante, brevemente. “Lá para cima, naquela direção” – ele acenou com a cabeça para o norte. “Não se preocupe com isso. Eu tinha tudo o que eu poderia querer – tudo o que eu tinha o direito de esperar da vida, e mais; e aqui estou eu! Feliz em estar aqui, no entanto, feliz em estar aqui! Tantos quilômetros mais na estrada, tantas horas mais perto do meu desejo do coração!”
Seus olhos brilhantes se fixaram no horizonte, e ele parecia estar ouvindo algum som que faltava naquela área de terra, vocal como era com a música alegre da pastagem e do pátio da fazenda.
“Você não é um de nós”, disse o Rato do Rio, “nem um fazendeiro; nem mesmo, eu diria, deste país.”
“Certo”, respondeu o estranho. “Eu sou um rato marinheiro, eu sou, e o porto de onde eu originalmente venho é Constantinopla, embora eu seja uma espécie de estrangeiro lá também, de certa forma. Você terá ouvido falar de Constantinopla, amigo? Uma cidade justa e antiga e gloriosa. E você pode ter ouvido, também, de Sigurd, Rei da Noruega, e como ele navegou para lá com sessenta navios, e como ele e seus homens cavalgaram pelas ruas, todas cobertas em sua honra com púrpura e ouro; e como o Imperador e a Imperatriz desceram e banquetearam com ele a bordo de seu navio. Quando Sigurd voltou para casa, muitos de seus homens do norte permaneceram e entraram na guarda-costas do Imperador, e meu ancestral, um norueguês nascido, ficou para trás também, com os navios que Sigurd deu ao Imperador. Nós sempre fomos marinheiros, e não é de se admirar; quanto a mim, a cidade do meu nascimento não é mais minha casa do que qualquer porto agradável entre lá e o Rio de Londres. Eu os conheço todos, e eles me conhecem. Coloque-me em qualquer um de seus cais ou praias, e eu estou em casa novamente.”
“Eu suponho que você faça grandes viagens”, disse o Rato do Rio com interesse crescente. “Meses e meses fora da vista da terra, e provisões escasseando, e racionamento de água, e sua mente em comunhão com o grande oceano, e tudo isso?”
“De forma alguma”, disse o Rato do Mar francamente. “Tal vida como você descreve não me serviria de forma alguma. Estou no comércio costeiro, e raramente fora da vista da terra. São os momentos alegres em terra que me atraem, tanto quanto qualquer navegação. Oh, aqueles portos do sul! O cheiro deles, as luzes de navegação à noite, o glamour!”
“Bem, talvez você tenha escolhido o melhor caminho”, disse o Rato do Rio, mas de forma um pouco duvidosa. “Conte-me algo sobre sua navegação costeira, então, se você tiver vontade, e que tipo de colheita um animal de espírito pode esperar trazer para casa dela para aquecer seus dias posteriores com memórias galantes pelo fogo; pois minha vida, eu confesso a você, parece-me hoje um pouco estreita e circunscrita.”
“Minha última viagem”, começou o Rato do Mar, “que me levou eventualmente a este país, ligada a esperanças altas para minha fazenda no interior, servirá como um bom exemplo de qualquer uma delas, e, de fato, como um resumo da minha vida altamente colorida. Problemas familiares, como de costume, começaram isso. O cone de tempestade doméstico foi içado, e eu embarquei em um pequeno navio mercante que ia de Constantinopla, pelos mares clássicos, cuja onda lateja com uma lembrança imorredoura, para as Ilhas Gregas e o Levante. Aqueles foram dias dourados e noites amenas! Dentro e fora do porto o tempo todo – velhos amigos em todos os lugares – dormindo em algum templo fresco ou cisterna em ruínas durante o calor do dia – festas e canções após o pôr do sol, sob estrelas grandes postas em um céu de veludo! Dali, viramos e subimos a costa do Adriático, suas praias nadando em uma atmosfera de âmbar, rosa e aquamarina; deitamos em portos amplos e fechados, vagamos por cidades antigas e nobres, até que finalmente, em uma manhã, quando o sol nasceu majestosamente atrás de nós, entramos em Veneza por um caminho de ouro. Oh, Veneza é uma cidade justa, na qual um rato pode vaguear à vontade e se divertir! Ou, quando cansado de vaguear, pode se sentar na borda do Grande Canal à noite, fazendo festa com amigos, quando o ar está cheio de música e o céu cheio de estrelas, e as luzes piscam e brilham nos bicos polidos de aço das gôndolas balançando, tão lotadas que você pode andar sobre elas de lado a lado! E então, a comida – você gosta de frutos do mar? Bem, bem, não vamos demorar nisso agora.”
Ele ficou em silêncio por um tempo; e o Rato do Rio, também silencioso e encantado, flutuou em canais de sonho e ouviu uma canção fantasma soando alto entre paredes cinzentas e onduladas.
“Para o sul, navegamos novamente por fim”, continuou o Rato do Mar, “descendo a costa italiana, até que finalmente fizemos Palermo, e lá eu desembarquei para um longo e feliz período em terra. Eu nunca fico muito tempo em um navio; a pessoa se torna estreita e preconceituosa. Além disso, a Sicília é um dos meus campos de caça felizes. Eu conheço todo mundo lá, e seus modos me agradam. Passei muitas semanas alegres na ilha, hospedado com amigos no interior. Quando eu me tornei inquieto novamente, eu aproveitei um navio que estava indo para a Sardenha e Córsega; e fiquei muito feliz em sentir a brisa fresca e a espuma do mar no meu rosto novamente.”
“Mas não é muito quente e abafado, lá embaixo no – porão, acho que você chama?”, perguntou o Rato do Rio.
O marinheiro olhou para ele com a suspeita de um piscar de olho. “Eu sou um velho marinheiro”, ele comentou com muita simplicidade. “A cabine do capitão é boa o suficiente para mim.”
“É uma vida dura, segundo todos os relatos”, murmurou o Rato, mergulhado em pensamentos profundos.
“Para a tripulação, é”, respondeu o marinheiro gravemente, novamente com o fantasma de um piscar de olho.
“Da Córsega”, ele continuou, “eu aproveitei um navio que estava levando vinho para o continente. Fizemos Alassio no final da tarde, deitamos, içamos nossos barris de vinho, e os jogamos ao mar, amarrados uns aos outros por uma longa corda. Então, a tripulação entrou nos barcos e remou em direção à praia, cantando enquanto remavam, e puxando atrás deles a longa procissão de barris, como uma milha de botos. Na praia, tinham cavalos esperando, que arrastaram os barris pela rua íngreme da pequena cidade com um belo ímpeto e barulho e confusão. Quando o último barril estava dentro, fomos e nos refrescamos e descansamos, e sentamos até tarde da noite, bebendo com nossos amigos, e na manhã seguinte, eu me dirigi para os grandes bosques de oliveiras para um período de descanso e lazer. Pois agora eu havia terminado com as ilhas por um tempo, e portos e navios eram abundantes; então eu levei uma vida preguiçosa entre os camponeses, deitado e observando-os trabalhar, ou esticado no alto da encosta com o Mediterrâneo azul muito abaixo de mim. E assim, por fim, em estágios fáceis, e em parte a pé, em parte de barco, para Marselha, e o encontro com velhos companheiros de navio, e a visita a grandes navios oceânicos, e festas mais uma vez. Falar de frutos do mar! Por que, às vezes eu sonho com os frutos do mar de Marselha, e acordo chorando!”
“Isso me lembra”, disse o Rato do Rio polidamente; “você aconteceu de mencionar que estava com fome, e eu deveria ter falado antes. Claro que você vai parar e fazer sua refeição do meio-dia comigo? Meu buraco está perto; é algum tempo após o meio-dia, e você é muito bem-vindo ao que há.”
“Agora, eu chamo isso de gentil e fraternal de você”, disse o Rato do Mar. “Eu estava com fome quando me sentei, e desde que eu mencionei frutos do mar, minhas dores têm sido extremas. Mas você não poderia trazê-lo aqui para fora? Eu não sou muito fã de ir sob o convés, a menos que eu seja obrigado a isso; e então, enquanto comemos, eu poderia contar mais sobre minhas viagens e a vida agradável que levo – pelo menos, é muito agradável para mim, e pelo seu interesse, eu julgo que ela se recomenda a você; enquanto se formos para dentro, é cem para um que eu logo caia no sono.”
“Essa é uma sugestão excelente”, disse o Rato do Rio, e se apressou para casa. Lá, ele tirou o cesto de lanche e embalou uma refeição simples, na qual, lembrando-se da origem e das preferências do estranho, ele se certificou de incluir uma jarda de pão francês comprido, uma salsicha da qual o alho cantava, um queijo que chorava, e uma garrafa de gargalo longo coberta de palha, na qual estava o sol de garrafas derramado e coletado em encostas do sul distantes. Assim carregado, ele voltou com toda a pressa, e corou de prazer com os elogios do velho marinheiro ao seu gosto e julgamento, enquanto eles desembalavam o cesto e dispunham o conteúdo na grama à beira da estrada.
O Rato do Mar, assim que sua fome foi um pouco saciada, continuou a história de sua última viagem, conduzindo seu ouvinte simples de porto em porto da Espanha, desembarcando-o em Lisboa, Porto e Bordeaux, apresentando-o aos portos agradáveis da Cornualha e Devon, e assim subindo o Canal para aquele cais final, onde, desembarcando após ventos contrários, tempestades e intempéries, ele havia capturado os primeiros sinais mágicos e prenúncios de outra Primavera, e, inspirado por esses, havia corrido em uma longa caminhada pelo interior, faminto pelo experimento da vida em alguma fazenda tranquila, muito longe do cansativo bater de qualquer mar.
Encantado e tremendo de emoção, o Rato do Rio seguiu o Aventureiro liga por liga, sobre baías tempestuosas, através de enseadas lotadas, cruzando barras de porto em uma maré crescente, subindo rios sinuosos que escondiam suas cidades ocupadas em torno de uma curva repentina; e o deixou com um suspiro de arrependimento plantado em sua fazenda monótona no interior, sobre a qual ele não desejava ouvir nada.
Nessa época, sua refeição havia terminado, e o Marinheiro, revigorado e fortalecido, sua voz mais vibrante, seus olhos acesos com um brilho que parecia capturado de algum farol distante no mar, encheu seu copo com o vinho vermelho e brilhante do Sul, e, inclinando-se em direção ao Rato do Rio, prendeu seu olhar e o manteve, corpo e alma, enquanto falava. Aqueles olhos eram da espuma cambiante cinza-esverdeada dos mares do norte; no copo brilhava um rubi quente que parecia o próprio coração do Sul, batendo para ele que tivesse a coragem de responder à sua pulsação. As luzes gêmeas, o cinza cambiante e o vermelho constante, dominaram o Rato do Rio e o mantiveram preso, fascinado, impotente. O mundo tranquilo fora de seus raios recuou para longe e cessou de ser. E a fala, a fala maravilhosa fluía – ou era ela inteiramente fala, ou passava às vezes para a canção – o canto dos marinheiros pesando a âncora gotejante, o zumbido sonoro das cordas em um vento norte-este rasgador, a balada do pescador puxando suas redes ao pôr do sol contra um céu de damasco? Ela mudava para o grito do vento, plangente a princípio, zangadamente agudo à medida que se tornava mais forte, subindo para um assobio rasgador, afundando para um murmúrio musical de ar vindo da orla da vela inchada? Todos esses sons o ouvinte encantado parecia ouvir, e com eles a reclamação faminta das gaivotas e das aves marinhas, o trovão suave da onda quebrando, o protesto da areia. De volta à fala novamente, ela passou, e com batimentos cardíacos, ele estava seguindo as aventuras de uma dúzia de portos, as lutas, as fugas, os reagrupamentos, as camaradagens, as empresas galantes; ou ele procurava ilhas por tesouros, pescava em lagunas tranquilas e cochilava durante o dia inteiro em areia branca e quente. De pescarias em alto mar, ele ouviu falar, e de grandes reuniões prateadas da rede de uma milha de comprimento; de perigos repentinos, barulho de ondas em uma noite sem lua, ou os arcos altos do grande navio tomando forma acima através da neblina; da alegre volta para casa, a enseada contornada, as luzes do porto abertas; os grupos vistos vagamente no cais, o chamado alegre, o barulho da corda; a caminhada pela rua íngreme em direção ao brilho reconfortante das janelas com cortinas vermelhas.
Por fim, em seu sonho acordado, pareceu-lhe que o Aventureiro havia se levantado, mas ainda estava falando, ainda o mantinha preso com seus olhos cinza do mar.
“E agora”, ele estava dizendo suavemente, “eu tomo a estrada novamente, seguindo para o sudoeste por muitos dias longos e empoeirados; até que, por fim, eu chegue à pequena cidade cinzenta do mar que conheço tão bem, que se agarra ao longo de um lado íngreme do porto. Lá, através de portas escuras, você olha para baixo para voos de degraus de pedra, cobertos por grandes tufos cor-de-rosa de valeriana e terminando em um remendo de água azul cintilante. Os pequenos barcos que jazem amarrados aos anéis e suportes da antiga parede do mar estão pintados de forma alegre como aqueles em que eu subi e desci na minha própria infância; os salmões saltam na maré cheia, cardumes de cavala brilham e jogam ao longo de cais e praias, e pelas janelas os grandes navios deslizam, noite e dia, até suas amarras ou para o mar aberto. Lá, mais cedo ou mais tarde, os navios de todas as nações marinhas chegam; e lá, na hora certa, o navio da minha escolha soltará sua âncora. Eu vou levar meu tempo, vou demorar e esperar, até que, por fim, o navio certo esteja esperando por mim, levado para o meio do rio, carregado baixo, seu gurupés apontando para baixo do porto. Eu vou subir a bordo, de barco ou ao longo da corda; e então, em uma manhã, eu vou acordar para a canção e o barulho dos marinheiros, o tilintar do cabrestante e o barulho da corrente da âncora vindo alegremente para dentro. Nós vamos içar a bujarrona e a vela de proa, as casas brancas na margem do porto vão deslizar lentamente para trás à medida que o navio ganha caminho, e a viagem terá começado! À medida que ela se dirige para o promontório, ela se cobrirá de lona; e então, uma vez fora, o som da grande onda verde ao se inclinar para o vento, apontando para o sul!
“E você, você virá também, jovem irmão; pois os dias passam e nunca retornam, e o Sul ainda espera por você. Aproveite a Aventura, atenda ao chamado, agora antes que o momento irreversível passe! É apenas uma batida da porta atrás de você, um passo alegre para a frente, e você está fora da vida velha e na nova! Então, algum dia, algum dia no futuro, volte para casa aqui, se você quiser, quando a taça tiver sido esvaziada e a peça tiver sido jogada, e sente-se ao lado do seu rio tranquilo com uma loja de boas memórias para companhia. Você pode facilmente me alcançar na estrada, pois você é jovem e eu estou envelhecendo e vou suavemente. Eu vou demorar e olhar para trás; e, por fim, eu certamente verei você vindo, ansioso e leve, com todo o Sul no seu rosto!”
A voz morreu e cessou como a trombeta minúscula de um inseto diminui rapidamente para o silêncio; e o Rato do Rio, paralisado e olhando fixamente, viu, por fim, apenas uma mancha distante na superfície branca da estrada.
Mecanicamente, ele se levantou e se pôs a reembalar o cesto de lanche, cuidadosa e sem pressa. Mecanicamente, ele voltou para casa, reuniu algumas pequenas coisas necessárias e tesouros especiais de que gostava, e os colocou em uma bolsa; agindo com deliberação lenta, movendo-se pelo quarto como um sonâmbulo; ouvindo sempre com os lábios separados. Ele pendurou a bolsa sobre o ombro, escolheu uma vara robusta para sua jornada, e sem pressa, mas sem hesitação alguma, ele atravessou o limiar justo quando o Toupeira apareceu na porta.
“Onde você está indo, Rato?”, perguntou o Toupeira com grande surpresa, agarrando-o pelo braço.
“Indo para o Sul, com o resto deles”, murmurou o Rato em um tom monótono de sonho, nunca olhando para ele. “Para o mar primeiro, e então a bordo de um navio, e assim para as praias que estão me chamando!”
Ele pressionou resolutamente para a frente, ainda sem pressa, mas com fixidez de propósito; mas o Toupeira, agora alarmado, colocou-se à frente dele, e olhando em seus olhos, viu que eles estavam vidrados e fixos e viraram um cinza estriado e cambiante – não os olhos do seu amigo, mas os olhos de algum outro animal! Agarrando-o fortemente, ele o arrastou para dentro, jogou-o no chão e o segurou.
O Rato lutou desesperadamente por alguns momentos, e então sua força pareceu deixá-lo de repente, e ele ficou deitado, exausto, com os olhos fechados, tremendo. Logo o Toupeira o ajudou a se levantar e o colocou em uma cadeira, onde ele se sentou desmoronado e encolhido em si mesmo, seu corpo sacudido por um violento tremor, passando no tempo para um ataque histérico de soluços secos. O Toupeira fechou a porta, jogou a bolsa em uma gaveta e a trancou, e sentou-se silenciosamente na mesa ao lado do seu amigo, esperando que o estranho ataque passasse. Gradualmente, o Rato afundou em um sono agitado, quebrado por sobressaltos e murmúrios confusos de coisas estranhas e selvagens e estrangeiras ao Toupeira não esclarecido; e disso ele passou para um sono profundo.
Muito ansioso em mente, o Toupeira o deixou por um tempo e se ocupou com questões domésticas; e estava escurecendo quando ele voltou para a sala e encontrou o Rato onde o havia deixado, bem acordado, de fato, mas desanimado, silencioso e deprimido. Ele deu uma olhada rápida em seus olhos; encontrou-os, para sua grande satisfação, claros e escuros e castanhos novamente como antes; e então sentou-se e tentou animá-lo e ajudá-lo a relatar o que havia acontecido com ele.
Pobre Rato fez o seu melhor, gradualmente, para explicar as coisas; mas como poderia colocar em palavras frias o que havia sido principalmente sugestão? Como recordar, para o benefício de outro, as vozes do mar assombradas que haviam cantado para ele, como reproduzir a magia das cem reminiscências do Marinheiro? Mesmo para si mesmo, agora que o feitiço estava quebrado e o glamour havia partido, ele achou difícil explicar o que havia parecido, algumas horas antes, a coisa inevitável e única. Não é surpreendente, então, que ele não tenha conseguido transmitir ao Toupeira qualquer ideia clara do que ele havia passado naquele dia.
Para o Toupeira, isso estava claro: o ataque, ou acesso, havia passado, e o havia deixado são novamente, embora abalado e deprimido pela reação. Mas ele parecia ter perdido todo o interesse, por enquanto, nas coisas que faziam parte de sua vida diária, bem como em todas as previsões agradáveis dos dias e acontecimentos alterados que a estação em mudança estava certamente trazendo.
Casualmente, então, e com aparente indiferença, o Toupeira virou sua conversa para a colheita que estava sendo reunida, os vagões altos e suas equipes tensas, os montes de feno crescendo, e a grande lua se erguendo sobre acres nus pontilhados de feixes. Ele falou das maçãs avermelhadas ao redor, das nozes castanhas, de geleias e conservas e da destilação de licores; até que, por estágios fáceis, ele alcançou o inverno, seus prazeres cordiais e sua vida caseira aconchegante, e então ele se tornou simplesmente lírico.
Gradualmente, o Rato começou a se sentar e a se juntar. Seu olho opaco se iluminou, e ele perdeu um pouco de seu ar de quem ouvia.
Logo, o Toupeira astuto se afastou e voltou com um lápis e algumas folhas de papel, que ele colocou na mesa ao lado do seu amigo.
“Já faz algum tempo desde que você fez alguma poesia”, ele observou. “Você pode tentar esta noite, em vez de – bem, refletir sobre as coisas tanto. Eu tenho uma ideia de que você se sentirá muito melhor quando tiver algo anotado – mesmo que sejam apenas as rimas.”
O Rato empurrou o papel para longe dele com desânimo, mas o Toupeira discreto saiu da sala, e quando ele espiou de novo algum tempo depois, o Rato estava absorvido e surdo para o mundo; alternadamente rabiscando e chupando a ponta do lápis. É verdade que ele chupou muito mais do que rabiscou; mas era uma alegria para o Toupeira saber que a cura havia pelo menos começado.
Capítulo 10: As novas aventuras do Sapo
A porta da frente da árvore oca dava para o leste, então o Sapo foi acordado bem cedo; em parte pela forte luz do sol que entrava sobre ele, em parte pelo extremo frio de seus dedos dos pés, o que o fez sonhar que estava em casa, em sua cama, no seu belo quarto com janelas estilo Tudor, em uma noite fria de inverno, e que suas cobertas haviam se levantado, resmungando e protestando que não aguentavam mais o frio, e haviam descido correndo para o fogo da cozinha para se aquecerem; e ele as seguiu, descalço, por quilômetros e quilômetros de corredores pavimentados com pedras geladas, argumentando e implorando para que elas fossem razoáveis. Provavelmente teria sido despertado muito antes, se não tivesse dormido por algumas semanas em palha sobre lajes de pedra, e quase esquecido a sensação amigável de grossos cobertores puxados confortavelmente em volta do queixo.
Sentando-se, ele esfregou os olhos primeiro e os dedos dos pés doloridos em seguida, pensando por um momento onde estava, procurando ao redor pelas paredes de pedra familiares e pela pequena janela com grades; então, com um salto no coração, lembrou-se de tudo—sua fuga, sua corrida, sua perseguição; lembrou-se, primeiro e melhor de tudo, que estava livre!
Livre! Só a palavra e o pensamento já valiam cinquenta cobertores. Ele se aqueceu de ponta a ponta ao pensar no alegre mundo lá fora, esperando ansiosamente sua entrada triunfal, pronto para servi-lo e agradá-lo, querendo ajudá-lo e fazer-lhe companhia, como sempre havia sido antigamente, antes que a má sorte caísse sobre ele. Ele sacudiu-se e tirou as folhas secas de seu cabelo com os dedos; e, uma vez concluída sua higiene matinal, marchou para o confortável sol da manhã, frio, mas confiante, faminto, mas esperançoso, todos os terrores nervosos do dia anterior dissipados pelo descanso, pelo sono e pelo sol franco e encorajador.
Naquela manhã de início de verão, ele tinha o mundo todo só para ele. A floresta orvalhada, enquanto ele a percorria, estava solitária e tranquila: os campos verdes que sucediam as árvores eram seus, para fazer o que bem quisesse; a própria estrada, quando ele a alcançou, naquela solidão que estava em toda parte, parecia, como um cachorro vadio, estar ansiosamente procurando companhia. No entanto, o Sapo estava procurando por algo que pudesse falar, e lhe dizer claramente para onde deveria ir. Tudo seria muito bem, se você tivesse o coração leve, uma consciência limpa, dinheiro no bolso e ninguém vasculhando o campo para arrastá-lo de volta à prisão, para seguir onde a estrada parecia chamar e apontar, sem se importar para onde. O prático Sapo, no entanto, se importava muito com isso, e ele teria chutado a estrada por seu silêncio impotente, quando a cada minuto algo era de suma importância para ele.
A estrada rústica e reservada foi logo acompanhada por um irmãozinho tímido na forma de um canal, que pegou em sua mão e seguiu ao lado em perfeita confiança, mas com a mesma atitude calada e pouco comunicativa em relação a estranhos. “Raios!” disse o Sapo para si mesmo. “Mas, de qualquer forma, uma coisa é clara. Eles devem estar vindo de algum lugar e indo para algum lugar. Não dá pra fugir disso. Sapo, meu garoto!” Assim, ele marchou pacientemente à beira da água.
Ao virar uma curva no canal, veio andando pesadamente um cavalo solitário, curvado para frente como se perdido em pensamentos ansiosos. Do arreio preso ao seu pescoço, estendia-se uma longa corda, esticada, mas inclinando-se com seu passo, com a ponta mais distante pingando gotas de pérolas. O Sapo deixou o cavalo passar e parou, esperando o que o destino lhe enviava.
Com um giro suave da água calma em sua proa arredondada, a barcaça deslizou ao lado dele, sua borda alegremente pintada no nível do caminho de reboque. Sua única ocupante era uma grande mulher corpulenta usando um chapéu de linho para o sol, com um dos braços musculosos apoiado no leme.
“Bom dia, senhora!” ela comentou para o Sapo, enquanto emparelhava com ele.
“Eu diria que é, senhora!” respondeu o Sapo educadamente, enquanto andava ao longo do caminho de reboque ao lado dela. “Diria que é uma bela manhã para aqueles que não estão em grandes apuros, como eu estou. Veja, minha filha casada, ela me envia uma mensagem urgente para que eu vá até ela imediatamente; então aqui estou eu, sem saber o que pode estar acontecendo ou vai acontecer, mas temendo o pior, como você pode entender, senhora, se você também é mãe. E deixei meu negócio se cuidar sozinho — eu estou no ramo de lavar e passar roupa, você deve saber, senhora — e deixei meus filhos pequenos cuidarem de si mesmos, e um grupo mais travesso e problemático de diabinhos não existe, senhora; e perdi todo o meu dinheiro, e perdi o caminho, e quanto ao que pode estar acontecendo com minha filha casada, bem, eu nem gosto de pensar nisso, senhora!”
“Onde mora sua filha casada, senhora?” perguntou a mulher da barcaça.
“Ela mora perto do rio, senhora,” respondeu o Sapo. “Perto de uma bela casa chamada Vila do Sapo, que fica por aqui nas redondezas. Talvez você tenha ouvido falar.”
“Vila do Sapo? Ora, estou indo para lá também,” respondeu a mulher da barcaça. “Este canal se junta ao rio alguns quilômetros adiante, um pouco acima de Vila do Sapo; e depois é uma caminhada fácil. Venha comigo na barcaça, e eu lhe dou uma carona.”
Ela manobrou a barcaça para mais perto da margem, e o Sapo, com muitos agradecimentos humildes e gratos, subiu a bordo levemente e sentou-se com grande satisfação. “Mais uma vez, a sorte do Sapo!” pensou ele. “Eu sempre acabo por cima!”
“Então, você está no ramo de lavar roupa, senhora?” disse a mulher da barcaça educadamente, enquanto deslizavam. “Aposto que é um ótimo negócio que você tem, se me permite dizer.”
“O melhor negócio do país,” disse o Sapo com despreocupação. “Toda a nobreza vem até mim—não iriam a outro, mesmo que fossem pagos, pois me conhecem tão bem. Veja, eu entendo completamente meu trabalho, e cuido de tudo pessoalmente. Lavagem, passar roupa, engomar fino, fazer camisas elegantes para os cavalheiros usarem à noite — tudo é feito sob meus próprios olhos!”
“Mas com certeza você não faz todo esse trabalho sozinha, senhora?” perguntou respeitosamente a mulher da barcaça.
“Oh, tenho garotas,” disse o Sapo despreocupadamente: “cerca de vinte garotas, sempre trabalhando. Mas você sabe como são as garotas, senhora! Pequenas atrevidas, é como eu as chamo!”
“Eu também, sem dúvida,” disse a mulher da barcaça com grande entusiasmo. “Mas eu imagino que você mantém as suas sob controle, as preguiçosas rebeldes! E você gosta muito de lavar roupa?”
“Adoro,” disse o Sapo. “Eu simplesmente venero isso. Nunca sou tão feliz quanto quando estou com ambos os braços na tina de lavar. Mas, então, é tão fácil para mim! Nenhuma dificuldade! Um verdadeiro prazer, garanto a você, senhora!”
“Que sorte a minha ter te encontrado!” observou a mulher da barcaça, pensativa. “Uma verdadeira peça de boa sorte para ambos!”
“Por que, o que você quer dizer?” perguntou o Sapo, nervosamente.
“Bem, olhe para mim agora,” respondeu a mulher da barcaça. “Eu gosto de lavar roupa, assim como você; e, para ser honesta, gostando ou não, tenho que fazer toda a minha própria, naturalmente, estando em movimento como estou. Agora, meu marido, ele é um sujeito que adora fugir do trabalho e deixar a barcaça para mim, que nunca tenho um momento para cuidar dos meus próprios assuntos. Por direito, ele deveria estar aqui agora, ou pilotando ou cuidando do cavalo, embora felizmente o cavalo tenha bom senso o suficiente para cuidar de si mesmo. Em vez disso, ele saiu com o cachorro, para ver se conseguem pegar um coelho para o jantar em algum lugar. Disse que me encontraria na próxima eclusa. Bem, pode ser que sim — eu não confio nele, uma vez que ele sai com aquele cachorro, que é pior que ele. Mas, enquanto isso, como vou continuar com minha lavagem?”
“Ah, não se preocupe com a lavagem,” disse o Sapo, não gostando do assunto. “Tente concentrar-se nesse coelho. Um belo coelho gordo e jovem, aposto. Você tem cebolas?”
“Não consigo me concentrar em nada além da minha lavagem,” disse a mulher da barcaça, “e me surpreende que você possa falar sobre coelhos, com uma perspectiva tão alegre à sua frente. Há um monte de coisas minhas que você vai encontrar em um canto da cabine. Se você pegar uma ou duas das mais necessárias — não me atrevo a descrevê-las para uma dama como você, mas você as reconhecerá de imediato — e colocá-las na tina de lavar enquanto seguimos nosso caminho, será um prazer para você, como disse corretamente, e uma verdadeira ajuda para mim. Você encontrará uma tina à mão, e sabão, e um bule no fogão, e um balde para puxar água do canal. Assim, saberei que você está se divertindo, em vez de ficar aqui ociosa, olhando a paisagem e bocejando.”
“Aqui, me deixe pilotar!” disse o Sapo, agora completamente assustado, “e então você pode continuar sua lavagem do seu jeito. Eu posso estragar suas coisas ou não fazer como você gosta. Estou mais acostumado às coisas dos cavalheiros. Essa é a minha especialidade.”
“Deixar você pilotar?” respondeu a mulher da barcaça, rindo. “Leva um pouco de prática para pilotar uma barcaça corretamente. Além disso, é um trabalho monótono, e eu quero que você seja feliz. Não, você fará a lavagem que tanto gosta, e eu me aterei à pilotagem que entendo. Não tente me privar do prazer de lhe dar esse agrado!”
O Sapo estava encurralado. Ele procurou por uma fuga de várias maneiras, viu que estava longe demais da margem para um salto em movimento, e resignou-se sombrio ao seu destino. “Se chegar a esse ponto,” ele pensou, em desespero, “acho que qualquer idiota pode lavar roupa!”
Ele foi buscar a tina, o sabão e outros utensílios necessários na cabine, selecionou algumas peças de roupas aleatoriamente, tentou se lembrar do que tinha visto em olhares passageiros pelas janelas de lavanderia e começou a trabalhar.
Meia hora longa se passou, e em cada minuto dela o Sapo ficava cada vez mais irritado. Nada do que ele conseguia fazer parecia agradar as roupas ou fazer bem a elas. Ele tentou acariciar, tentou bater, tentou socar; elas sorriam de volta para ele da tina, não convertidas, felizes em seu pecado original. Uma ou duas vezes ele olhou nervosamente para trás para a mulher da barcaça, mas ela parecia estar olhando para frente, absorvida em sua pilotagem. Suas costas doíam muito, e ele notou, com consternação, que suas patas estavam começando a ficar todas enrugadas. Agora, o Sapo tinha muito orgulho de suas patas. Ele murmurou entre os dentes palavras que não deveriam jamais passar pelos lábios de lavadeiras ou de sapos; e perdeu o sabão pela quinquagésima vez.
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Uma explosão de risos fez ele se endireitar e olhar ao redor. A mulher da barcaça estava recostada, rindo sem parar, até que lágrimas correram por suas bochechas.
“Eu estive te observando o tempo todo,” ela disse, ofegante. “Pensei que você devia ser um impostor desde o início, pelo jeito convencido com que falou. Que bela lavadeira você é! Nunca lavou nem um pano de prato na vida, aposto!”
O temperamento do Sapo, que vinha fervendo furiosamente por algum tempo, agora transbordou de verdade, e ele perdeu completamente o controle de si mesmo.
“Você, mulher comum, baixa, gorda, barqueira!” ele gritou; “não se atreva a falar assim com seus superiores! Lavadeira, hein! Quero que você saiba que eu sou um Sapo, um sapo muito conhecido, respeitável, distinto! Eu posso estar passando por um mau momento agora, mas não serei ridicularizado por uma barqueira!”
A mulher chegou mais perto e espiou debaixo de seu chapéu atentamente. “Ora, então você é mesmo!” ela gritou. “Bem, nunca vi! Um sapo horrível, nojento, rastejante! E na minha barcaça tão limpa, também! Agora, isto é algo que eu não vou tolerar.”
Ela largou o leme por um momento. Um braço grande e manchado lançou-se para frente e agarrou o Sapo por uma pata dianteira, enquanto o outro o segurava firmemente por uma pata traseira. Então, o mundo virou de cabeça para baixo de repente, a barcaça parecia ter voado pelo céu, o vento assobiou em seus ouvidos, e o Sapo se viu voando pelo ar, girando rapidamente.
A água, quando finalmente o alcançou com um barulho de espirro, estava bastante fria para seu gosto, embora seu frio não fosse suficiente para apagar seu orgulho fervente, nem apagar o calor de sua fúria. Ele emergiu à superfície, cuspindo, e quando limpou as algas de seus olhos, a primeira coisa que viu foi a mulher gorda olhando para ele sobre a popa da barcaça em retirada e rindo; e ele jurou, enquanto tossia e engasgava, vingar-se dela.
Ele nadou em direção à margem, mas o vestido de algodão atrapalhava muito seus esforços, e quando finalmente conseguiu tocar terra ele teve dificuldade em subir a íngreme margem sem ajuda. Ele teve que descansar um ou dois minutos para recuperar o fôlego; então, reunindo suas saias molhadas bem altos nos braços, começou a correr atrás da barcaça o mais rápido que suas pernas o podiam carregar, tomado de indignação, sedento por vingança.
A mulher barqueira ainda estava rindo quando ele a alcançou. “Passe-se pela sua mangueira, lavadeira,” ela gritou, “e passe a ferro no seu rosto e frise-o, assim você poderá ser um Sapo de aparência decente!”
O Sapo nem parou para responder. O que ele queria era vingança sólida, não triunfos verbais baratos, efêmeros, embora tivesse uma ou duas coisas na cabeça que com certeza ele gostaria de ter dito. Ele viu o que queria adiante. Correndo rapidamente, ele desatrelou o cavalo, soltou a corda de reboque, pulou levemente nas costas do cavalo e o incitou a galopar dando-lhe vigorosos chutes nos flancos. Ele guiou o cavalo para o campo aberto, abandonando o caminho da margem e descendo por uma estrada de terra cheia de buracos. Uma vez ele olhou para trás e viu que a barcaça havia encalhado na outra margem do canal, e a mulher barqueira estava gesticulando loucamente e gritando “Pare! Pare! Pare!” “Já ouvi essa música antes,” disse o Sapo, rindo, enquanto continuava a esporear seu cavalo em sua selvagem carreira.
O cavalo da barcaça não era capaz de sustentar qualquer esforço por muito tempo, e seu galope logo se transformou em um trote, e o trote em um passo fácil; mas o Sapo estava bastante satisfeito com isso, sabendo que ele, pelo menos, estava em movimento e que a barcaça não estava. Ele havia recuperado completamente o seu mau humor, agora que tinha feito algo que realmente considerava esperto; e ele ficou contente em apenas trotar tranquilamente ao sol, guiando seu cavalo por caminhos secundários e trilhas, tentando esquecer há quanto tempo ele não tinha uma refeição decente, até o canal ter ficado muito para trás.
Ele tinha viajado alguns quilômetros, seu cavalo e ele, e estava sentindo-se sonolento no sol quente, quando o cavalo parou, abaixou a cabeça e começou a beliscar a grama; e o Sapo, despertando, se salvou de cair por um triz. Ele olhou ao seu redor e descobriu que estava em um vasto campo comum, pontilhado de touceiras de tojo e silvas, tanto quanto ele podia ver. Perto de onde estava, havia um trailer cigano velho e sujo, e ao lado dele um homem estava sentado em um balde virado de cabeça para baixo, muito ocupado fumando e olhando para o amplo e aberto mundo. Um fogo de gravetos queimava próximo, e sobre o fogo pendia uma panela de ferro, da qual emanavam borbulhas e chiados, e uma sugestiva leve neblina de vapor. Também havia cheiros—quentes, ricos e variados—que se torciam e se entrelaçavam e, por fim, formavam um cheiro completo, voluptuoso, perfeito, que parecia a própria alma da Natureza ganhando forma e aparecendo para seus filhos, uma verdadeira Deusa, uma mãe de consolo e conforto. O Sapo agora sabia que ele não tinha estado realmente com fome antes. O que ele havia sentido mais cedo era apenas um leve mal-estar. Agora, era a coisa real, e não havia dúvida; e teria de ser resolvido logo também, ou haveria problemas para alguém. Ele olhou o cigano atentamente, perguntando-se vagamente se seria mais fácil lutar com ele ou encantá-lo. Então ali ele ficou, a cheirar e cheirar, olhando para o cigano; e o cigano, por sua vez, fumava e olhava para ele.
Depois de algum tempo, o cigano tirou o cachimbo da boca e comentou displicentemente: “Vai querer vender esse cavalo aí seu?”
O Sapo foi completamente pego de surpresa. Ele não sabia que os ciganos eram apaixonados por negócios com cavalos, e nunca perdiam uma oportunidade, e não havia pensado que trailers estavam sempre em movimento e requeriam muito esforço para serem puxados. Não ocorrerá a ele transformar o cavalo em dinheiro, mas a sugestão do cigano parecia abrir o caminho para as duas coisas que ele queria desesperadamente—dinheiro na mão e um café da manhã robusto.
“O quê?” disse ele, “eu vender esse meu lindo cavalo jovem? Ah, não; isso está fora de questão. Quem vai levar as roupas lavadas para meus clientes todas as semanas? Além disso, sou muito apegado a ele, e ele simplesmente adora a minha companhia.”
“Tente amar um burro,” sugeriu o cigano. “Algumas pessoas amam.”
“Você parece não entender,” continuou o Sapo, “que este meu belo cavalo está muito acima de você. Ele é um cavalo de raça, ele é, em parte; não a parte que você vê, claro—outra parte. E ele já foi um Hackney premiado também, em seu tempo—um tempo antes de você o conhecer, mas você ainda pode ver isso nele à primeira vista, se entender algo sobre cavalos. Não, não dá nem para pensar por um momento. Mesmo assim, quão disposto você estaria em me oferecer por este belo cavalo?”
O cigano olhou o cavalo, e então ele olhou para o Sapo com o mesmo cuidado, e voltou a olhar para o cavalo. “Um xelim por pata,” ele disse brevemente, e virou-se, continuando a fumar e olhar o vasto mundo como se quisesse desafiá-lo.
“Um xelim por pata?” gritou o Sapo. “Com licença, preciso de um tempinho para calcular isso e ver quanto dá.”
Ele desceu do cavalo, e o deixou pastando, sentou-se ao lado do cigano e fez contas com os dedos, para finalmente dizer: “Um xelim por pata? Ora, isso dá exatamente quatro xelins e nada mais. Ah, não; eu não aceitaria quatro xelins por este meu belo cavalo jovem.”
“Bem,” disse o cigano, “eu te digo o que vou fazer. Vou fazer cinco xelins, e isso é três xelins e seis pence a mais do que o animal vale. E esta é a minha última palavra.”
Então, Sapo sentou-se e pensou longamente e profundamente. Pois ele estava com fome e completamente sem dinheiro, ainda a um bom caminho — ele não sabia exatamente quanto — de casa, e poderia haver inimigos ainda procurando por ele. Para alguém nessa situação, cinco xelins podem muito bem parecer uma grande soma de dinheiro. Por outro lado, não parecia ser muito em troca de um cavalo. Mas, novamente, o cavalo não lhe custou nada; então o que ele ganhasse seria puro lucro. Por fim, ele disse firmemente: “Escute aqui, cigano! Vamos fazer assim; e esta é minha última palavra. Você me entrega seis xelins e seis pence, em dinheiro; e além disso, me dá tanto café da manhã quanto eu puder comer, de uma vez só, dessa sua panela de ferro que continua emanando cheiros tão deliciosos e excitantes. Em troca, eu entrego a você meu vibrante cavalo jovem, com todas as peias e arreios bonitos que ele tem, tudo incluído de graça. Se isso não for suficiente para você, diga, e eu vou embora. Eu conheço um homem aqui perto que anda querendo este cavalo meu há anos.”
O cigano resmungou terrivelmente e declarou que, se fizesse mais alguns negócios desse tipo, iria à falência. Mas no final, ele puxou uma sacola de lona suja do fundo da sua calça e contou seis xelins e seis pence na mão do sapo. Depois, desapareceu no trailer por um instante e voltou com um grande prato de ferro e uma faca, garfo e colher. Ele inclinou a panela, e uma gloriosa torrente de ensopado abundante e quente preencheu o prato. Na verdade, era o mais belo ensopado do mundo, feito de perdizes, faisões, galinhas, lebres, coelhos, galinhas-d’angola, e mais uma ou outra coisa. O Sapo pegou o prato no colo, quase chorando, e comeu, comeu, comeu e continuou pedindo mais, e o cigano não ficou incomodado. Ele achou que nunca tinha comido um café da manhã tão bom em toda a sua vida.
Quando o Sapo já tinha comido tanto ensopado quanto pensava que poderia aguentar, ele se levantou e disse adeus ao cigano, e se despediu carinhosamente do cavalo; e o cigano, que conhecia bem a margem do rio, deu-lhe indicações de qual caminho seguir. E assim ele partiu em suas aventuras novamente, no melhor dos espíritos possíveis. Ele era, de fato, um Sapo muito diferente daquele animal de uma hora atrás. O sol brilhava intensamente, suas roupas molhadas já estavam bem secas novamente, ele tinha dinheiro no bolso mais uma vez, estava se aproximando de casa, de amigos e da segurança, e, acima de tudo, ele havia feito uma refeição substancial, quente, nutritiva, e se sentia grande, forte, despreocupado e autoconfiante.
Enquanto ele trilhava alegremente o caminho, pensava em suas aventuras e fugas, e como, quando as coisas pareciam estar no pior, ele sempre conseguia encontrar um jeito de sair; e seu orgulho e vaidade começaram a inflar dentro dele. “Ho, ho!” ele murmurou para si mesmo, marchando com o queixo erguido, “como eu sou esperto! Certamente não há um animal igual a mim em inteligência no mundo inteiro! Meus inimigos me trancaram na prisão, cercado por guardas, vigiado dia e noite pelos carcereiros; eu caminho por todos eles, apenas por pura habilidade, aliada ao meu destemor. Eles me perseguiram com motores, policiais, pistolas; eu estalo os dedos para eles e desapareço, rindo, no nada. Sou, infelizmente, jogado em um canal por uma mulher gorda e de espírito maligno. E daí? Nado de volta à margem, tomo seu cavalo, cavalguei em triunfo, e vendo o cavalo por um bolso cheio de dinheiro e um excelente café da manhã! Ho, ho! Eu sou O Sapo, o bonito, o popular, o bem-sucedido Sapo!” Ele ficou tão cheio de vaidade que compôs uma canção enquanto caminhava, em louvor a si mesmo, e a cantou em voz alta, embora não houvesse ninguém para ouvi-la, exceto ele mesmo. Talvez tenha sido a música mais convencida que qualquer animal já tenha composto.
“O mundo teve grandes heróis,
Como os livros de história têm mostrado;
Mas nunca um nome para descer à fama
Comparável ao do Sapo!
“Os homens inteligentes de Oxford
Sabem tudo o que há para saber.
Mas nenhum deles sabe metade do que sabe
O inteligente Sr. Sapo!
“Os animais choraram na Arca,
Suas lágrimas caíram em torrentes.
Quem foi que disse, ‘Há terra à frente?’
O encorajador Sr. Sapo!
“O exército todo saudou
Enquanto marchavam pela estrada.
Foi o Rei? Ou Kitchener?
Não. Foi o Sr. Sapo.
“A Rainha e suas Damas de Companhia
Sentaram-se à janela e costuraram.
Ela gritou, ‘Olhem! Quem é aquele homem bonito?’
Elas responderam, ‘Sr. Sapo.’”
Havia muito mais do mesmo tipo, mas coleguismo excessivo demais para ser colocado no papel. Esses são alguns dos versos mais leves.
Ele cantou enquanto caminhava, e caminhou enquanto cantava, ficando mais e mais inflado a cada minuto. Mas seu orgulho estava prestes a sofrer uma queda severa.
Depois de alguns quilômetros de estradas rurais, ele chegou à estrada principal, e quando virou nela e olhou ao longo de sua extensão, viu que se aproximava um ponto que virou uma mancha e depois uma mancha maior, e então em algo muito familiar; e um som duplo de aviso, que ele conhecia muito bem, chegou aos seus ouvidos com alegria.
“Isso é algo real!” disse o empolgado Sapo. “Isto é a verdadeira vida novamente, este é mais uma vez o grande mundo do qual eu estive ausente por tanto tempo! Vou saudá-los, meus irmãos da roda, e lhes contar uma história, do tipo que foi tão bem-sucedida até agora; e eles certamente me darão uma carona, claro, e depois eu poderei falar mais para eles; e, quem sabe com sorte, pode até acabar com eu dirigindo até o Vila do Sapo em um carro motorizado! Isso será uma bofetada na cara do Texugo!”
Ele pisou confiantemente na estrada para saudar o carro que se aproximava, que vinha em um ritmo suave, desacelerando à medida que chegava perto da estrada; quando, de repente, ele ficou muito pálido, seu coração virou água, seus joelhos tremeram e cederam sob ele, e ele se dobrou e caiu com uma dor terrível no estômago. E bem podería, o infeliz animal; pois o carro que se aproximava era exatamente o que ele havia roubado do pátio do Red Lion Hotel naquele fatídico dia em que todos os seus problemas começaram! E as pessoas nele eram exatamente as mesmas que ele tinha visto almoçando na sala de café!
Ele afundou em um montinho lamentável e miserável na estrada, murmurando para si mesmo em desespero, “Acabou! Tudo acabou agora! Correntes e policiais de novo! Prisão de novo! Pão seco e água de novo! Oh, que tolo eu fui! O que eu queria andando pelo campo, cantando músicas convencidas e saudando pessoas em plena luz do dia na estrada principal, em vez de me esconder até anoitecer e voltar para casa discretamente por caminhos secundários! Oh, infeliz Sapo! Oh, animal azarado!”
O terrível carro motorizado aproximava-se lenta, mas certamente, até que ele ouviu o som parando pouco antes de alcançá-lo. Dois cavalheiros desceram e circularam ao redor do monte trêmulo de miséria enrolada na estrada, e um deles comentou, “Oh, meu Deus! Isso é muito triste! Aqui está uma pobre criatura velha—uma lavadeira, ao que parece—que desmaiou na estrada! Talvez tenha sido vencida pelo calor, pobre criatura; ou, possivelmente, ela não comeu nada hoje. Vamos levantá-la e levá-la ao vilarejo mais próximo, onde sem dúvida ela tem amigos.”
Eles gentilmente levantaram o Sapo e o colocaram no carro, apoiando-o com almofadas macias, e prosseguiram em sua jornada.
Quando o Sapo ouviu-os falar de uma maneira tão gentil e simpática, e percebeu que ele não foi reconhecido, sua coragem começou a se recuperar, e ele cautelosamente abriu primeiro um olho e depois o outro.
“Olhem!” disse um dos cavalheiros, “ela já está melhor. O ar fresco está fazendo-lhe bem. Como você se sente agora, senhora?”
“Muito obrigada, senhor,” disse o Sapo com uma voz fraca, “Estou me sentindo muito melhor!”
“Isso mesmo,” disse o gentleman. “Agora fique bem quieta, e, acima de tudo, não tente falar.”
“Não vou,” disse o Sapo. “Eu estava apenas pensando, se eu pudesse me sentar ali na frente, ao lado do motorista, onde eu poderia sentir o ar fresco batendo no meu rosto, logo estaria completamente bem de novo.”
“Que mulher sensata!” disse o cavalheiro. “Claro que você pode.” Então, eles cuidadosamente ajudaram o Sapo a se acomodar na frente, ao lado do motorista, e seguiram em frente novamente.
O Sapo já estava quase ele mesmo agora. Ele se sentou, olhou ao seu redor, e tentou suprimir os tremores, os anseios, os antigos desejos que brotavam e o assediavam, tomando totalmente conta dele.
“É destino!” ele disse para si mesmo. “Por que lutar? Por que resistir?” E ele se virou para o motorista ao seu lado.
“Por favor, senhor,” ele disse, “Gostaria muito que me deixasse tentar dirigir o carro um pouco. Eu observei cuidadosamente o que você fez e parece tão fácil e interessante, e eu gostaria de poder contar aos meus amigos que dirigi um carro motorizado uma vez!”
O motorista riu da proposta com tanta força que o cavalheiro perguntou o que havia de engraçado. Quando ouviu, disse, para deleite do Sapo, “Bravo, senhora! Gosto do seu espírito. Deixe ela tentar, e cuide dela bem. Ela não causará nenhum mal.”
Sapo rapidamente subiu no assento deixado pelo motorista, segurou o volante nas mãos, ouviu com humildade afetada as instruções passadas para ele, e colocou o carro em movimento, primeiro muito devagar e com cuidado, pois ele estava determinado a ser prudente.
Os cavalheiros aplaudiam atrás, batendo palmas, e o Sapo os ouviu dizer: “Como ela está indo bem! Imagine uma lavadeira dirigindo um carro tão bem, logo na primeira vez!”
O Sapo foi acelerando um pouco mais; depois mais rápido, e ainda mais rápido.
Ele ouviu os cavalheiros gritarem, alertando: “Cuidado, lavadeira!” Isso o irritou, e ele começou a perder a cabeça.
O motorista tentou interferir, mas ele o imobilizou no assento com um cotovelo, e acelerou a toda velocidade. O vento batendo em seu rosto, o barulho dos motores e os saltos leves do carro sob ele intoxicavam seu frágil cérebro. “Lavadeira, hein!” ele gritou imprudentemente. “Ho! ho! Eu sou o Sapo, o ladrão de carros motorizados, o fugitivo de prisões, o Sapo que sempre escapa! Sentem-se, e vocês verão o que realmente é dirigir, pois vocês estão nas mãos do famoso, habilidoso, totalmente destemido Sapo!”
Com um grito de horror, todo o grupo se levantou e se lançou sobre ele. “Agarrá-lo!” eles gritaram, “segurem o Sapo, o animal malvado que roubou nosso carro motorizado! Amarre-o, acorrente-o, arrastem-no até a delegacia de polícia mais próxima! Abaixo o Sapo perigoso e desesperado!”
Ai! Eles deveriam ter pensado nisso antes, deveriam ter sido mais prudentes, deveriam ter lembrado de parar o carro motorizado de alguma forma antes de começar a pregar peças. Com uma meia-volta do volante, o Sapo lançou o carro em alta velocidade através da cerca baixa que margeava a estrada. Um salto poderoso, um choque violento, e as rodas do carro estavam chafurdando no fundo lamacento de um lago de cavalos.
O Sapo se viu voando pelo ar com a força ascendente e o giro delicado de uma andorinha. Ele gostou do movimento, e estava começando a se perguntar se continuaria até desenvolver asas e se transformar em um Sapo-pássaro, quando aterrissou de costas em um campo de grama macia. Sentando-se, ele conseguiu ver o carro motorizado no lago, quase submerso; os cavalheiros e o motorista, atrapalhados por seus longos casacos, estavam se debatendo desajeitadamente na água.
Ele se levantou rapidamente e começou a correr através dos campos o mais rápido que podia, escalando cercas vivas, saltando sobre valas, passando pelos campos a galope, até ficar sem fôlego e exausto, e teve que se contentar com uma caminhada leve. Quando recuperou o fôlego um pouco, e foi capaz de pensar com clareza, ele começou a rir baixinho, e de rir baixinho ele passou a gargalhar, e riu tanto que teve que se sentar embaixo de uma cerca viva. “Ho, ho!” ele chorou, em êxtase de autoestima, “De novo, o Sapo! O Sapo, como sempre, sai por cima! Quem foi que conseguiu que eles lhe dessem uma carona? Quem conseguiu um lugar na frente pelo ar fresco? Quem os convenceu a deixar ele tentar dirigir? Quem afundou o carro em um lago de cavalos? Quem escapou, voando alegremente e intacto pelo ar, deixando os excursionistas cautelosos e mesquinhos atolados na lama, exatamente onde deveriam estar? Ora, o Sapo, claro; o esperto Sapo, o grande Sapo, o bom Sapo!”
Então ele começou a cantar novamente e gritou com voz exaltada—
“O carro motorizado fez Poop-poop-poop,
Enquanto corria pela estrada.
Quem foi que o pilotou até o lago?
O engenhoso Sr. Sapo!
O quão esperto eu sou! Quão esperto, quão esperto, como muito inte—”
Um barulho leve, ao longe atrás dele, o fez virar a cabeça e olhar. Oh horror! Oh miséria! Oh desespero!
A cerca de dois campos de distância, um motorista com suas polainas de couro e dois grandes policiais rurais eram visíveis, correndo em sua direção a todo vapor!
Pobre Sapo! Ele saltou de pé e fugiu novamente, com o coração na boca. “Oh, meu Deus!” ele ofegou, enquanto corria, “que asno eu sou! Que asno convencido e imprudente! Me gabando de novo! Gritando e cantando músicas de novo! Sentado aqui, conversando de novo! Oh meu Deus! Oh meu Deus! Oh meu Deus!”
Ele olhou para trás, e viu, para seu desespero, que eles estavam se aproximando rapidamente. Ele correu o mais rápido que pôde, mas continuou olhando para trás, e viu que ainda estavam ganhando terreno lentamente. Ele fez o melhor que pôde, mas ele era um animal gordo, e suas pernas eram curtas, e mesmo assim eles continuavam se aproximando. Ele já podia ouvi-los bem próximos. Sem prestar mais atenção para onde estava indo, ele correu às cegas e com desespero, olhando para trás, sobre seu ombro, para os agora vitoriosos inimigos, quando, de repente, o chão falhou sob seus pés, ele agarrou o ar e, splash! ele se viu mergulhando de cabeça em água profunda, rápida, água que o arrastava com uma força que ele não conseguia enfrentar; e ele soube que, em seu pânico cego, ele tinha corrido direto para o rio!
Ele subiu à superfície e tentou agarrar os juncos e prímulas que cresciam ao longo da beira do rio, bem debaixo da margem, mas a corrente estava tão forte que os arrancava de suas mãos. “Oh meu Deus!” ofegou o pobre Sapo, “se eu alguma vez roubar outro carro… se eu cantar outra música vaidosa de novo…” Então ele afundou de novo, e voltou à superfície sem fôlego, arrotando e tossindo. Pouco depois, ele viu que estava se aproximando de um grande buraco escuro na margem, logo acima de sua cabeça, e enquanto o rio o arrastava para frente, ele estendeu uma pata e agarrou-se na borda e segurou-se. Então, lentamente e com dificuldade, ele se levantou, até finalmente conseguir apoiar os cotovelos na borda do buraco. Lá ele ficou por alguns minutos, ofegante, pois estava completamente exausto.
Enquanto suspirava e bufava e olhava para dentro do buraco escuro, algo brilhante pequeno brilhava e cintilava em suas profundezas, movendo-se em sua direção. À medida que se aproximava, um rosto foi surgindo gradualmente ao redor dele, e era um rosto familiar!
Marrom e pequeno, com bigodes.
Sério e redondo, com orelhas limpas e pelos sedosos.
Era o Rato do Rio!
Capítulo 11: Como as Tempestades de Verão Vieram suas Lágrimas
O Rato estendeu uma pequena pata marrom bem arrumada, segurou o Sapo firmemente pela nuca e deu um grande puxão; e o encharcado Sapo subiu devagar, mas seguramente, sobre a borda do buraco, até que, finalmente, ele estava são e salvo no salão, coberto de lama e erva daninha, e com a água escorrendo dele, mas feliz e animado como sempre, agora que se via novamente na casa de um amigo, sem mais fugas ou disfarces, podendo deixar de lado um disfarce que não condizia com sua posição e exigia tanto esforço para manter.
“Ah, Ratinho!” exclamou ele. “Eu passei por coisas tão terríveis desde a última vez que te vi, você nem imagina! Tantas provações, tanto sofrimento, e eu suportei tudo de maneira tão nobre! E depois, fugas incríveis, disfarces engenhosos, truques e artimanhas, todos tão bem planejados e executados! Estive na prisão—e, claro, escapei! Fui jogado em um canal—nadei até a margem! Roubei um cavalo—vendi-o por uma boa quantia! Enganei todo mundo—fiz com que todos fizessem exatamente o que eu queria! Oh, sou um sapo esperto, sem dúvida! Quer saber qual foi minha última façanha? Espere até eu te contar——”
“Sapo,” disse o Rato do Rio, gravemente e com firmeza, “você sobe agora mesmo e tira esse trapo de algodão velho que parece ter pertencido a uma lavadeira qualquer, se limpa direito, veste algumas das minhas roupas e tenta descer parecendo um cavalheiro, se puder; porque um objeto mais maltrapilho, sujo e desonroso do que você, eu nunca vi na minha vida! Agora, pare com a fanfarronice e vá logo! Depois, terei algo a dizer a você!”
No começo, o Sapo quis rebater as palavras do amigo. Ele já tinha tido o bastante de ser mandado quando estava na prisão e parecia que tudo iria começar de novo; e por um rato, ainda por cima! No entanto, ele se olhou no espelho sobre o porta-chapéus, com um chapéu preto enferrujado inclinado sobre um olho, e mudou de ideia, subindo rapidamente as escadas, humildemente, para o camarim do Rato. Lá, ele tomou um bom banho, trocou de roupa e ficou por muito tempo diante do espelho, contemplando-se com orgulho e prazer, pensando em como era possível as pessoas terem acreditado que ele fosse uma lavadeira, mesmo que por um momento.
Quando desceu novamente, o almoço já estava na mesa e o Sapo ficou bastante contente em vê-lo, pois havia passado por algumas experiências árduas e feito muito exercício desde o excelente café da manhã que lhe fora preparado pelos ciganos. Enquanto comiam, o Sapo contou ao Rato todas as suas aventuras, destacando principalmente sua própria esperteza, presença de espírito em situações de emergência e sagacidade em momentos difíceis, transmitindo a ideia de que havia se divertido muito. Mas quanto mais ele falava e se gabava, mais o Rato se tornava sério e silencioso.
Quando o Sapo finalmente parou de falar, houve um silêncio por um momento; e então o Rato disse: “Agora, Sapo, não quero causar-lhe mais sofrimento, depois de tudo pelo que você já passou; mas, falando sério, você não percebe que fez papel de tolo? Você mesmo admitiu que esteve algemado, preso, faminto, perseguido, aterrorizado, insultado, zombado e jogado vergonhosamente na água—e por uma mulher, ainda! Onde está a diversão nisso? E tudo isso porque você tinha que roubar um carro! Você sabe que nunca teve nada além de problemas com carros desde o momento em que pôs os olhos num. Mas se você insiste em se envolver com eles—como geralmente faz cinco minutos depois de começar—por que roubar? Seja um inválido, se acha isso emocionante; seja falido, para variar, se quer isso; mas por que escolher ser um condenado? Quando vai ser sensato, pensar nos seus amigos, e tentar ser um crédito para eles? Você acha que me dá algum prazer ouvir os animais dizerem por aí que sou o sujeito que anda com bandidos de prisão?”
Agora, um ponto positivo no caráter do Sapo é que ele era um animal de bom coração e nunca se importava de ser advertido por seus verdadeiros amigos. Mesmo quando estava determinado a fazer algo, ele sempre conseguia ver o outro lado da questão. Então, embora, enquanto o Rato falava seriamente, ele continuasse dizendo para si mesmo, de forma mutinosa, “Mas foi divertido! Muito divertido!” e fazendo sons estranhos e reprimidos, ainda assim, quando o Rato terminou de falar, ele suspirou profundamente e disse, muito educadamente e humildemente: “Muito certo, Ratinho! Como você sempre tem razão! Sim, eu fui um tolo vaidoso, posso ver isso claramente; mas agora vou ser um bom Sapo e não farei isso de novo. Quanto aos carros, não estou mais tão entusiasmado desde minha última queda no rio. O fato é, enquanto eu estava me recuperando à beira do seu buraco, tive uma ideia repentina—realmente brilhante—relacionada a barcos a motor—! Mas espere, calma, não se preocupe, foi só uma ideia, e não vamos falar mais sobre isso agora. Vamos tomar nosso café, fumar um charuto e bater um papo tranquilo, e então vou caminhar calmamente até a Vila do Sapo, vestir minhas próprias roupas e colocar as coisas de volta nos trilhos. Já tive aventuras o suficiente. Vou levar uma vida tranquila, respeitável, cuidar da minha propriedade e fazer um pouco de jardinagem paisagística de vez em quando. E sempre haverá um jantar pronto para meus amigos quando eles vierem me ver; e vou manter uma charrete para passear pelo campo, como nos bons velhos tempos, antes de eu ficar inquieto e querer fazer coisas.”
“Andar calmamente até a Vila do Sapo?” gritou o Rato, muito animado. “O que está dizendo? Quer dizer que você não ouviu nada?”
“O quê?” disse o Sapo, ficando pálido. “Vamos, rápido, Ratinho! Não me poupe! O que eu não ouvi?”
“Você está querendo me dizer”, gritou o Rato, batendo com o punho pequeno na mesa, “que você não ouviu nada sobre os Furtivos e Furões?”
“O quê, os animais da Floresta Selvagem?” gritou o Sapo, tremendo. “Não, nem uma palavra! O que eles fizeram?”
“E como eles tomaram a Vila do Sapo?” continuou o Rato.
O Sapo apoiou os cotovelos na mesa, o queixo nas mãos, e grandes lágrimas surgiram em seus olhos, transbordando e caindo na mesa, plop! plop!
“Vai em frente, Ratinho,” murmurou depois de um tempo; “me conte tudo. O pior já passou. Sou um animal novamente. Posso suportar.”
“Quando você… se meteu naquele… problema,” disse o Rato, lentamente e com ênfase; “Quero dizer, quando você… desapareceu da sociedade por um tempo, por causa daquele mal-entendido sobre uma… uma máquina, sabe…”
O Sapo apenas assentiu com a cabeça.
“Bem, naturalmente, isso foi muito discutido por aqui,” continuou o Rato, “não só ao longo da margem do rio, mas até mesmo na Floresta Selvagem. Os animais tomaram partido, como sempre acontece. Os amigos do rio ficaram do seu lado e disseram que você foi tratado de maneira infame, e que não havia mais justiça no país. Mas os animais da Floresta Selvagem disseram coisas duras, que você teve o que merecia e que já era hora de esse tipo de comportamento acabar. Então, eles ficaram muito orgulhosos e começaram a dizer por aí que você estava acabado dessa vez! Que nunca mais voltaria, nunca, nunca!”
O Sapo assentiu mais uma vez, ainda em silêncio.
“É assim que esses pequenos animais são,” o Rato prosseguiu. “Mas o Toupeira e o Texugo ficaram firmes, por bem ou por mal, insistindo que você voltaria de alguma forma. Não sabiam exatamente como, mas acreditavam que, de algum jeito, você voltaria!”
O Sapo começou a se ajeitar na cadeira e esboçou um pequeno sorriso.
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“Eles argumentaram com base na história,” continuou o Rato. “Disseram que nunca houve leis criminais que prevalecessem contra a sua cara de pau e a sua simpatia, combinadas com o poder de uma longa bolsa de dinheiro. Então, eles decidiram mudar-se para a Vila do Sapo, morar lá e mantê-la arejada, para tê-la pronta para quando você aparecesse de novo. Claro, não imaginavam o que iria acontecer, mas tinham suas suspeitas sobre os animais da Floresta Selvagem. Agora, chego à parte mais dolorosa e trágica da minha história. Uma noite escura — era uma noite muito escura, com ventania forte e chovendo como nunca — uma quadrilha de furões, armados até os dentes, rastejou silenciosamente pelo caminho da carruagem até a entrada principal. Simultaneamente, um grupo de furões desesperados, avançando pelo jardim da cozinha, tomou controle do quintal e dos anexos; enquanto uma companhia de doninhas insinuantes, que não se importavam com nada, ocuparam o conservatório e a sala de bilhar, controlando as portas que abriam para o gramado.”
“O Toupeira e o Texugo estavam sentados ao lado do fogo na sala de fumar, contando histórias e não suspeitando de nada, porque não era uma noite em que qualquer animal deveria estar fora, quando aqueles vilões sanguinários arrombaram as portas e invadiram o local de todos os lados. Eles lutaram o melhor que puderam, mas o que adiantava? Estavam desarmados, pegos de surpresa! O que dois animais poderiam fazer contra centenas? Eles os espancaram brutalmente com bastões, esses dois fiéis e pobres amigos, e os jogaram para fora, no frio e na chuva, com muitos insultos e observações desnecessárias!”
Aqui, o insensível Sapo deu uma risadinha, mas logo se recompôs e tentou parecer particularmente sério.
“E desde então, os animais da Floresta Selvagem estão morando na Vila do Sapo,” prosseguiu o Rato, “e estão se comportando de qualquer maneira! Dormindo até metade do dia, tomando café da manhã a qualquer hora, com a casa numa bagunça tão grande (segundo me contaram) que não dá nem para olhar! Comendo sua comida, bebendo suas bebidas e fazendo piadas de mau gosto sobre você; cantando músicas vulgares, sobre—bem, sobre prisões, juízes, policiais; músicas horríveis e pessoais, sem nenhuma graça. E estão dizendo para os comerciantes e para todos que vieram para ficar definitivamente.”
“Ah, é mesmo?” disse o Sapo, levantando-se e pegando um bastão. “Eu logo irei resolver isso!”
“Não adianta, Sapo!” gritou o Rato atrás dele. “Você deveria voltar e se sentar; só vai arrumar mais problemas.”
Mas o Sapo já estava fora de si, e não havia como segurá-lo. Ele marchou rapidamente pela estrada, com o bastão sobre o ombro, bufando e resmungando de raiva, até que chegou perto do portão de sua propriedade, quando, de repente, surgiu de trás das cercas um furão amarelo comprido, com uma espingarda.
“Quem vem lá?” disse o furão, com voz rígida.
“Besteira e bobagem!” disse o Sapo, irritado. “O que você quer dizer com falar assim comigo? Saia daí agora, ou eu vou——”
O furão não disse uma palavra, mas ergueu sua arma e a levou ao ombro. O Sapo sabiamente se jogou no chão da estrada, e Bang! uma bala passou assobiando por cima de sua cabeça.
O aterrorizado Sapo se pôs de pé rapidamente e correu o mais rápido que pôde; e enquanto corria, ouviu o furão rindo e outras risadas horríveis acompanhando o som.
Ele voltou, muito abatido, e contou ao Rato do Rio o que ocorrera.
“O que eu te disse?” disse o Rato. “Não adianta. Eles colocaram sentinelas armadas. Só nos resta esperar.”
O Sapo, ainda assim, não estava disposto a desistir tão fácil. Ele pegou o barco e começou a remar rio acima, até onde o jardim da Vila do Sapo descia até a beira d’água.
Chegando à vista de sua velha casa, ele descansou nos remos e observou a paisagem cautelosamente. Tudo parecia muito pacífico e calmo. Ele podia ver toda a frente da Vila do Sapo, brilhando no sol da tarde, com os pombos se aninhando, em duplas e trios, ao longo da linha reta do telhado; o jardim, uma explosão de flores; o riacho que levava ao barco, a pequena ponte de madeira que o cruzava; tudo tranquilo, aparentemente esperando por seu retorno. Ele pensou em tentar o casarão primeiro. Muito cuidadosamente, remou até a boca do riacho e estava passando sob a ponte, quando… Crash!
Uma grande pedra, lançada de cima, estourou o fundo do barco. Ele afundou e o Sapo se viu lutando em águas profundas. Quando olhou para cima, viu duas doninhas se inclinando sobre o parapeito da ponte, assistindo-o com grande alegria. “Será a sua cabeça da próxima vez, Sapo!” gritaram para ele. O Sapo indignado nadou para a margem, enquanto as doninhas riram e riram, apoiando-se mutuamente, até quase terem dois ataques — isto é, um para cada um, naturalmente.
O Sapo voltou pelo caminho, a pé, e contou mais uma vez suas decepcionantes experiências ao Rato.
“Bem, o que eu te disse?” falou o Rato, muito irritado. “E agora olhe o que você fez! Perdi o meu barco, pelo qual eu tinha tanto carinho, isso é o que você fez! E simplesmente destruiu o belo terno que emprestei a você! Realmente, Sapo, de todos os animais difíceis — me admiro que você consiga ter algum amigo!”
O Sapo percebeu imediatamente como havia agido de maneira errada e tola. Admitiu seus erros e cabeça-dura e pediu desculpas ao Rato por perder seu barco e estragar suas roupas. E ele concluiu dizendo, com uma rendição sincera que sempre desarmava a crítica de seus amigos e os trazia de volta ao seu lado: “Ratinho! Vejo que fui um sapo teimoso e voluntarioso! Daqui em diante, acredite em mim, serei humilde e submisso, e não tomarei nenhuma iniciativa sem os seus conselhos e total aprovação!”
“Se isso é realmente verdade,” disse o bondoso Rato, agora já apaziguado, “então meu conselho é, considerando o avançado da hora, que sente-se e tome seu jantar, que já será servido em um minuto, e seja muito paciente. Pois estou convencido de que não podemos fazer nada até falarmos com o Toupeira e o Texugo, ouvir as últimas notícias deles, realizar uma conferência e buscar os conselhos deles para resolver essa difícil questão.”
“Oh, sim, claro, o Toupeira e o Texugo,” respondeu o Sapo, despreocupadamente. “O que aconteceu com eles, os queridos companheiros? Eu tinha até me esquecido deles.”
“Muito conveniente da sua parte perguntar!” disse o Rato, um tanto reprovador. “Enquanto você andava pelo país em caros automóveis e galopava orgulhosamente em cavalos de raça, tomando deliciosos cafés da manhã, aqueles dois animais dedicados estavam acampando ao ar livre, em todo tipo de clima, vivendo de forma rude durante o dia e dormindo de forma desconfortável à noite; cuidando de sua casa, patrulhando seus limites, ficando de olho nas doninhas e furões, tramando e planejando como recuperar sua propriedade para você. Você realmente não merece ter amigos tão leais e verdadeiros, Sapo, não merece mesmo. Um dia, quando for tarde demais, você vai se arrepender por não ter valorizado mais seus amigos enquanto os tinha por perto!”
“Eu sou uma criatura ingrata, eu sei,” choramingou o Sapo, derramando lágrimas amargas. “Deixe-me sair e encontrá-los, sair na fria e escura noite, compartilhar suas dificuldades e tentar provar a vocês… Ei, espere um instante! Com certeza acabei de ouvir o tinido de pratos numa bandeja! O jantar chegou, viva! Vamos, Ratinho!”
O Rato lembrou-se de que o pobre Sapo tinha se alimentado de comida de prisão durante um bom tempo, e que grandes concessões deviam ser feitas. Ele o seguiu até a mesa, encorajando-o gentilmente em seus esforços heróicos para compensar as privações do passado.
Quando terminaram a refeição e voltaram para suas poltronas, ouviu-se uma batida pesada na porta.
O Sapo estava nervoso, mas o Rato, acenando misteriosamente para ele, foi diretamente até a porta, a abriu e lá estava o Sr. Texugo.
Ele tinha todo o aspecto de quem havia passado algumas noites longe de casa, privado de seus pequenos confortos e conveniências. Seus sapatos estavam cobertos de lama, e ele parecia muito desleixado; mas então, o Texugo nunca fora muito elegante, mesmo nos seus melhores momentos. Traversou o salão solenemente, apertou a pata do Sapo e disse: “Bem-vindo de volta, Sapo! Mas, ai! O que estou dizendo? Bem-vindo de volta ao seu lar, de fato! Que triste retorno! Pobre Sapo!” Então ele se virou, sentou-se à mesa, puxou uma cadeira e começou a se servir de uma grande fatia de torta fria.
O Sapo ficou bastante alarmado com aquele estilo sério e agourento de cumprimento; mas o Rato sussurrou-lhe: “Não se preocupe; não ligue para ele; não diga nada ainda. Ele normalmente fica muito abatido e desanimado quando está com fome. Espere meia hora, ele será um animal completamente diferente.”
Então eles esperaram em silêncio, e logo depois houve outra batida, mais leve, na porta. O Rato, com um aceno de cabeça para o Sapo, foi até a porta e conduziu para dentro o Toupeira, que estava muito mal vestido e sujo, com pedaços de palha grudados em sua pelagem.
“Hurrah! Aqui está o velho Sapo!” exclamou o Toupeira, com o rosto radiante. “Que surpresa encontrar você de volta!” E ele começou a dançar ao redor dele. “Nunca imaginamos que você apareceria tão cedo! Ora, você deve ter escapado, seu sapo esperto, engenhoso e inteligente!”
O Rato, alarmado, puxou-o pelo cotovelo; mas já era tarde. O Sapo já estava se enchendo de orgulho e inflando o peito.
“Esperto? Oh, não!” disse ele. “Eu não sou realmente esperto, de acordo com meus amigos. Apenas fugi da prisão mais forte da Inglaterra, só isso! Capturei um trem e fugi nele, isso também! E me disfarcei e andei pelo país enganando todo mundo, isso também! Não, eu sou só um pateta, um asno! Vou contar algumas das minhas pequenas aventuras, Toupeira, e você poderá julgar por si mesmo!”
“Bem, bem,” disse o Toupeira, dirigindo-se à mesa de jantar; “suponho que você possa falar enquanto eu como. Ainda não dei uma mordida desde o café da manhã! Oh céus! Oh céus!” E ele se sentou e ajudou-se fartamente com carne fria e picles.
O Sapo plantou-se de frente para a lareira, enfiou a mão no bolso da calça e tirou um punhado de moedas de prata. “Olhe para isso!” ele exclamou, exibindo-as. “Nada mal, não é, para poucos minutos de trabalho? E como você acha que consegui, Toupeira? Comércio de cavalos! Foi assim que eu consegui!”
“Continue, Sapo,” disse o Toupeira, imensamente interessado.
“Sapo, por favor, cale-se!” disse o Rato. “E você não o incentive, Toupeira, quando sabe como ele é; mas diga-nos o mais rápido possível qual é a situação e o que deve ser feito, agora que o Sapo está de volta finalmente.”
“A situação está tão ruim quanto pode ser,” respondeu o Toupeira, rabugento. “E quanto ao que deve ser feito, abençoado seja se eu souber! O Texugo e eu temos rondado o lugar por noite e dia; sempre a mesma coisa. Sentinelas em toda parte, armas apontadas para nós, pedras jogadas em nós; sempre um animal de guarda. E quando nos veem, caramba! Como eles riem! Isso é o que mais me irrita!”
“É uma situação muito difícil,” disse o Rato, refletindo profundamente.
“Mas acho que agora consigo ver, no fundo da minha mente, o que o Sapo realmente deveria fazer. Vou te contar. Ele deveria——”
“Não, ele não deveria!” gritou o Toupeira, com a boca cheia. “Nada disso! Você não entende. O que ele deveria fazer é——”
“Bem, eu não vou fazer isso, de qualquer maneira!” gritou o Sapo, ficando excitado. “Não vou ser mandado por vocês dois! Estamos falando da minha casa e eu sei exatamente o que fazer, e vou te contar. Vou——”
A essa altura, os três estavam falando ao mesmo tempo, no topo de suas vozes, e o barulho era ensurdecedor, quando uma voz fina e seca se fez ouvir, dizendo: “Calem-se todos de uma vez!” E todos ficaram instantaneamente em silêncio.
Era o Texugo, que, tendo terminado sua torta, girou em sua cadeira e os olhava severamente. Quando percebeu que havia conquistado a atenção de todos e que claramente esperavam que ele se dirigisse a eles, virou-se de volta para a mesa novamente e estendeu a mão para o queijo. E tão grande era o respeito que suas qualidades sólidas impunham a todos, que não se ouviu mais uma palavra até que ele houvesse concluído completamente sua refeição e sacudido as migalhas dos joelhos. O Sapo se agitava bastante, mas o Rato o segurava firmemente.
Quando o Texugo terminou por completo, ele se levantou de seu assento e foi até a lareira, refletindo profundamente. Finalmente, ele falou:
“Sapo!” disse ele, severamente. “Você, bicho travesso e problemático! Não tem vergonha de si mesmo? O que você acha que seu pai, meu velho amigo, diria se ele estivesse aqui hoje à noite e soubesse de todas as suas confusões?”
O Sapo, que naquele momento estava deitado no sofá, com as pernas para cima, virou-se de bruços, sacudido por soluços de contrição.
“Pronto, pronto,” continuou o Texugo, mais gentilmente. “Não se preocupe. Pare de chorar. Vamos esquecer o passado e tentar começar de novo, virar a página. Mas o que o Toupeira disse é verdade. As doninhas estão em guarda em toda parte e são os melhores sentinelas do mundo. É absolutamente inútil pensar em atacar o lugar. Eles são muito fortes para nós.”
“Então está tudo acabado,” soluçou o Sapo, chorando nas almofadas do sofá. “Vou me alistar como soldado e nunca mais verei minha querida Vila do Sapo!”
“Vamos lá, anime-se, Sapo!” disse o Texugo. “Existem mais formas de recuperar um lugar do que tomar à força. Eu ainda não disse minha última palavra. Agora vou te contar um grande segredo.”
O Sapo se sentou lentamente e enxugou os olhos. Segredos tinham uma enorme atração para ele, pois nunca conseguia guardá-los, e curtia a emoção proibida de ir contar para outro animal, depois de prometer fielmente que não diria nada.
“Existe—uma—passagem subterrânea,” disse o Texugo, de forma impressionante, “que leva da margem do rio, bem perto daqui, direto para o meio da Vila do Sapo.”
“Ah, besteira, Texugo!” disse o Sapo, num tom desdenhoso. “Você andou ouvindo algumas das histórias que contam nas tavernas por aqui. Eu conheço cada centímetro da Vila do Sapo, por dentro e por fora. Nada disso, te garanto!”
“Meu jovem amigo,” disse o Texugo, com grande severidade, “seu pai, que era um animal digno—muito mais do que alguns outros que conheço—era um amigo íntimo meu e me contou muitas coisas que jamais sonharia em contar a você. Ele descobriu essa passagem—claro, ele não a fez, isso foi feito há centenas de anos, antes que ele sequer viesse a morar lá—mas ele a reparou e limpou, porque achou que poderia ser útil um dia, em caso de problemas ou perigo; e ele me mostrou. ‘Não deixe meu filho saber sobre isso,’ ele disse. ‘Ele é um bom garoto, mas muito leve e volátil de caráter, e simplesmente não consegue guardar um segredo. Se algum dia ele estiver em uma enrascada de verdade e precisar dessa passagem, você pode contar a ele, mas não antes disso.'”
Os outros animais olharam fixamente para o Sapo, tentando perceber como ele reagiria. No começo, o Sapo ficou mal-humorado; mas logo se animou, como o bom sujeito que sempre foi.
“Bem, bem,” disse ele. “Talvez eu seja um pouco falador. Um sujeito popular como eu—meus amigos se juntam à minha volta—nós brincamos, contamos histórias engraçadas—e, de alguma forma, minha língua acaba escapando. Tenho o dom da conversação! Já me disseram que eu deveria ter um salon, o que quer que isso seja. Mas não importa. Continue, Texugo. Como essa passagem vai nos ajudar?”
“Descobri algumas coisas recentemente,” continuou o Texugo. “Fiz o Lontra se disfarçar de limpador de chaminés e ir até a porta dos fundos, com escovas no ombro, pedindo um trabalho. Vai acontecer um grande banquete amanhã à noite. É o aniversário de alguém—acho que do Chefe das Doninhas—e todos as doninhas estarão reunidos no salão de banquete, comendo, bebendo, rindo e se divertindo, sem suspeitar de nada. Sem armas, sem espadas, sem bastões, sem qualquer tipo de coisa!”
“Mas os sentinelas estarão de vigia como sempre,” observou o Rato.
“Exatamente,” disse o Texugo. “Esse é o meu ponto. As doninhas confiarão completamente em seus excelentes sentinelas. E aí entra a passagem. Esse túnel muito útil leva direto ao depósito do mordomo, ao lado da sala de jantar!”
“Aha! Aquela tábua barulhenta no depósito do mordomo!” exclamou o Sapo. “Agora eu entendo!”
“Nós vamos sair silenciosamente no depósito do mordomo—” gritou o Toupeira.
“—com nossas pistolas e espadas e bastões—” berrou o Rato.
“—e invadimos eles!” disse o Texugo.
“—e os vamos bater, bater, bater!” gritou o Sapo em êxtase, correndo ao redor da sala e pulando sobre as cadeiras.
“Muito bem, então,” disse o Texugo, retomando seu tom seco habitual, “nosso plano está definido, e não há mais nadinha para vocês discutirem ou brigarem. Então, como já está ficando tarde, todos podem ir direto para a cama. Faremos todos os arranjos necessários amanhã de manhã.”
O Sapo, claro, foi obedientemente para a cama, junto com os outros—ele sabia muito bem que seria tolice recusar—, embora estivesse excitado demais para dormir. Mas ele tinha tido um dia longo, com muitos acontecimentos apinhados nele; e lençóis e cobertores eram coisas muito amigáveis e reconfortantes, depois da palha comum, e não muita, espalhada no chão de pedra de uma cela fria; e sua cabeça não ficou muitos segundos no travesseiro antes que ele felizmente estivesse roncando. Naturalmente, ele sonhou muito; com estradas que fugiam dele quando ele queria segui-las, com canais que o perseguiam e o pegavam, com uma barcaça entrando no salão de banquete com a sua roupa semanal, exatamente quando ele estava oferecendo um jantar; e ele estava sozinho na passagem secreta, avançando, mas ela se torcia e se virava, e se sacudia, e ficava em pé; ainda assim, de alguma forma, no final, ele se encontrava novamente na Vila do Sapo, seguro e triunfante, com todos os seus amigos ao seu redor, assegurando-lhe sinceramente que ele era realmente um sapo esperto.
Ele dormiu até tarde na manhã seguinte, e, quando desceu, descobriu que os outros animais já haviam terminado o café da manhã há algum tempo. O Toupeira tinha saído de repente, sem dizer a ninguém aonde ia. O Texugo estava sentado na poltrona, lendo o jornal e não se preocupando minimamente com o que aconteceria naquela noite. O Rato, por outro lado, estava correndo pela sala freneticamente, com os braços cheios de armas de todos os tipos, distribuindo-as em quatro pilhas organizadas no chão, murmurando animadamente para si mesmo enquanto corria: “Aqui vai uma espada para o Rato, aqui vai uma espada para o Toupeira, aqui vai uma espada para o Sapo, aqui vai uma espada para o Texugo! Aqui vai uma pistola para o Rato, aqui vai uma pistola para o Toupeira, aqui vai uma pistola para o Sapo, aqui vai uma pistola para o Texugo!” E assim por diante, de forma regular e rítmica, enquanto as quatro pilhas cresciam e cresciam.
“Isso é muito bom, Rato,” disse o Texugo, dali a pouco, olhando o pequeno animal agitado por sobre a borda do jornal; “não estou te culpando. Mas, assim que superarmos as doninhas, com essas armas horríveis, te garanto que não vamos precisar de espadas ou pistolas. Nós quatro, com nossos bastões, uma vez dentro da sala de jantar, conseguiremos limpar o chão de todos aqueles sujeitos em cinco minutos. Eu poderia ter feito tudo sozinho, mas não quis tirar de vocês a diversão!”
“É melhor jogar pelo seguro,” disse o Rato, reflexivo, polindo o cano de uma pistola na manga e olhando ao longo dele.
O Sapo, tendo terminado o café da manhã, pegou um bastão forte e o balançou vigorosamente, espancando animais imaginários. “Vou ensiná-los a roubar minha casa!” gritou ele. “Vou aprender eles, vou aprender eles!”
“Não diga ‘aprender eles’, Sapo,” disse o Rato, muito chocado. “Isso não é bom inglês.”
“O que você está sempre reclamando do Sapo, hein?” inquiriu o Texugo, um tanto irritado. “Qual é o problema com o inglês dele? É o mesmo que eu uso, e se é bom para mim, deveria ser bom para você!”
“Desculpe,” disse o Rato, humilde. “Só acho que deveria ser ‘ensinar eles’, não ‘aprender eles’.”
“Mas não queremos ensiná-los,” retrucou o Texugo. “Queremos aprender eles—aprender eles, aprender eles! E mais, vamos fazer isso também!”
“Ah, muito bem, faça do seu jeito,” murmurou o Rato. Ele já estava um pouco confuso sobre o assunto, e logo se retirou para um canto, onde pôde ser ouvido murmurando: “Aprender eles, ensinar eles, ensinar eles, aprender eles!” Até que o Texugo lhe disse um tanto rudemente que parasse.
Logo o Toupeira voltou à sala, evidentemente muito satisfeito consigo mesmo. “Eu tive tanta diversão!” ele começou a dizer imediatamente. “Estive provocando as doninhas!”
“Espero que você tenha sido muito cuidadoso, Toupeira?” disse o Rato, ansioso.
“Eu também espero!” afirmou o Toupeira com confiança. “A ideia me ocorreu quando fui até a cozinha para ver se o café da manhã do Sapo estava sendo mantido quente para ele. Eu encontrei aquele velho vestido de lavadeira em que ele voltou ontem, pendurado para secar perto do fogo. Então, vesti-o e coloquei o chapéu e o xale também, e saí direto para a Vila do Sapo, o mais ousado possível. Claro, os sentinelas estavam alertas, com suas armas e o ‘Quem vem lá?’ e todo o resto de suas bobagens. ‘Bom dia, senhores!’ disse eu, muito respeitoso. ‘Algum serviço de lavagem para hoje?'”
“Eles me olharam muito orgulhosos e rígidos, e disseram: ‘Vá embora, lavadeira! Não fazemos lavagem enquanto estamos de serviço.’ ‘Nem em qualquer outro momento?’ repliquei eu. Ho ho ho! Fui ou não fui engraçado, Sapo?”
“Pobre animal leviano!” disse o Sapo com ar enfatuado. A verdade é que ele se sentia extremamente enciumado pelo que o Toupeira havia feito. Era exatamente o tipo de coisa que ele gostaria de ter feito, se tivesse pensado nisso antes, em vez de dormir demais.
“Algumas das doninhas ficaram vermelhas,” continuou o Toupeira, “e o sargento, que estava no comando, falou comigo de forma bastante curta: ‘Agora saia daqui, minha boa mulher, saia! Não fique perturbando meus homens enquanto estão de vigília.’ ‘Sair daqui?’ eu disse; ‘Esperem e vocês vão ver quem vai sair daqui muito em breve!'”
“Oh, Toupeira, como você pôde?” lamentou o Rato, incrédulo.
O Texugo abaixou seu jornal.
“Eu conseguia ver eles ficando nervosos, se entreolhando,” prosseguiu o Toupeira, “e o sargento disse a eles: ‘Não liguem para ela; ela não sabe o que está falando.’”
“’Ah! Não sei, é?’ disse eu. ‘Bem, deixe-me te contar isso: minha filha trabalha como lavadeira para o Sr. Texugo, se é que isso te diz algo! E você saberá muito bem em breve! Cem Texugos sanguinários, armados com rifles, vão atacar a Vila do Sapo esta noite, pelo paddock. Seis barcos de Ratos, com pistolas e espadas, virão pelo rio e desembarcarão no jardim; enquanto um destacamento selecionado de Sapos, conhecidos como Desesperados, ou Sapos da Glória ou Morte, vão invadir o pomar e esmagar qualquer resistência, gritando por vingança. Não restará muito de vocês para lavar, quando terminarmos com vocês, a menos que saiam enquanto têm chance!’ Então eu corri para longe, e quando estava fora da vista, me escondi; e logo depois eu me esgueirei de volta pelo fosso e espreitei por trás da cerca viva. Eles estavam todos completamente nervosos e agitados, correndo para todos os lados ao mesmo tempo, se atropelando, e cada um dando ordens aos outros sem ninguém ouvir; e o sargento continuava enviando grupos de doninhas para partes distantes dos terrenos, e depois mandava outros para buscá-los de volta; e eu ouvi eles dizendo uns aos outros, ‘Isso é típico das doninhas; eles vão ficar confortáveis no salão de banquetes, se entupindo de comida e brindando com canções e toda sorte de diversão, enquanto nós devemos ficar de guarda no frio e no escuro, e, no fim, vamos ser retalhados em pedaços por Texugos sanguinários!'”
“Ah, seu bobo, Toupeira!” gritou o Sapo. “Você estragou tudo!”
“Toupeira,” disse o Texugo, em um tom quieto e sério, “eu percebo que você tem mais senso em seu dedinho do que alguns outros animais têm em seus corpos inteiros. Você fez um excelente trabalho, e começo a ter grandes esperanças em você. Bom vizinho! Inteligente vizinho!”
O Sapo ficou simplesmente furioso de ciúmes, ainda mais por ser incapaz de entender o motivo pelo qual o Toupeira havia feito algo tão inteligente; mas, felizmente para ele, antes que pudesse demonstrar seu descontentamento ou se expor ao sarcasmo do Texugo, o sino tocou para o almoço.
Foi uma refeição simples, mas substancial—bacon com feijões largos e um pudim de macarrão; e quando eles terminaram, o Texugo se acomodou em uma poltrona e disse: “Bem, temos trabalho a fazer esta noite e provavelmente vai demorar bastante até terminarmos tudo; então, vou tirar uma soneca enquanto posso.” E ele cobriu o rosto com um lenço e logo estava roncando.
O Rato, sempre diligente, imediatamente retomou seus preparativos, correndo entre suas quatro pilhas de equipamento, murmurando: “Aqui está um cinto para o Rato, aqui está um cinto para o Toupeira, aqui está um cinto para o Sapo, e aqui está um cinto para o Texugo!” E assim por diante, com toda nova peça de equipamento que ele pegava, enquanto as pilhas cresciam infinitamente; então, o Toupeira passou o braço ao redor do Sapo, conduziu-o para fora da casa e o empurrou para uma cadeira de vime, insistindo para que o Sapo contasse-lhe todas as suas aventuras do começo ao fim. O Sapo, é claro, estava mais do que disposto a ir em frente. O Toupeira era um bom ouvinte, e o Sapo, sem a interrupção ou crítica de amigos exigentes, deixou-se levar. Na verdade, muito do que ele relatou se enquadrava mais na categoria de “o que poderia ter acontecido se eu tivesse pensado nisso na hora certa, em vez de dez minutos depois.” Essas são sempre as aventuras mais emocionantes e vibrantes; e por que não deveriam ser tão autênticas quanto os eventos que realmente ocorreram, mesmo que de forma inadequada?
Capítulo 12: O Retorno de Ulisses
À medida que anoitecia, o Rato, com um ar de excitação e mistério, chamou-os de volta para a sala de estar, colocou cada um ao lado de sua pequena pilha e começou a vesti-los para a expedição que estava por vir. Ele levava a coisa muito a sério e era minucioso, e a preparação demorou bastante. Primeiro, havia um cinto para colocar em volta de cada animal, depois uma espada a ser inserida no cinto e um cutelo do outro lado para equilibrar. Em seguida, um par de pistolas, um cassetete de policial, vários pares de algemas, ataduras, esparadrapo, um cantil e uma lancheirinha. O Texugo riu de bom grado e disse: “Tudo bem, Ratinho! Isso te diverte e não me machuca. Vou fazer o que tenho que fazer com este bastão aqui.” Mas o Rato apenas respondeu: “Por favor, Texugo. Você sabe que eu não gostaria que depois você me culpasse, dizendo que esqueci alguma coisa!”
Quando tudo estava pronto, o Texugo pegou uma lanterna de mão em uma pata, segurou seu grande bastão com a outra e disse: “Agora, me sigam! Toupeira primeiro, porque estou muito satisfeito com ele; depois o Rato; o Sapo por último. E olhe aqui, Sapinho! Não fale tanto como de costume, ou será mandado de volta, com toda certeza, viu!”
O Sapo estava tão ansioso para não ser deixado para trás que aceitou a posição inferior que lhe foi atribuída sem murmurar, e os animais partiram. O Texugo os guiou ao longo do rio por um pequeno trecho e, então, subitamente jogou-se pela borda em um buraco na margem do rio, um pouco acima da água. A Toupeira e o Rato o seguiram em silêncio, se lançando no buraco da mesma forma que tinham visto o Texugo fazer; mas quando chegou a vez do Sapo, claro que ele conseguiu escorregar e cair na água com um grande estrondo e um grito de alarme. Ele foi puxado para fora por seus amigos, esfregado, torcido apressadamente, consolado e posto de pé; mas o Texugo ficou seriamente irritado e disse a ele que, se fizesse papel de bobo mais uma vez, sem dúvida seria deixado para trás.
Finalmente, estavam no túnel secreto e a expedição de resgate realmente tinha começado!
Era frio, escuro, úmido, estreito e baixo, e o pobre Sapo começou a tremer, em parte por medo do que o aguardava, em parte por estar completamente molhado. A lanterna estava longe à frente, e ele não conseguia evitar ficar um pouco para trás na escuridão. Foi então que ele ouviu o Rato chamá-lo, avisando: “Vamos, Sapo!”, e um terror o tomou diante da possibilidade de ser deixado para trás, sozinho na escuridão, e ele avançou com tal pressa que derrubou o Rato em cima da Toupeira, e a Toupeira em cima do Texugo, causando momentânea confusão. O Texugo achou que estavam sendo atacados por trás e, como não havia espaço para usar o bastão ou o cutelo, sacou uma pistola, pronto para dar um tiro no Sapo. Quando percebeu o que realmente havia acontecido, ficou muito irritado e disse: “Desta vez, esse Sapo irritante será deixado para trás!”
Mas o Sapo choramingou, e os outros dois prometeram que garantiriam o bom comportamento dele, e finalmente o Texugo se acalmou, e o grupo seguiu em frente; só que desta vez o Rato ficou na retaguarda, com uma firme mão no ombro do Sapo.
Eles rastejaram e se arrastaram, com os ouvidos atentos e as patas nas pistolas, até que finalmente o Texugo disse: “Agora devemos estar quase embaixo da Mansão.”
De repente, eles ouviram, bem longe, embora parecesse que o som vinha quase de cima de suas cabeças, um murmúrio confuso, como se alguém estivesse gritando, saudando e batendo no chão e nas mesas. Os medos nervosos do Sapo voltaram todos de uma vez, mas o Texugo apenas comentou com calma: “Eles estão se divertindo, esses Furões!”
O túnel começou a inclinar para cima; eles continuaram adiante um pouco mais, e então o barulho irrompeu novamente, desta vez bem mais claro e muito próximo deles. “Viva! Viva! Viva!” eles ouviram, junto com o som de pezinhos correndo no chão e o tilintar de copos conforme punhos batiam na mesa. “Estão se divertindo mesmo!” disse o Texugo. “Vamos!” Eles apressaram o passo pelo túnel até ele parar diante de uma escotilha que dava na despensa do mordomo.
O barulho na sala de banquete era tão ensurdecedor que não havia muito risco de serem ouvidos. O Texugo disse: “Agora, rapazes, todos juntos!” E os quatro empurraram com força a escotilha e a abriram. Ajudando uns aos outros a subir, encontraram-se na despensa, com apenas uma porta entre eles e o salão de banquete, onde seus inimigos, que nada desconfiavam, estavam festejando.
O barulho enquanto emergiam do túnel era simplesmente ensurdecedor. Por fim, à medida que os aplausos e as batidas diminuíram lentamente, uma voz podia ser ouvida dizendo: “Bem, não pretendo detê-los por muito mais tempo”—(grandes aplausos)—“mas antes de retomar meu lugar”—(novos aplausos)—“gostaria de dizer uma palavra sobre nosso gentil anfitrião, Sr. Sapo. Todos nós conhecemos o Sapo!”—(grandes risadas)—“O bom Sapo, o modesto Sapo, o honesto Sapo!” (gargalhadas de alegria).
“Deixem-me chegar bem perto dele!” resmungou o Sapo, rangendo os dentes.
“Calma aí um minuto!” disse o Texugo, segurando-o com dificuldade. “Preparem-se, todos vocês!”
“—Deixem-me cantar uma pequena canção,” continuou a voz, “que compus sobre o Sapo”—(prolongados aplausos).
Então o Chefe dos Furões—pois era ele—começou em uma voz aguda e estridente—
“O Sapo saiu para se divertir
Alegremente pela rua—”
O Texugo se ergueu, segurou firmemente seu bastão com ambas as patas, olhou ao redor para os camaradas e gritou—
“A hora chegou! Sigam-me!”
E escancarou a porta.
Nossa!
Que agitação de guinchos e berros encheu o ar!
Era de espantar que os furões aterrorizados se jogassem sob as mesas e corressem freneticamente em direção às janelas! Era de esperar que as doninhas corressem em direção à lareira e ficassem presas na chaminé! Era de se prever que mesas e cadeiras fossem derrubadas e copos e pratos caíssem no chão, em pânico absoluto, quando os quatro Heróis entraram imponentemente na sala! O poderoso Texugo, com os bigodes eriçados, seu enorme bastão zumbindo no ar; a Toupeira, sombria e feroz, brandindo seu bastão e gritando seu terrível grito de guerra, “Uma Toupeira! Uma Toupeira!”; o Rato, desesperado e determinado, com seu cinto cheio de armas de todas as épocas e variedades; o Sapo, enlouquecido de excitação e orgulho ferido, inchado até o dobro do tamanho normal, saltando no ar e soltando gritos de guerra de Sapo que os arrepiavam até os ossos! “O Sapo saiu para se divertir!” ele berrava. “Vou me divertir com eles!”, e foi direto para o Chefe dos Furões. Eram apenas quatro no total, mas para os furões apavorados a sala parecia cheia de animais monstruosos, cinzentos, negros, marrons e amarelos, gritando e brandindo enormes bastões; e eles romperam em fuga com guinchos de terror e desespero, pelas janelas, pela chaminé, qualquer lugar para sair do alcance daqueles terríveis bastões!
A batalha acabou rapidamente. Por todo o salão, de ponta a ponta, os quatro Amigos marcharam, golpeando com seus bastões qualquer cabeça que aparecesse; e em cinco minutos a sala estava limpa. Pelas janelas quebradas, os gritos dos furões aterrorizados escapando pelo gramado chegavam fracamente aos seus ouvidos; no chão, jaziam prostrados uma dúzia ou mais de inimigos, e a Toupeira estava ocupada algemando cada um deles. O Texugo, descansando de suas labutas, apoiou-se em seu bastão e limpou suor de sua testa honesta.
“Toupeira,” disse ele, “você é o melhor dos camaradas! Apenas dê uma olhada lá fora e veja o que seus sentinelas, as doninhas, estão fazendo. Tenho a impressão de que, graças a você, não teremos muito mais trabalho com eles esta noite!”
A Toupeira desapareceu prontamente por uma janela; e o Texugo pediu aos outros dois que colocassem uma mesa nos eixos novamente, pegassem facas, garfos, pratos e copos dos escombros no chão, e vissem se conseguiam encontrar algo para o jantar. “Estou precisando de comida,” disse ele, em seu jeito meio rude de falar. “Andem logo, Sapo, e mexam-se! Nós recuperamos sua casa, e você não nos oferece nem um sanduíche.” O Sapo ficou um pouco magoado pelo Texugo não ter dito coisas agradáveis a ele, como tinha dito à Toupeira, e não ter lhe dito como ele era um camarada formidável e como tinha lutado esplendidamente; pois ele estava particularmente satisfeito consigo mesmo e com o modo como foi em direção ao Chefe dos Furões e o jogou para o outro lado da mesa com um único golpe de bastão. Mas ele se apressou em ajudar, assim como o Rato, e logo encontraram geleia de goiaba em uma travessa de vidro, um frango frio, uma língua que mal havia sido tocada, um pudim, e uma grande salada de lagosta; e na despensa encontraram uma cesta cheia de pãezinhos franceses e uma quantidade considerável de queijos, manteiga e aipo. Eles estavam prestes a se sentar quando a Toupeira voltou para dentro pela janela, rindo, com um braço cheio de rifles.
“Está tudo acabado,” ele relatou. “Pelo que consegui entender, assim que as doninhas, que já estavam muito nervosas e inquietas, ouviram os gritos e a algazarra dentro do salão, algumas jogaram seus rifles no chão e fugiram. As outras resistiram um pouco, mas quando os furões saíram correndo em direção a elas, pensaram que tinham sido traídas; e as doninhas agarraram os furões, e os furões lutaram para escapar, e lutaram e se debateram e se socaram, e rolaram e rolaram, até que a maioria acabou caindo no rio! Todos desapareceram agora, de uma forma ou de outra; e eu fico com os rifles. Então está tudo certo!”
“Excelente e merecido camarada!” disse o Texugo, com a boca cheia de frango e pudim. “Agora, há mais uma coisa que quero que você faça, Toupeira, antes de você se sentar para o jantar com a gente; e eu não te incomodaria com isso se não soubesse que posso confiar em você para fazer direito, e queria poder dizer o mesmo de todos que conheço. Eu mandaria o Rato, se ele não fosse poeta. Quero que você leve aqueles camaradas ali no chão para os aposentos de cima com você, e arrume alguns quartos bem limpos e confortáveis. Certifique-se de que varram debaixo das camas, coloquem lençóis e fronha novos, e dobrem um canto dos cobertores, do jeito que você sabe que deve ser feito; e deixe uma lata de água quente, toalhas limpas e sabonetes novos em cada quarto. E então você pode dar uma surra em cada um, se te der prazer, e mande-os sair pela porta dos fundos, e aposto que não veremos mais nenhum deles por aqui!”
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A boa Toupeira pegou um bastão, formou os prisioneiros em fila no chão, ordenou “Marcha rápido!” e conduziu o grupo para o andar superior. Depois de um tempo, apareceu novamente, sorrindo, e disse que cada quarto estava pronto e tão limpo quanto novo. “E nem precisei bater neles,” acrescentou. “Pensei, no geral, que eles já tinham apanhado o suficiente por uma noite, e os furões, quando mencionei isso a eles, concordaram totalmente comigo, e disseram que nem sonhariam em me causar problemas. Eles estavam muito arrependidos, e disseram que estavam extremamente arrependidos pelo que haviam feito, mas que a culpa era toda do Chefe dos Furões e das doninhas, e que, se um dia pudessem fazer algo por nós, bastaria pedir. Então, dei a cada um deles um pãozinho e os mandei sair pelas portas dos fundos, e eles correram o mais rápido que puderam!”
Então a Toupeira puxou a cadeira para a mesa e começou a comer a língua fria; e o Sapo, como o cavalheiro que era, deixou de lado seu ciúme e disse sinceramente: “Muito obrigado, querida Toupeira, por todo o esforço e trabalho desta noite, e especialmente pela sua esperteza esta manhã!” O Texugo ficou satisfeito com isso e disse: “Esse é o meu bravo Sapo!” Então eles terminaram o jantar com grande alegria e contentamento, e logo se recolheram para descansar entre lençóis limpos, seguros na casa ancestral do Sapo, reconquistada graças a bravura incomparável, estratégia consumada e uma boa utilização dos bastões.
Na manhã seguinte, o Sapo, que dormiu demais, como de costume, desceu para o café da manhã vergonhosamente tarde, e encontrou na mesa apenas algumas cascas de ovo, fragmentos de torradas frias e duras, uma cafeteira três quartos vazia e muito pouco mais; o que não melhorou seu humor, considerando que, afinal de contas, era sua própria casa. Pelas janelas francesas da sala de café da manhã, ele podia ver a Toupeira e o Rato do Rio sentados em cadeiras de vime no gramado, contando histórias entre si, gargalhando e chutando as pernas curtas para o ar. O Texugo, que estava em uma poltrona mergulhado no jornal da manhã, apenas olhou e acenou com a cabeça quando o Sapo entrou na sala. Mas o Sapo sabia com quem estava lidando, então sentou-se e fez o melhor café da manhã que pôde, observando consigo mesmo que um dia se vingaria dos outros. Quando estava quase terminando, o Texugo levantou os olhos e comentou, um tanto bruscamente: “Sinto muito, Sapo, mas temo que você tenha um trabalho pesado pela frente esta manhã. Veja bem, deveríamos realizar um Banquete imediatamente, para comemorarmos este acontecimento. É o que se espera de você—na verdade, é a regra.”
“Ah, tudo bem!” disse o Sapo prontamente. “Qualquer coisa para agradá-los. Embora por que diabos vocês queiram um Banquete pela manhã, eu não consigo entender. Mas você sabe que eu não vivo para agradar a mim mesmo, apenas para descobrir o que meus amigos querem e depois tentar providenciar para eles, meu querido e velho Texugo!”
“Não finja ser mais estúpido do que realmente é,” respondeu o Texugo, mal-humorado; “e não ria e espirre no café enquanto fala; isso não é maneira de se portar. O que quero dizer é que o Banquete será à noite, obviamente, mas os convites terão que ser escritos e enviados de imediato, e você vai escrevê-los. Agora, sente-se nessa mesa—tem pilhas de papel de carta nela, com ‘Mansão do Sapo’ no topo, em azul e dourado—e escreva os convites para todos os nossos amigos, e se você se dedicar, conseguiremos enviar tudo antes do almoço. E eu também vou ajudar, e assumir minha parte do fardo. Eu vou encomendar o Banquete.”
“O quê!” gritou o Sapo, com horror. “Eu, ficar dentro de casa e escrever um monte de cartas chatas em uma bela manhã como esta, quando quero andar pela minha propriedade, ajeitar tudo e todos, e ostentar e me divertir! De jeito nenhum! Eu vou… eu vou ver você…” Ele parou um minuto, então mudou bruscamente: “Mas claro, querido Texugo! Qual é o meu prazer ou conveniência em comparação com o dos outros! Você deseja que seja feito, e será feito. Vá, Texugo, encomende o Banquete, peça o que quiser; depois se junte aos nossos jovens amigos lá fora, desfrutando de inocentes risadas, sem se preocupar comigo e com minhas tarefas e tribulações. Eu sacrifico esta bela manhã no altar do dever e da amizade!”
O Texugo olhou para ele de maneira muito suspeita, mas a expressão franca e aberta do Sapo tornou difícil sugerir qualquer motivo indigno para essa mudança de atitude. Ele saiu da sala em direção à cozinha, e assim que a porta se fechou atrás dele, o Sapo correu para a escrivaninha. Uma ideia brilhante ocorreu a ele enquanto falava. Ele escreveria os convites; e tomaria o cuidado de mencionar o papel de destaque que desempenhou na batalha, e como derrubou o Chefe dos Furões; e ele insinuaria suas aventuras, e quão triunfante foi sua trajetória de conquistas; e na folha de rosto, ele elaboraria um tipo de programação de entretenimento noturno—algo dessa forma, conforme rabiscava mentalmente:
DISCURSO. . . . PELO SAPO.
(Haverá outros discursos PELO SAPO ao longo da noite.)
PALESTRA. . . PELO SAPO
SINOPSE—Nosso Sistema Prisional—Os Canais da Velha Inglaterra—Comércio de Cavalos, e Como se Lida—Propriedade, seus direitos e deveres—Volta à Terra—Um Típico Esquire Inglês.
CANÇÃO. . . . PELO SAPO.
(Composta por ele mesmo.)
OUTRAS COMPOSIÇÕES. PELO SAPO
Serão cantadas ao longo da noite pelo. . . COMPOSITOR.
A ideia o agradou enormemente, e ele trabalhou com afinco e terminou todas as cartas até o meio-dia, quando foi informado de que havia uma pequena e muito molhada doninha à porta, perguntando timidamente se poderia prestar algum serviço aos cavalheiros. O Sapo saiu arrotando importância e descobriu que era um dos prisioneiros da noite anterior, muito respeitoso e ansioso por agradar. Ele deu-lhe um tapinha na cabeça, enfiou o pacote de convites na pata dele e disse-lhe para correr rápido e entregá-los o mais rápido possível; e, se gostasse de voltar à noite, talvez houvesse uma moeda para ele, ou, quem sabe, talvez não; e o pobre doninha parecia realmente muito grato, e apressou-se ansiosamente a cumprir sua missão.
Quando os outros animais voltaram para o almoço, muito barulhentos e alegres após uma manhã no rio, a Toupeira, cuja consciência estava pesando, olhou com dúvida para o Sapo, esperando vê-lo mal-humorado ou deprimido. Em vez disso, ele estava tão convencido de si mesmo e inflado que a Toupeira começou a suspeitar de algo; enquanto o Rato e o Texugo trocavam olhares significativos.
Assim que a refeição terminou, o Sapo enfiou as patas fundo nos bolsos das calças, comentou casualmente: “Bem, cuidem de si mesmos, pessoal! Peçam o que quiserem!” e estava prestes a sair em direção ao jardim, onde queria pensar em algumas ideias para seus próximos discursos, quando o Rato o agarrou pelo braço.
O Sapo meio que suspeitava o que ele queria, e fez o possível para se desvencilhar; mas quando o Texugo o segurou firmemente pelo outro braço, ele começou a perceber que o jogo havia acabado. Os dois animais o conduziram entre eles para uma pequena sala de fumantes que se abria para o corredor de entrada, fecharam a porta e o colocaram em uma cadeira. Então ambos ficaram na frente dele, enquanto o Sapo permaneceu em silêncio e os encarou com muita suspeita e mal-humor.
“Agora, veja bem, Sapo,” disse o Rato. “É sobre este Banquete, e sinto muito ter que falar com você assim. Mas queremos que você entenda claramente, de uma vez por todas, que não haverá discursos nem canções. Tente entender que, desta vez, não estamos discutindo com você; estamos apenas informando.”
O Sapo percebeu que estava encurralado. Eles o compreenderam, viram através dele, estavam adiantados demais para ele. Seu sonho agradável foi destruído.
“Eu não posso ao menos cantar uma única pequena canção?” ele implorou penosamente.
“Não, nem uma única canção,” respondeu firmemente o Rato, embora seu coração sangrasse ao notar o lábio tremendo do pobre Sapo desapontado. “Não adianta, Sapinho; você sabe bem que suas canções são todas convencimento e vanglória; e seus discursos são todos autoelogio e… e… bem, e grossa exageração e… e…”
“E conversa fiada,” acrescentou o Texugo, de sua maneira rude.
“É para o seu próprio bem, Sapinho,” continuou o Rato. “Você sabe que precisa mudar de postura mais cedo ou mais tarde, e agora parece uma oportunidade excelente para começar; um tipo de ponto de virada na sua carreira. Por favor, não pense que dizer tudo isso não me dói mais do que dói em você.”
O Sapo ficou muito tempo imerso em pensamentos. Por fim, ele levantou a cabeça e os traços de forte emoção eram visíveis em seu rosto. “Vocês venceram, meus amigos,” disse com a voz entrecortada de emoção. “Era só uma coisinha que eu pedia—simplesmente a chance de florescer e me expandir por mais uma noite, me soltar e ouvir a tumultuosa ovação que sempre, de algum jeito, parece trazer à tona minhas melhores qualidades. No entanto, vocês estão certos, eu sei, e eu estou errado. Daqui em diante, serei um Sapo muito diferente. Meus amigos, vocês nunca mais terão motivo para se envergonhar de mim. Mas, oh céus, que mundo cruel é este!”
E, pressionando o lenço contra o rosto, ele saiu da sala, com passos vacilantes.
“Texugo,” disse o Rato, “Eu me sinto como um bruto; eu me pergunto como você se sente.”
“Oh, eu sei, eu sei,” disse o Texugo, melancólico. “Mas as coisas precisavam ser ditas. Esse bom rapaz tem que viver aqui, ser respeitado e defender sua posição. Você o deixaria se tornar motivo de chacota, zombado por doninhas e furões?”
“Claro que não,” disse o Rato. “E, falando em furões, foi sorte termos encontrado aquela pequena doninha, justo quando ele estava saindo para entregar os convites do Sapo. Suspeitei de algo pelo que você me contou e olhei em alguns; eram simplesmente vergonhosos. Confisquei todos, e o bom Toupeira está agora no boudoir azul, preenchendo cartões de convite simples e diretos.”
A hora do banquete finalmente começou a se aproximar, e o Sapo, que ao sair dos outros se retirou para seu quarto, ainda estava sentado lá, melancólico e pensativo. Com a testa apoiada na pata, ponderou por muito tempo e profundamente. Gradualmente seu rosto foi se iluminando e ele começou a sorrir, devagar e demoradamente. Então, ele começou a rir timidamente, de maneira autossuficiente. Por fim, levantou-se, trancou a porta, puxou as cortinas sobre as janelas, organizou todas as cadeiras do quarto formando um semicírculo e se postou diante delas, inchando visivelmente. Então fez uma reverência, tossiu duas vezes, e, soltando a voz, cantou para o público encantado que sua imaginação tanto podia ver.
A ÚLTIMA CANÇÃO DO SAPO!
O Sapo—voltou!
Havia pânico nas salas e gritos nos corredores,
Havia choros nos currais e gritos nas cocheiras,
Quando o Sapo—voltou!
Quando o Sapo—voltou!
Janelas quebrando, portas arrebentando,
Doninhas desfalecendo e no chão rolando,
Quando o Sapo—voltou!
Bang! vão os tambores!
Os trombeteiros saudando e os soldados acenando,
Os canhões disparando e os carros buzinando,
Enquanto o—Herói—chega!
Gritem — Viva!
E que cada um grite muito alto,
Em honra do animal que você tanto respeita,
Pois hoje é o—grande—dia do Sapo!
Ele cantou isso bem alto, com grande devoção e expressão; e quando terminou, cantou tudo de novo.
Então ele soltou um longo, longo suspiro.
Depois, ele molhou a escova de cabelo no jarro d’água, repartiu o cabelo ao meio e penteou para baixo, bem liso, de cada lado do rosto; e, destrancando a porta, desceu as escadas em silêncio para saudar os convidados, que sabia que já deviam estar se reunindo na sala de visitas.
Quando entrou, todos os animais o aplaudiram e se agruparam ao redor para parabenizá-lo e dizer coisas agradáveis sobre sua coragem, sua inteligência e suas qualidades como lutador; mas o Sapo apenas sorria levemente e murmurava: “De jeito nenhum!” Ou, às vezes, para variar, “Pelo contrário!” A Lontra, que estava em pé sobre o tapete da lareira, descrevendo a um círculo de amigos admirados exatamente como teria lidado com as coisas se estivesse lá, avançou com um grito, jogou o braço em volta do pescoço do Sapo, e tentou levá-lo pela sala em uma procissão triunfal; mas o Sapo, de maneira gentil, foi um tanto ríspido com ele, observando calmamente, enquanto se soltava, “A mente-mestre foi o Texugo; a Toupeira e o Rato do Rio arcaram com o peso da luta; eu apenas servi nas fileiras e fiz pouco ou quase nada.” Os animais claramente ficaram perplexos e surpresos com essa atitude inesperada dele; e o Sapo sentiu, conforme passava de um convidado a outro, fazendo respostas modestas, que era o centro de atenção de todos.
O Texugo havia encomendado apenas o melhor, e o banquete foi um grande sucesso. Houve muita conversa e risadas entre os animais, mas, no meio de tudo isso, o Sapo, que, é claro, estava à cabeceira da mesa, ficava cabisbaixo, murmurando amenidades aos animais ao seu lado. De vez em quando ele dava uma olhada no Texugo e no Rato, e sempre que olhava, eles estavam boquiabertos, se encarando; e isso o satisfazia profundamente. Alguns dos animais mais jovens e mais animados, à medida que a noite avança, começaram a cochichar entre si que as coisas não estavam tão divertidas quanto costumavam ser nos bons velhos tempos; e houve algumas batidas na mesa e gritos de “Sapo! Discurso! Discurso do Sapo! Canção! A Canção do Sr. Sapo!” Mas o Sapo apenas balançava a cabeça gentilmente, levantava uma pata em protesto suave e, oferecendo iguarias aos convidados, trocando amenidades da moda e fazendo perguntas atenciosas sobre os familiares de cada um, principalmente os pequenos que ainda não podiam comparecer a eventos sociais, conseguia transmitir a todos que aquele jantar estava acontecendo de acordo com convenções estritas.
De fato, ele era um Sapo mudado!
Depois deste grand finale, os quatro animais passaram a viver suas vidas, tão abruptamente interrompidas pela guerra civil, com grande alegria e contentamento, sem mais distúrbios ou invasões. O Sapo, após confabular com seus amigos, escolheu uma bela corrente de ouro e um medalhão adornado com pérolas, que despachou para a filha do carcereiro com uma carta que até o Texugo admitiu ser modesta, agradecida e apreciativa; e o maquinista, por sua vez, foi devidamente agradecido e recompensado por todo o seu esforço e trabalho. Sob severa pressão do Texugo, até a barqueira foi, com certa dificuldade, encontrada e o valor de seu cavalo prudentemente ressarcido; embora o Sapo tenha protestado terrivelmente, achando que era um agente do Destino, enviado para punir mulheres gordas de braços manchados, que não reconheciam um autêntico cavalheiro quando viam um. O valor, de fato, não era muito pesado, já que a avaliação dos ciganos foi admitida por avaliadores locais como aproximadamente correta.
Às vezes, durante longas noites de verão, os amigos saíam passeando juntos pelo Bosque Selvagem, agora devidamente domado no que dizia respeito a eles; e era agradável ver como eram respeitosamente cumprimentados pelos habitantes, e como as furonas mães traziam seus filhotes até as bocas das tocas e diziam, apontando: “Olhe, querido! Lá vai o grande Sr. Sapo! E aquele é o valente Rato do Rio, um terrível lutador, caminhando ao lado dele! E ali vem o famoso Sr. Toupeira, de quem você ouve seu pai contar tantas vezes!” Mas quando os bebês ficavam inquietos e fora de controle, elas os acalmavam dizendo: “Se não ficar quietinho, o terrível Texugo cinza vai pegar você!” Isso era uma calúnia desonesta contra o Texugo, que, embora não fosse muito sociável, gostava bastante de crianças; mas sempre surtia efeito pleno.